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O custo do fim
A destruição acelerada das espécies, além de colocar a economia mundial em risco, ameaça a própria sobrevivência do homem
DE SÃO PAULO
Metade das espécies de
animais e plantas pode desaparecer até o final deste século. O resultado seria desastroso não só para apaixonados por micos-leões e ursos-polares, como para a sobrevivência (e o bolso) de parte da
humanidade.
Isso porque biólogos estão
descobrindo que a variedade
de espécies mantém os ambientes da Terra funcionando a favor do homem.
Destruir espécies equivale
a colocar em risco os chamados serviços ambientais
-purificação de água, polinização, renovação do solo e
controle do clima-, que esses seres vivos mantêm em
atividade, de graça.
Tudo indica que, quanto
maior a diversidade num
ecossistema, mais alta é a capacidade de ele continuar
oferecendo tais serviços de
forma sustentável.
Um dos exemplos disso
vem da análise do biólogo
marinho Stephen Palumbi,
da Universidade Stanford
(EUA). Ele e seus colegas estudam os diversos casos de
colapso da indústria pesqueira mundo afora.
Desde a metade do século
20, 40% das espécies marinhas capturadas sofreram
colapsos, com seu número
de indivíduos caindo cerca
de 90% em décadas.
Quando a pesca passava a
ser controlada, muitos desses peixes voltavam a se multiplicar. Nas áreas com grande diversidade, a recuperação após o excesso de pesca
era mais rápida.
"A biodiversidade é um
enorme motor de produtividade", afirma Palumbi. Em
termos ecológicos, "produtividade" é a capacidade que a
vida tem de transformar matéria e energia em mais vida.
"Nosso estudo mostra que
deveríamos ter como regra
máxima dar apoio à diversidade natural de um ecossistema, nem que seja pela razão puramente egoísta de
querer que ele produza mais
para nós", afirma ele.
PREDADORES
Outro estudo americano,
coordenado por Jeremy Jackson, do Instituto Scripps de
Oceanografia, revela que tipo de desastre pode ocorrer
quando essa racionalidade
não é levada em conta.
No Atlântico Norte, 11 espécies de tubarão passaram
por colapsos por causa da
pesca. Resultado: as arraias
comidas pelos bichos passaram por uma explosão populacional, chegando a 40 milhões de indivíduos.
E as arraias, por sua vez,
são capazes de comer 840
mil toneladas de mariscos
por ano, levando a um novo
colapso pesqueiro.
A importância dos predadores mostra porque é preciso se preocupar com o sumiço de 20% das espécies de lagartos do mundo, estimado
para 2080 em pesquisa recente na revista "Science".
Um dos autores, o brasileiro Carlos Frederico Duarte
Rocha, da Uerj, diz que os
répteis "ajudam a controlar a
população de insetos e aracnídeos, além de servirem de
alimento para outros bichos".
Misture um mundo mais
quente, mais favorável aos
insetos, com menos lagartos
capazes de comê-los, e o
resultado não é nada agradável.
(REINALDO JOSÉ LOPES)
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