São Paulo, domingo, 01 de outubro de 2006

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Para ministra, operação teve intuito de beneficiar PSDB

FÁBIO ZANINI
EM SÃO PAULO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) e o coordenador da campanha de Luiz Inácio Lula da Silva à reeleição, Marco Aurélio Garcia, disseram ontem que o vazamento das fotos do dinheiro apreendido pela Polícia Federal para a compra do dossiê contra os tucanos teve motivação política.
O delegado da PF Edmilson Pereira Bruno admitiu ter distribuído as imagens à imprensa. "Ele [o delegado] chamou os jornalistas e disse que iria entregar as fotos, apesar de estarem em segredo de Justiça, porque queria prejudicar de forma grave o candidato Lula", afirmou Dilma, que não citou o nome de Bruno.
Segundo ela e Garcia, a conversa de jornalistas com o delegado ocorreu reservadamente, mas teria sido gravada por três repórteres. Os dois fizeram as declarações contra o delegado da PF antes de o próprio Bruno dizer publicamente que havia distribuído o CD anteontem.
Até o vazamento das fotos do dinheiro, a PF vinha sendo acusada pela oposição de estar a serviço do governo Lula, retardando as investigações para que elas não fossem concluídas antes das eleições.
Bruno participou da operação de prisão dos petistas Gedimar Passos e Valdebran Padilha, no último dia 15, quando foi apreendido cerca de R$ 1,7 milhão. O dinheiro seria usado para adquirir da família Vedoin um dossiê contra o candidato tucano ao governo de São Paulo, José Serra.
Três dias depois da operação, Bruno foi afastado do caso. A PF nega e argumenta que o delegado era apenas o plantonista no final de semana em que a operação foi deflagrada.

Golpismo
Dilma classificou a distribuição das fotos como uma operação "deplorável e golpista", que teria o objetivo de "influenciar o voto da população e beneficiar o PSDB".
Ela comparou o episódio à prisão dos seqüestradores do empresário Abílio Diniz, dono do Grupo Pão de Açúcar, em 1989, uma "tentativa de criar fatos para alterar o equilíbrio eleitoral". Na época, Lula disputava pela primeira vez a Presidência da República. Na apresentação dos seqüestradores à imprensa, alguns deles vestiam camisetas do PT.
A ministra informou que o comando da campanha de Lula solicitou ao Ministério da Justiça investigação para esclarecer a "motivação do vazamento" das fotos à imprensa.
Para a chefe da Casa Civil, se a investigação provar a atuação de delegados da PF no caso, será uma "mancha" para o projeto de profissionalização do órgão durante o governo Lula.
"É grave, porque nosso esforço foi o de profissionalizar a PF, para que ela atue como uma organização de Estado."

Desequilíbrio
Para Garcia, a imprensa sonegou algumas informações, praticou autocensura e ignorou a confissão de um delito pelo delegado -a armação do furto de um CD com as fotos, para acobertar o vazamento.
Em entrevista coletiva ontem em São Paulo, Garcia relutou em dizer que Bruno era o responsável pelo vazamento.
"Essa conversa foi gravada por vários jornalistas. Apareceu [na mídia] a entrega da informação [as fotos], mas sem a parte de que era um gesto político", afirmou Garcia.
Segundo o petista, houve "tratamento desequilibrado" por parte da imprensa. "Gostaríamos que a imprensa cumprisse o seu papel de informação. Seria revelar o conjunto da trama, inclusive as expressões que foram utilizadas por esse delegado com claríssima conotação política", declarou.
Garcia disse que está fora de cogitação alguma medida judicial obrigando os órgãos de imprensa a revelar o suposto teor da conversa com o delegado.
A campanha, segundo ele, espera que a mídia aja espontaneamente. "Esperamos que não predomine a autocensura quando se trata de interesse nacional. [...] Não fazendo isso, sem dúvida configura sonegação de informação."
Garcia disse que algumas das informações têm "caráter delitual". "Quando um delegado diz que vai forjar um boletim de ocorrência, a imprensa está sendo informada de um delito."
O coordenador da campanha admitiu que a divulgação das imagens tem forte impacto político e eleitoral, mas não quis precisar se isso ameaçaria a vitória de Lula no primeiro turno. Segundo ele, a PF tomará providências contra o delegado Bruno.


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