São Paulo, sexta-feira, 02 de abril de 2004

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Lixo e sujeira são alvo das principais críticas

O lixo abandonado nas calçadas é espalhado pelos catadores de papel. Mas quem circula pela área também reclama do trânsito congestionado e do consumo de drogas. O principal alvo dos traficantes, de acordo com os moradores, são as crianças que vivem nas ruas



DA REPORTAGEM LOCAL

Não é preciso ser morador para se incomodar com a sujeira do centro de São Paulo. Qualquer pessoa que transite pela região, a trabalho ou de passagem, reclama. "Tem ruas que até cheiram mal. É horrível", diz a telefonista Renata Barbosa de Lima, 25, que trabalha na região da praça da República.
Mas, para quem mora na região centro 1, que engloba os distritos Barra Funda, Bela Vista, Liberdade, República e Santa Cecília, e tem de conviver com o problema, a sujeira se torna uma dor de cabeça ainda maior. Não é à toa que 12% dos habitantes dessa região citaram, na pesquisa do Datafolha, a limpeza como principal problema do local.
É também a atividade em que a prefeitura está se saindo pior na região, segundo os moradores entrevistados. Ficou em segundo lugar, citada por 11% das pessoas.
O primeiro problema, assim como em todas as outras regiões da cidade, é a falta de segurança (28%). A violência, a propósito, foi citada por 42% dos moradores do centro 1 como a principal desvantagem de morar em São Paulo. O percentual está acima da média da cidade, que é de 40%.
Além da sujeira e da violência, 9% dos moradores dessa região apontaram como problema o tráfico e o consumo de drogas.
Há também outra questão rotineira no centro, segundo os moradores ouvidos, que é o trânsito. Para 12% o problema é a maior desvantagem de morar na cidade de São Paulo.
A reclamação pode ser comprovada estatisticamente quando se destaca que, apesar de 50% das pessoas que moram no centro 1 trabalharem na mesma região, o tempo gasto no trânsito é alto: de uma a duas horas, segundo 24% do entrevistados.

Falta de civilidade
A aposentada Minerva Maluf, 74, que mora na praça Júlio Mesquita há dez anos, é uma das pessoas que sofre com a sujeira."Tem dias que para ir à padaria tenho de ir desviando do lixo das ruas", diz.
"Além da falta de civilidade das pessoas, que jogam lixo na rua, há o problema dos catadores de papel. Eles reviram os sacos de lixo depositados na calçada e depois os deixam abertos. Com o vento e com a chuva, a sujeira se espalha, deixando as ruas imundas e os bueiros entupidos."
Na tentativa de fazer algo pelo local em que mora, Minerva tornou-se membro da Associação Viva o Centro, ONG formada por empresas e voluntários que zelam pela área. "Já pensei em espalhar placas nos postes pedindo educação às pessoas. Os moradores daqui estão fartos desse problema do lixo. Todos os dias escuto reclamações a respeito disso", diz Minerva.
A questão das drogas é mais complicada, uma vez que o centro é palco da utilização do crack pelas crianças de rua, segundo os moradores.
Aliciadas por pessoas mais velhas e vulneráveis por sua condição de vida, elas são consumidoras freqüentes de drogas. "É muito triste. Em plena luz do dia elas ficam nos cantos fumando crack e cheirando cola", afirma o contador Victor Miguel Souza, 30, que mora em Santa Cecília e trabalha na Bela Vista.
Para Minerva Maluf, a forte presença das drogas tem reflexo até na atuação daqueles que se preocupam com as crianças da vizinhança. "Antigamente fechávamos a rua para criar um espaço para as crianças brincarem. Hoje, há a preocupação de que alguém pode oferecer drogas para elas", diz.

O lado bom
Mas o centro não tem só problemas. É o que indica a porcentagem de moradores que afirmam ter mais orgulho do que vergonha de morar nessa área: 80%, índice mais alto que a média da cidade, que é de 78%.
O distrito da Liberdade, por exemplo, foi eleito por 11% dos entrevistados como o local mais tranqüilo, e por 12%, o mais bonito. E dos 39 teatros de São Paulo, 14 ficam no centro 1: sete na Bela Vista, quatro na Consolação e os outros nos demais distritos.


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