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ANÁLISE
Lula tem sorte, mas estratégia é planejada
FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Seria ociosa e infindável uma
discussão sobre se o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva tem
mais sorte e menos competência, ou vice-versa, para vencer
tantas disputas seguidas. Ontem, o petista encaçapou mais
uma com a escolha do Rio para
sediar a Olimpíada em 2016.
O que poucos podem contestar é a capacidade de Lula para
capitalizar ao máximo todos os
êxitos. Propagandas com menções à estabilidade da economia e à descoberta do petróleo
do pré-sal já viraram parte da
paisagem nas TVs brasileiras.
Os cerca de R$ 2 bilhões
anuais em patrocínios e propagandas estatais federais produzem resultado. É impossível assistir a um programa na TV e
não ser atropelado pelo ubíquo
slogan lulista "Brasil, um país
de todos", criado por Duda
Mendonça -aliás, colorido e
alegre como o coração estilizado da campanha Rio-2016.
Para a voz oficial de Lula falando do "orgulho de ser brasileiro" ser ouvida com mais força, produziu-se uma pulverização das cidades atingidas pela
propaganda oficial. Quando ele
assumiu, em 2003, só 499
meios de comunicação (jornais,
revistas, rádios e TVs) recebiam verba estatal federal de
publicidade em 182 cidades.
Em 2008, já eram 5.297 veículos em 1.149 municípios contemplados com verbas oficiais
de propaganda.
A Copa-2014 no Brasil ganhou até um "PAC da Copa",
versão específica das "obras estruturantes" para o país, como
gosta de dizer a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff.
Lula também cumpre seu papel como poucas estrelas do
show business. Tem um timing
calculado e eficiente. Ontem,
suado, falou de sua emoção ao
vivo para as TVs brasileiras.
Pouco depois, recomposto e de
cabelos penteados, verteu lágrimas num entrevista oficial.
Por longos segundos, falou
em português também na
CNN, que não se dava conta de
que seu público nada entendia.
Lula saiu do ar, mas voltou ainda muitas vezes ao longo da
programação explicando o uso
da "alma e do coração" para ganhar a Olimpíada para o Rio.
Nessas horas, nada é por acaso. Lula não submeteu sua ministra predileta para a sucessão
presidencial, Dilma Rousseff,
ao papel de papagaio de pirata.
Essa função coube ao possível
futuro candidato a vice-presidente, Michel Temer.
Dilma ficou no Brasil. Faturou sozinha como a principal
autoridade do governo por
aqui. A ministra não se fez de
rogada. Apareceu ao vivo no canal Sportv -da Rede Globo.
Envergando uma camiseta
amarela com a inscrição "I [coração] rio!", foi indagada sobre
quando o governo inicia os planos para 2016. "Vamos começar amanhã." Depois, corrigiu-se: "Vamos começar ontem". Quem é candidata tem pressa.
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