São Paulo, sábado, 03 de outubro de 2009

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ANÁLISE

Lula tem sorte, mas estratégia é planejada

FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Seria ociosa e infindável uma discussão sobre se o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem mais sorte e menos competência, ou vice-versa, para vencer tantas disputas seguidas. Ontem, o petista encaçapou mais uma com a escolha do Rio para sediar a Olimpíada em 2016.
O que poucos podem contestar é a capacidade de Lula para capitalizar ao máximo todos os êxitos. Propagandas com menções à estabilidade da economia e à descoberta do petróleo do pré-sal já viraram parte da paisagem nas TVs brasileiras.
Os cerca de R$ 2 bilhões anuais em patrocínios e propagandas estatais federais produzem resultado. É impossível assistir a um programa na TV e não ser atropelado pelo ubíquo slogan lulista "Brasil, um país de todos", criado por Duda Mendonça -aliás, colorido e alegre como o coração estilizado da campanha Rio-2016.
Para a voz oficial de Lula falando do "orgulho de ser brasileiro" ser ouvida com mais força, produziu-se uma pulverização das cidades atingidas pela propaganda oficial. Quando ele assumiu, em 2003, só 499 meios de comunicação (jornais, revistas, rádios e TVs) recebiam verba estatal federal de publicidade em 182 cidades. Em 2008, já eram 5.297 veículos em 1.149 municípios contemplados com verbas oficiais de propaganda.
A Copa-2014 no Brasil ganhou até um "PAC da Copa", versão específica das "obras estruturantes" para o país, como gosta de dizer a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff.
Lula também cumpre seu papel como poucas estrelas do show business. Tem um timing calculado e eficiente. Ontem, suado, falou de sua emoção ao vivo para as TVs brasileiras. Pouco depois, recomposto e de cabelos penteados, verteu lágrimas num entrevista oficial.
Por longos segundos, falou em português também na CNN, que não se dava conta de que seu público nada entendia. Lula saiu do ar, mas voltou ainda muitas vezes ao longo da programação explicando o uso da "alma e do coração" para ganhar a Olimpíada para o Rio.
Nessas horas, nada é por acaso. Lula não submeteu sua ministra predileta para a sucessão presidencial, Dilma Rousseff, ao papel de papagaio de pirata. Essa função coube ao possível futuro candidato a vice-presidente, Michel Temer.
Dilma ficou no Brasil. Faturou sozinha como a principal autoridade do governo por aqui. A ministra não se fez de rogada. Apareceu ao vivo no canal Sportv -da Rede Globo. Envergando uma camiseta amarela com a inscrição "I [coração] rio!", foi indagada sobre quando o governo inicia os planos para 2016. "Vamos começar amanhã." Depois, corrigiu-se: "Vamos começar ontem". Quem é candidata tem pressa.


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