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Carências fazem maioria querer deixar São Paulo
A chamada zona sul 3 reúne distritos onde os homicídios superam em mais de 1.400% as estatísticas da zona oeste, por exemplo, em que viver é
considerado menos perigoso. Moradores também enfrentam precários serviços de saúde e escassez na oferta de empregos
DA REPORTAGEM LOCAL
"Bairro-dormitório". Para a auxiliar de enfermagem e moradora do
Jardim Macedônia -no distrito Campo Limpo- Ana Maria de Carvalho,
56, essa é a definição do local onde
mora desde 1971.
"Não há indústrias nas proximidades e falta serviço para os que vivem na
área", afirma ela, que trabalha no Hospital das Clínicas, bem longe do local
onde mora.
Os dados da pesquisa do Datafolha
comprovam sua afirmação: dos entrevistados na região denominada sul 3
-que engloba os distritos de Campo
Limpo, Capão Redondo, Cidade Dutra, Grajaú, Jardim Ângela, Jardim São
Luís, Marsilac e Parelheiros-, 23%
estão desempregados. E os que conseguem emprego têm baixa renda.
Segundo os entrevistados pela pesquisa, 37% são das classes D e E e 80%
têm renda de até cinco salários mínimos. E muitos moradores dessa região, de acordo com os dados, chegaram ao local vindos de outros Estados
-38% afirmam ter nascido no Nordeste do país.
"Eu sou de Vitória da Conquista, na
Bahia, e vim trabalhar na casa de uma
família americana. Consegui um
adiantamento e comprei um terreno
aqui", afirma a costureira Noeme Souza Sena, 52.
Ela e Ana Maria de Carvalho são voluntárias do Centro Comunitário e Recreativo do Jardim Macedônia, que
atende cerca de 350 crianças do bairro
e oferece cursos de culinária e artesanato. "É difícil fazer eventos para angariar fundos porque as pessoas têm
medo de vir a festas à noite", diz Ana
Maria de Carvalho.
Na região da Subprefeitura do Campo Limpo foram registrados no ano
passado 278 óbitos por homicídio
-1.433,16% a mais do que as 19 mortes pelo mesmo motivo registradas em
Pinheiros. Em M'Boi Mirim, foram
400 mortes por homicídio, ou
1.428,57% mais do que na Vila Mariana, com 28 óbitos por homicídio.
Aliado à falta de segurança, o desemprego preocupa os moradores. Ana
Maria das Neves, 38, está desempregada há três anos. A pernambucana, que
tem seis filhos, foi demitida do serviço
de auxiliar de limpeza e vive com a
ajuda do Renda Mínima -pelo qual
recebe R$ 180.
"Estudei até a quinta série [do ensino
fundamental] e não consigo arrumar
emprego porque me pedem o primeiro grau completo. Mas tenho saúde e
sou nova para ficar parada", afirma.
Pelas condições em que vivem na região, 56% dos entrevistados manifestam o desejo de mudar de São Paulo.
Não é o caso de Ana Maria das Neves.
"Lutei tanto pela minha casa, não
quero sair daqui. Foi só o que consegui
para os meus filhos", afirma.
A moradora do Capão Redondo Valéria Regina de Andrade, 26, fez o curso de auxiliar de enfermagem, mas
também está desempregada. Ela mede
a pressão de idosos que moram no local porque o posto de saúde onde eles
deveriam ser atendidos, no Jardim
Comercial, fica afastado. Para 7% dos
entrevistados, a prefeitura tem pior resultado na área da saúde.
Segundo Valéria Andrade, a fila dos
exames é tão grande que algumas grávidas da região não chegam a fazer os
três ultra-sons necessários.
Em Campo Limpo, a situação na
área da saúde não é diferente. "Estou
com uma guia do posto para fazer mamografia há um ano e ainda não fui
atendida no hospital do Campo Limpo", diz a auxiliar de enfermagem Ana
Maria. A aposentada Maria de Fátima
Silva Soares, 46, também espera há
cerca de um ano para checar seu problema de varizes nas pernas.
Faltam vagas
Na região, 15% dos entrevistados
afirmam que a prefeitura está se saindo melhor na área de educação. A
construção de um CEU (Centro Educacional Unificado) no Campo Limpo
agradou aos pais. Porém, nem todos
estão satisfeitos.
No Capão Redondo, por exemplo,
há grande reivindicação por vagas em
creches. Na creche da Turma da Touca, na Cohab Adventista 1, há 400
crianças na fila de espera.
"Conseguimos atender apenas 160
crianças. Todas as vagas foram preenchidas em um só dia", diz a diretora
Marília Lino de Souza, 21.
"No Jardim Macedônia foi feita apenas uma creche, onde não cabe nem
metade das crianças", afirma a voluntária Ana Maria de Carvalho.
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