São Paulo, segunda-feira, 04 de outubro de 2004

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Senador assume desejo de ser candidato ao governo em 2006

Resultados mostram que PT e PSDB são os 2 eixos, diz Mercadante

KENNEDY ALENCAR
EM SÃO PAULO

O líder do governo no Senado, o petista Aloizio Mercadante (SP), diz que os resultados do primeiro turno das eleições municipais deixam "claro que há dois partidos que são os eixos dos projetos de governo e de poder no país, o PT e o PSDB". Para ele, o PT mantém forte presença nas grandes cidades e se nacionaliza ainda mais.
Em entrevista à Folha, Mercadante assume o desejo de ser candidato ao governo paulista em 2006. Diz que seria "honra" integrar o ministério do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na área social. Acha que, mesmo com derrota de Marta Suplicy em São Paulo, hipótese que rejeita, Lula sai "fortalecido" das eleições, porque houve uma federalização da parte do PT e dos aliados.

 

Folha - Qual foi o recado das urnas aos políticos?
Aloizio Mercadante -
Fica claro que há dois partidos que são os eixos dos projetos de governo e de poder no país, o PT e o PSDB. Eles se consolidam no enfrentamento. A democracia brasileira claramente caminha para um movimento pendular entre PT e PSDB. O PT tem desempenho acima das expectativas, indo ao segundo turno em mais capitais do que esperado. Mas não podemos colocar salto alto. Temos de ter humildade para buscar as alianças necessárias no segundo turno. Já o PSDB está perdendo capitais em Estados que governa.

Folha - O resultado eleitoral afetará a reeleição de Lula em 2006?
Mercadante -
O presidente Lula sai fortalecido destas eleições.

Folha - Mesmo se Marta perder?
Mercadante -
Independentemente do resultado numa cidade específica, mesmo na maior cidade do Brasil. A oposição fez de tudo para não federalizar a campanha. Toda a luta do PT foi para nacionalizar. A tese catastrofista da oposição está sendo derrotada pelos resultados na economia.

Folha - O sr. disputará o governo paulista em 2006?
Mercadante -
A definição passará por consultas após as eleições. Sempre joguei no time. A reeleição do Lula passa necessariamente por esse projeto. Lula terá papel decisivo na escolha. Tive mais de 10 milhões de votos na última eleição, mais de 3 milhões de votos acima do governador Geraldo Alckmin (na eleição de 2002) e mais de 5 milhões de votos acima do candidato José Serra (que perdeu a Presidência para Lula em 2002). É evidentemente um patrimônio do partido que deve ser considerado.

Folha - Informações de bastidor dão conta de que Lula o apóia.
Mercadante -
Um dia não começa enquanto o outro não termina.

Folha - Se a Marta perder, ela disputaria o governo?
Mercadante -
Marta vencerá.

Folha - E se ela perder?
Mercadante -
Não trabalho com essa hipótese.

Folha - Não há um pouco de chantagem no discurso da Marta que diz vote em mim porque sou do partido de Lula e, assim, trarei mais recursos para a cidade?
Mercadante -
Quem deflagrou esse processo foi o governador Alckmin. Ela fez um elogio a ele, dizendo ter boa relação. Ele retribuiu induzindo os eleitores a ir para o lado do Serra.

Folha - O PT faz o mesmo.
Mercadante -
Lula diz que respeitará os resultados.

Folha - Lula disse que, se o eleitor quisesse manter as políticas sociais, teria de votar em Marta.
Mercadante -
Os tucanos começaram esse debate, colando a imagem do Serra à do Alckmin, dizendo que o governador trará benefícios ao município. O Serra colocou outdoors com o Alckmin e nenhum com FHC. Injustiça com FHC, que estão escondendo. Em 2002, Alckmin repassou para a Marta R$ 11,2 milhões em verbas. O governo federal, que era de FHC, repassou R$ 248 milhões. Em 2004, no governo Lula, Alckmin está repassando para a cidade R$ 10,3 milhões. O governo federal está repassando mais de R$ 1 bilhão. A prefeitura depende decisivamente do governo federal.

Folha - A "desconstrução" de Serra, dizendo, por exemplo, que ele não foi tão bom ministro da Saúde como vende, vai se intensificar no segundo turno?
Mercadante -
Seguramente, temos muitos argumentos para rebater as afirmações deles. Eles não têm como sustentar a tese de que não houve planejamento e por isso as obras atrasaram. Mostraremos que FHC não fez repasses.

Folha - Não é contradição do PT fechar acordo com o Maluf, um adversário histórico? As evidências estão aí, com Maluf elogiando Marta e atacando Serra.
Mercadante -
Elogios aos projetos da Marta vieram do Serra. No início da campanha, dizia que era contra o CEU (Centro Educacional Unificado). Depois, que não ia expandir o CEU. Agora diz que é todo CEU. É um candidato do bem que quer o CEU.

Folha - Maluf só ataca Serra.
Mercadante -
No debate, ele também criticou a Marta.

Folha - Muito de leve.
Mercadante -
Criticou com mais ênfase o Serra.

Folha - Por quê?
Mercadante -
Uma razão é que o partido dele não o acompanhará numa atitude de ataque ao governo federal e ao PT. Maluf não tem mais a força para se impor ao PP.

Folha - E a expectativa de proteção na CPI do Banestado e nas apurações sobre dinheiro no exterior?
Mercadante -
O governo não controla isso. São assuntos do Ministério Público e da Justiça.

Folha - O sr. é cotado para ocupar um ministério na área social na reforma que Lula pretende fazer após as eleições. Gosta da idéia?
Mercadante -
Gostaria muito. Seria uma honra participar de um governo do presidente Lula, no qual acredito e defendo. Nós temos de consolidar uma maioria no Senado para aprovar projetos. Não sei se para o governo, seria a melhor montagem da equipe. Jogo para o time, na posição que precisar, e o presidente sabe disso.


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