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cortando na carne
O bife, o carro e a viagem de avião têm muito peso no cálculo da pegada, porque afetam ao
mesmo tempo o uso do solo, o consumo da água e a emissão de gases-estufa
DE SÃO PAULO
Um dos mecanismos adotados por pessoas, empresas
e até eventos para diminuir o
impacto da sua pegada ecológica é a chamada neutralização de carbono.
O conceito é bem simples:
plantar árvores que, ao crescer, absorvem gás carbônico
(o principal gás-estufa),
transformando-o em biomassa, como a lenha do tronco
dos vegetais.
"Tomamos como base de
cálculo árvores nativas da
mata atlântica, com uma média de 40 anos de fase de
crescimento", explica o geógrafo Lucas Carvalho Pereira, da Iniciativa Verde, organização que orienta projetos
de neutralização de carbono.
"Ao longo dessa fase, as
árvores absorvem mais carbono do que emitem pela respiração, num total de 190
quilos de gás carbônico por
indivíduo", diz o geólogo.
Bastaria, portanto, estimar quanto carbono foi produzido em um mês de idas ao
trabalho de carro e, então,
plantar a quantidade correspondente de árvores.
MARKETING VERDE
A coisa, no entanto, fica
mais complicada quando toda a cadeia produtiva de um
evento, por exemplo, deve
ser "neutralizada".
"A gente depende muito
da precisão dos dados que
nos passam para fazer o cálculo, e há empresas que mal
dão informações, que estão
interessadas só no aspecto
de marketing da neutralização", reconhece Pereira.
Além desse aspecto, embora seja importante, o carbono emitido é apenas uma
fatia do impacto ambiental
da pegada humana.
"É fácil esse tipo de atitude
virar um consumismo verde,
uma esmola para manter
práticas insustentáveis",
afirma Maduro-Abreu.
É possível fazer de graça
um cálculo preliminar e simplificado da pegada ecológica na internet (em endereços
como www.pegadaecologica.org.br e www.oeco.com.br/calculadora.
O exercício deixa claro como é difícil diminuir o impacto de cada pessoa sobre os recursos naturais.
Cerca de dez viagens de
avião por ano, uso de automóvel nos fins de semana e
consumo de carne bovina
uma ou duas vezes por semana já são suficientes para elevar a pegada para cerca de
2,5 "Terras".
CAPITAL NATURAL
Para os especialistas, atitudes como trocar sacolas
plásticas por bolsas reutilizáveis ou evitar a impressão
desnecessária de canhotos
do cartão de crédito, embora
interessantes para conscientizar quem as toma, têm impacto relativamente pequeno para melhorar tal "nota".
"No Brasil, eu diria que as
medidas com maior chance
de impacto seriam mesmo diminuir o consumo de carne
vermelha, o uso de automóveis e as viagens aéreas", diz
Barreto. São elementos que
afetam ao mesmo tempo
uma série de variáveis da pegada, como o uso da terra, o
consumo de água e a emissão de gases-estufa.
"Mas precisamos levar em
conta que, tanto aqui quanto
no resto do mundo, há muita
gente que nem teve acesso a
essas coisas ainda. Vamos
impedi-los de andar de
avião? Não é por aí", afirma.
"O segredo vai ser aprender a incorporar o capital natural na cadeia produtiva,
usá-lo para o desenvolvimento, aumentando a eficiência energética, por exemplo", diz o biólogo. Atitudes
individuais contam, mas mudanças reais terão de ser coletivas.
(REINALDO JOSÉ LOPES)
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