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Computadores provocam a demissão de 349 mil bancários em apenas sete anos; bancos consideram que a diminuição do número de funcionários não terminou
da Reportagem Local
Edvaldo Alves dos Santos, 50,
funcionário do Bradesco por 23
anos, já foi a personificação do sonho de ascensão: o faxineiro que
virou subgerente.
Já foi, porque o subgerente acabou demitido, virou caminhoneiro e o caminhoneiro está sendo
executado judicialmente porque
não consegue saldar uma dívida
com o próprio Bradesco.
"Quando comecei em 1974, tinha só um computador grandão
que a gente nem via. Depois de
1984, 1985, eles foram avançando e
as pessoas diminuindo. Há um
ano chegou a minha vez", conta.
Santos é um deserdado do choque tecnológico. Integrava a categoria mais afetada pela disseminação de computadores -a dos
bancários. Aí, de nada vale a teoria
econômica que diz que tecnologia
não desemprega.
Os números são claros. Em janeiro de 1990, havia 812.667 bancários no país. Ano passado, eram
463.330 -uma queda de 43%. Só
o Bradesco demitiu 32% dos funcionários nos últimos cinco anos
-um corte de 20 mil empregos.
O coordenador de negociações
trabalhistas da Federação Nacional dos Bancos, Magnus Apostólico, afirma que os cortes vão continuar, mas num ritmo menor: "Se
você comparar com o resto do
mundo, temos gente demais. A
automação não é só um fator de
redução de custos. É o mercado
que exige velocidade nas transações e informações instantâneas".
A teoria de que tecnologia não
afeta o nível de emprego não vale
para os bancários por causa das
peculiaridades da economia brasileira após o Plano Real, segundo
José Pastore, professor da Faculdade de Economia e Administração da USP. Em outros setores, a
categoria é aplicável porque a disseminação de novas tecnologias
no Brasil é incipiente.
"Tecnologia desemprega bancários por causa de um coquetel
perverso que junta baixo crescimento econômico e legislação rígida", diz Pastore.
Esses dois ingredientes, somados ao baixo nível educacional da
mão-de-obra brasileira, são as
principais causas do desemprego,
na visão de Pastore.
O mesmo raciocínio do coquetel
perverso vale para os trabalhadores agrícolas. Uma máquina de colher cana faz o trabalho de 150 homens, em média. Só na região de
Ribeirão Preto (SP), as colhedeiras
poderiam cortar 2 milhões de empregos, segundo estimativas de
sindicalistas.
Se a economia estivesse em velocidade de cruzeiro, a colhedeira
desempregaria no campo, mas
surgiriam novas ocupações na cidade. Foi o que aconteceu nos Estados Unidos neste século. Aqui, a
mecanização do campo engrossa
as filas de desempregados.
O choque organizacional
Junte essas causas à reestruturação organizacional das empresas
(menos níveis hierárquicos, profissionais polivalentes, terceirização, trabalho em tempo parcial) e
chega-se a 1,5 milhão de desempregados na Grande São Paulo.
Se fosse possível isolar quem desemprega mais, se as novas tecnologias ou as mudanças estruturais
das empresas, Ruy Quadros, professor do departamento de Política Científica e Tecnológica da
Unicamp (Universidade Estadual
de Campinas), apostaria nas mudanças estruturais.
O dilema dos governos hoje é o
que fazer com que está perdendo o
emprego. Há um abismo entre o
trabalhador exigido pelas novas
tecnologias de informação (computador, máquinas computadorizadas e novos recursos de telecomunicações) e o funcionário que
está sendo desempregado.
"Um soldador que trabalhou 20
anos numa metalúrgica não tem
capacidade para operar uma máquina controlada por computador", diz Quadros, professor do
departamento de Política Científica e Tecnológica da Unicamp
(Universidade de Campinas).
O dilema é a transição de um
perfil para o outro. Cursinho de
requalificação -a principal política do governo para recolocar os
desempregados no mercado-
não resolve isso, diz Quadros.
O faxineiro que virou subgerente
do Bradesco e hoje é caminhoneiro é a prova do desajuste entre o
trabalhador existente e o que a tecnologia requer. Santos sabe operar
computadores, mas só estudou até
o 1º ano do 2º grau.
"Tive que me meter em dívidas
para comprar o caminhão porque
sabia que não ia conseguir emprego. Bancário de 50 anos, como eu,
consegue no máximo emprego de
porteiro. Tô fora", diz. Está fora
do mercado, endividado, mas tem
uma esperança -ganhou uma
ação trabalhista de seu ex-empregador e atual executor.
(MCC)
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