São Paulo, terça-feira, 06 de março de 2001

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A MORTE DE COVAS

Mulher, que esteve ao lado do governador até o final da vida, tinha 13 anos quando o viu pela 1ª vez, em jogo de basquete; ele, 16 anos

Família acompanhou carreira de perto

DO BANCO DE DADOS

Mário Covas Júnior nasceu em uma família rica -seu pai era comerciante de café, em Santos- e teve uma educação tradicional característica dos filhos da elite paulista. Estudou nos melhores colégios, praticou esportes e se casou com a namorada que vinha do mesmo estrato social que o seu.
Aos 15 anos, Covas acompanhou a separação dos pais, Mário e Arminda. Como a irmã Nídia morava em Curitiba, Covas passou a ser o único elo de ligação entre os pais.
Relembrando esse episódio, Covas declarou certa vez: "Isso nem sempre é fácil. Obriga a gente a amadurecer rápido. Em vez de você procurar ombros para se apoiar, seus ombros começam a ser procurados. Eu tinha boa relação com ambos. Não sei se estou dando a meus filhos o que recebi de meus pais".

Papel de Lila
Os filhos, Renata Covas Lopes e Mário Covas Neto, o Zuzinha, dificilmente reclamariam. Muito ligados aos pais, aprenderam cedo que a mãe, Lila, acumularia muitas vezes os papéis de pai e mãe.
Afinal, ainda pequenos, acompanharam a rotina de viagens do pai deputado federal, eleito pela primeira vez em 1962, que permanecia em Brasília durante a semana e só voltava para casa nos finais de semana.
A casa, no entanto, ficava sempre de portas abertas para amigos, políticos e correligionários.
O espaço destacado de Lila na família é revelado por uma declaração de Zuzinha sobre o relacionamento de seus pais: "Ele é completamente dependente dela".

Jogo de basquete
Essa união começaria em 1946, quando Covas, aos 16 anos, conheceu Florinda Gomes, então com 13 anos, numa quadra de basquete. Ela, acompanhando uma amiga, foi assistir a um jogo de basquete na escola em que estudava, em Santos. Covas, praticante de vários esportes -tênis, futebol, vôlei-, jogava também no time de basquete.
O namoro, conduzido nos moldes tradicionais da época -com horários rigidamente controlados pelos pais de Lila-, durou quatro anos, virou noivado, por mais quatro, e terminou em casamento, em outubro de 1954, um ano antes de Covas se formar engenheiro, na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo.

Morte da filha
Até hoje, o momento mais difícil que a família passou foi a perda da filha Sílvia, aos 19 anos, num acidente de moto, em 1º de janeiro de 1976.

Acompanhada por um amigo, José Luiz da Silva, que passara a noite de réveillon na casa da família, Sílvia foi dar um passeio e, numa curva da estrada Bertioga-Guarujá, a moto, dirigida por ele, chocou-se com um automóvel que vinha em sentido contrário.
Com a violência do impacto, José e Sílvia foram jogados a mais de 50 metros de distância.


Morte da filha Sílvia em acidente de moto no réveillon de 1976 marcou profundamente a vida da família, que nunca mais comemorou a data


Ele teve morte instantânea. Ela foi levada para a Santa Casa de Santos, mas morreu antes de receber os primeiros socorros. Desde então, a família não comemorou mais a passagem de ano.
A perda foi, em parte, superada, num encontro com o médium Chico Xavier, no mesmo ano. Em evento no ginásio de esportes de Santos, a família acredita ter conseguido se comunicar com a filha, o que confortou Covas e Lila.
A experiência, no entanto, não transformou o católico Mário Covas em espírita kardecista -seguidor de Allan Kardec, o codificador do espiritismo-, mas num "espiritualista cristão", como gostava de se definir em termos religiosos.
Procurando tratar, a partir dessa experiência, o assunto com naturalidade, a família passou a crer numa existência após a vida, como os seguidores do espiritismo.
Mais de meio século de convívio entre Covas e Lila não permitiu que o afeto entre os dois diminuísse, a ponto de manterem o hábito de dar as mãos, como faziam nos tempos de namoro.
Quando a doença de Covas surgiu, Lila se manteve sempre a seu lado. Em 10 de janeiro deste ano, quando Covas, debilitado pelo câncer, discursou de modo desconexo, Lila chegou a censurá-lo.
Seu cuidado a levou também a cultivar, numa horta no palácio de verão do governo do Estado, no Horto Florestal, legumes e vegetais para evitar que o marido ingerisse agrotóxicos.
Além de Lila, Covas era muito apegado aos quatro netos e procurava passar seu tempo livre ao lado deles e da mulher, como a compensar o pouco tempo que dedicou aos filhos, envolvido com a carreira política que abraçou e os cargos que ocupou durante toda a vida pública.
Certa vez, quando questionado se a vida de político valia a pena, Covas respondeu: "A pergunta não é exatamente se vale a pena. A pergunta é: "Você tem direito de sacrificar outras coisas?" Política exige demais e você não é uma pessoa normal no sentido dos costumes e horários. Se não tiver por parte da família uma compreensão muito grande, complica muito. Há políticos que se isolam de sua casa, de sua família. Eu nunca fiz isso. Desde que comecei, minha casa também foi o ambiente onde tudo acontece".


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