São Paulo, domingo, 05 de novembro de 2006

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IMPACTO NA CARREIRA

Na volta, promoção pode dar lugar a frustração

Empresa nem sempre aproveita ganho de experiência

RENATA DE GÁSPARI VALDEJÃO
MARIANA IWAKURA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Antes de partir, o executivo embala grandes expectativas sobre o efeito da expatriação em sua carreira. A volta, porém, causa uma certa apreensão sobre seu futuro na organização.
Para Francisco Ramirez, da consultoria Fesa, a expatriação significa crescimento e promoção na maioria das vezes. "Trabalhar em outro país quase sempre implica um trabalho mais complexo. Ao retornar, é provável que o profissional conquiste posição mais alta."
"Um percentual menor acaba fazendo carreira internacional e sendo transferido para outros países", completa Ivan Marc Ferber, consultor associado da consultoria Mercer. Ele afirma que expatriados -principalmente aqueles enviados para desenvolver a carreira- em geral são promovidos quando voltam.
Mas a aterrissagem em solo brasileiro pode reservar surpresas. Em alguns casos, o executivo alcança um patamar tão alto por causa de sua função como expatriado que não encontra mais lugar à sua altura na empresa ao retornar. "A solução, então, é ir para outra companhia", opina Ramirez.
É por essas e outras que a repatriação merece atenção especial. "Na volta, nem sempre os planos da pessoa batem com a oportunidade", avalia Luiz Carlos Cabrera, professor da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas e sócio-diretor da consultoria PMC & A.
A possibilidade de a empresa encolher, ser vendida ou fundir-se com outra também ameaça a recepção. "A previsibilidade dos negócios diminuiu", pondera Cabrera.
Segundo Ferber, as empresas reportam que perdem de 10% a 30% de seus repatriados em até um ano após seu retorno do exterior. "É um número alarmante", constata.

Insatisfação no retorno
Um levantamento feito apenas com empresas brasileiras pela professora Betania Tanure, da Fundação Dom Cabral, mostra que, após a repatriação, 87% dos profissionais não são promovidos e 80% deles sentem que sua experiência não é considerada pela companhia.
"A grande maioria quer se desenvolver, e a empresa não informa ao executivo que não tem esse objetivo [para ele]", pontua Tanure.
Segundo o estudo, a evasão é grande: 20% saem da empresa no primeiro ano após a volta, e 40%, no segundo. "A empresa perde o investimento feito."
Para garantir um bom retorno, profissional e empresa devem fazer sua parte. O executivo precisa ter uma visão do mapa político da organização.
A outra face da incumbência é da empresa. "O executivo volta com uma visão de mercado global e, se não é absorvido adequadamente, fica desmotivado", aponta Irene Miura, professora da FEA (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade) da USP em Ribeirão Preto (SP).


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