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Papa usou internet e engajou Vaticano na mídia moderna
ESPECIAL PARA A FOLHA
Ideologicamente conservador,
João Paulo 2º passará à história
como um líder religioso que soube fazer uso dos meios de comunicação, incluindo a internet, para
divulgar a mensagem da Igreja
Católica e criar imagens marcantes, como o gesto de se abaixar para beijar o solo dos países que visitava.
Uma exceção ocorreu em 1989.
Quando viajou à Indonésia, recusou-se a beijar o solo de Timor
Leste, que já reivindicava independência (aprovada em plebiscito dez anos mais tarde). Depois,
mesmo debilitado fisicamente,
manteve a tradição sem o esforço
físico da homenagem. Crianças
passaram a trazer-lhe em uma
bandeja a terra a ser abençoada.
Vaticano na rede
Lançado em 1995, o site do Vaticano (www.vatican.va) está disponível em seis idiomas, com parte do conteúdo em português.
Contém biografias papais, uma
agenda de celebrações e informações sobre o Museu do Vaticano.
Em junho de 1998, a Igreja Católica passou a usar a web para atingir a China, palco de perseguições
a cristãos "não-oficiais". A agência católica de notícias Fides
(www.fides.org) fez uma versão
de seu site em chinês. Foi o primeiro documento oficial elaborado pelo Vaticano nesse idioma.
Desde agosto de 1998, o Vaticano também vinha transmitindo,
via internet, discursos de João
Paulo 2º proferidos aos domingos, durante a tradicional oração
de Angelus perante os fiéis na praça de São Pedro. Quando iniciou a
transmissão on-line das cerimônias, a Santa Fé disse que a idéia
era "aumentar a presença do Vaticano no mundo moderno da comunicação social".
Em novembro de 1998, durante
encontro com estudantes da universidade privada Luiss, em Roma, João Paulo 2º ressaltou a influência da informática. "O computador mudou um pouco o
mundo e, obviamente, também a
minha vida", afirmou.
A importância da comunicação
e de aliá-la à tecnologia disponível
fez-se nítida até em detalhes aparentemente irrelevantes. Na sala
de imprensa do Vaticano, por
exemplo, o protetor de tela dos
computadores diz: "We, journalists, love John Paulo II" (Nós, jornalistas, amamos João Paulo 2º).
"Woodstock católico"
Em suas viagens, arrebatou
multidões de fiéis -e combateu o
hedonismo e o materialismo.
As Jornadas Mundiais da Juventude receberam incentivo de João
Paulo 2º a partir de 1986. Reuniu
mais de 2 milhões de jovens para
um "Woodstock católico" em Roma, em agosto de 2000 -um dos
maiores encontros realizados em
Roma desde o fim da Segunda
Guerra Mundial (1939-1945).
Ao final, recordou que a igreja
não aprova relações pré-matrimoniais nem medidas contraceptivas, pois o sexo deve ter fim reprodutivo. Apelidados de "papa
boys" e "papa girls" pela imprensa italiana, os jovens participaram
de uma vigília no campus Tor
Vergata da Universidade de Roma, normalmente usado para
concertos de rock.
As audiências papais, às quartas-feiras, demonstravam de forma inequívoca a facilidade de comunicação do papa. João Paulo 2º
discursava em diversos idiomas,
incluindo russo, alemão e português, com uma fluência e pronúncia admiráveis para fiéis do mundo inteiro. Essa distinção era reconhecida e citada como exemplo
da mensagem católica de união.
Quando diversos grupos homenageavam o papa com cantos nacionais ou hinos religiosos, durante a cerimônia, ele costumava
acompanhar com o corpo -e
muitas vezes com a voz.
Mas, à medida que o tempo passava (e que suas doenças, principalmente o mal de Parkinson,
agravavam-se), ele recorria a seus
assessores para tarefas simples,
incluindo a leitura de mensagens.
Ao final, muitas vezes lia apenas
os discursos em italiano e polonês
-e de forma quase ou completamente incompreensível, dependendo da ocasião.
O vigor físico inicial do pontificado deu lugar a uma fragilidade
cada vez mais evidente, apesar de
o papa ter continuado firme em
seus propósitos. Nos últimos
anos, seu espaço estava restrito a
dois andares do palácio apostólico: o terceiro, onde ficam os apartamentos privados, e o segundo, o
das salas de recepção, da biblioteca e de seu escritório oficial.
"Lá no alto, atrás da janela mais
célebre do mundo, há um prisioneiro", dizia o vaticanista Marco
Politi. "Um prisioneiro que sofre,
que só consegue se locomover de
um local a outro com um imenso
esforço, apoiando-se em sua bengala, acometido por tremores
parkinsonianos."
O "Manual da Indulgência" do
Vaticano, de 1999, estabelece que
rezar com o papa em frente à televisão (entre outras coisas, como
ficar um dia sem fumar e arrepender-se em público) é uma das práticas que aliviam a punição de pecadores. A obra, editada anteriormente em 1968 e 1986 considera
válidas a oração mental para surdos-mudos e as preces junto à TV
e ao rádio.
(PAULO DANIEL FARAH)
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