São Paulo, quinta-feira, 01 de abril de 2004

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Carências fazem maioria querer deixar São Paulo

A chamada zona sul 3 reúne distritos onde os homicídios superam em mais de 1.400% as estatísticas da zona oeste, por exemplo, em que viver é considerado menos perigoso. Moradores também enfrentam precários serviços de saúde e escassez na oferta de empregos



DA REPORTAGEM LOCAL

"Bairro-dormitório". Para a auxiliar de enfermagem e moradora do Jardim Macedônia -no distrito Campo Limpo- Ana Maria de Carvalho, 56, essa é a definição do local onde mora desde 1971.
"Não há indústrias nas proximidades e falta serviço para os que vivem na área", afirma ela, que trabalha no Hospital das Clínicas, bem longe do local onde mora.
Os dados da pesquisa do Datafolha comprovam sua afirmação: dos entrevistados na região denominada sul 3 -que engloba os distritos de Campo Limpo, Capão Redondo, Cidade Dutra, Grajaú, Jardim Ângela, Jardim São Luís, Marsilac e Parelheiros-, 23% estão desempregados. E os que conseguem emprego têm baixa renda.
Segundo os entrevistados pela pesquisa, 37% são das classes D e E e 80% têm renda de até cinco salários mínimos. E muitos moradores dessa região, de acordo com os dados, chegaram ao local vindos de outros Estados -38% afirmam ter nascido no Nordeste do país.
"Eu sou de Vitória da Conquista, na Bahia, e vim trabalhar na casa de uma família americana. Consegui um adiantamento e comprei um terreno aqui", afirma a costureira Noeme Souza Sena, 52.
Ela e Ana Maria de Carvalho são voluntárias do Centro Comunitário e Recreativo do Jardim Macedônia, que atende cerca de 350 crianças do bairro e oferece cursos de culinária e artesanato. "É difícil fazer eventos para angariar fundos porque as pessoas têm medo de vir a festas à noite", diz Ana Maria de Carvalho.
Na região da Subprefeitura do Campo Limpo foram registrados no ano passado 278 óbitos por homicídio -1.433,16% a mais do que as 19 mortes pelo mesmo motivo registradas em Pinheiros. Em M'Boi Mirim, foram 400 mortes por homicídio, ou 1.428,57% mais do que na Vila Mariana, com 28 óbitos por homicídio.
Aliado à falta de segurança, o desemprego preocupa os moradores. Ana Maria das Neves, 38, está desempregada há três anos. A pernambucana, que tem seis filhos, foi demitida do serviço de auxiliar de limpeza e vive com a ajuda do Renda Mínima -pelo qual recebe R$ 180.
"Estudei até a quinta série [do ensino fundamental] e não consigo arrumar emprego porque me pedem o primeiro grau completo. Mas tenho saúde e sou nova para ficar parada", afirma.
Pelas condições em que vivem na região, 56% dos entrevistados manifestam o desejo de mudar de São Paulo. Não é o caso de Ana Maria das Neves.
"Lutei tanto pela minha casa, não quero sair daqui. Foi só o que consegui para os meus filhos", afirma.
A moradora do Capão Redondo Valéria Regina de Andrade, 26, fez o curso de auxiliar de enfermagem, mas também está desempregada. Ela mede a pressão de idosos que moram no local porque o posto de saúde onde eles deveriam ser atendidos, no Jardim Comercial, fica afastado. Para 7% dos entrevistados, a prefeitura tem pior resultado na área da saúde.
Segundo Valéria Andrade, a fila dos exames é tão grande que algumas grávidas da região não chegam a fazer os três ultra-sons necessários.
Em Campo Limpo, a situação na área da saúde não é diferente. "Estou com uma guia do posto para fazer mamografia há um ano e ainda não fui atendida no hospital do Campo Limpo", diz a auxiliar de enfermagem Ana Maria. A aposentada Maria de Fátima Silva Soares, 46, também espera há cerca de um ano para checar seu problema de varizes nas pernas.



Faltam vagas
Na região, 15% dos entrevistados afirmam que a prefeitura está se saindo melhor na área de educação. A construção de um CEU (Centro Educacional Unificado) no Campo Limpo agradou aos pais. Porém, nem todos estão satisfeitos.
No Capão Redondo, por exemplo, há grande reivindicação por vagas em creches. Na creche da Turma da Touca, na Cohab Adventista 1, há 400 crianças na fila de espera.
"Conseguimos atender apenas 160 crianças. Todas as vagas foram preenchidas em um só dia", diz a diretora Marília Lino de Souza, 21.
"No Jardim Macedônia foi feita apenas uma creche, onde não cabe nem metade das crianças", afirma a voluntária Ana Maria de Carvalho.




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