São Paulo, sábado, 05 de junho de 2010

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O custo do fim

A destruição acelerada das espécies, além de colocar a economia mundial em risco, ameaça a própria sobrevivência do homem

DE SÃO PAULO

Metade das espécies de animais e plantas pode desaparecer até o final deste século. O resultado seria desastroso não só para apaixonados por micos-leões e ursos-polares, como para a sobrevivência (e o bolso) de parte da humanidade.
Isso porque biólogos estão descobrindo que a variedade de espécies mantém os ambientes da Terra funcionando a favor do homem.
Destruir espécies equivale a colocar em risco os chamados serviços ambientais -purificação de água, polinização, renovação do solo e controle do clima-, que esses seres vivos mantêm em atividade, de graça.
Tudo indica que, quanto maior a diversidade num ecossistema, mais alta é a capacidade de ele continuar oferecendo tais serviços de forma sustentável.
Um dos exemplos disso vem da análise do biólogo marinho Stephen Palumbi, da Universidade Stanford (EUA). Ele e seus colegas estudam os diversos casos de colapso da indústria pesqueira mundo afora.
Desde a metade do século 20, 40% das espécies marinhas capturadas sofreram colapsos, com seu número de indivíduos caindo cerca de 90% em décadas.
Quando a pesca passava a ser controlada, muitos desses peixes voltavam a se multiplicar. Nas áreas com grande diversidade, a recuperação após o excesso de pesca era mais rápida.
"A biodiversidade é um enorme motor de produtividade", afirma Palumbi. Em termos ecológicos, "produtividade" é a capacidade que a vida tem de transformar matéria e energia em mais vida.
"Nosso estudo mostra que deveríamos ter como regra máxima dar apoio à diversidade natural de um ecossistema, nem que seja pela razão puramente egoísta de querer que ele produza mais para nós", afirma ele.

PREDADORES
Outro estudo americano, coordenado por Jeremy Jackson, do Instituto Scripps de Oceanografia, revela que tipo de desastre pode ocorrer quando essa racionalidade não é levada em conta.
No Atlântico Norte, 11 espécies de tubarão passaram por colapsos por causa da pesca. Resultado: as arraias comidas pelos bichos passaram por uma explosão populacional, chegando a 40 milhões de indivíduos.
E as arraias, por sua vez, são capazes de comer 840 mil toneladas de mariscos por ano, levando a um novo colapso pesqueiro.
A importância dos predadores mostra porque é preciso se preocupar com o sumiço de 20% das espécies de lagartos do mundo, estimado para 2080 em pesquisa recente na revista "Science".
Um dos autores, o brasileiro Carlos Frederico Duarte Rocha, da Uerj, diz que os répteis "ajudam a controlar a população de insetos e aracnídeos, além de servirem de alimento para outros bichos".
Misture um mundo mais quente, mais favorável aos insetos, com menos lagartos capazes de comê-los, e o resultado não é nada agradável. (REINALDO JOSÉ LOPES)


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