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País altera mapa da fé, mas não a sua religiosidade
97% DOS BRASILEIROS DIZEM ACREDITAR EM DEUS, 93%, QUE CRISTO RESSUSCITOU DEPOIS DE MORRER NA CRUZ, E 86%, QUE MARIA DEU A LUZ A JESUS SENDO VIRGEM
RAFAEL CARIELLO
DA REPORTAGEM LOCAL
O catolicismo continua a perder fiéis, especialmente para os
protestantes pentecostais, porém a religiosidade do brasileiro permanece altíssima, resultado em grande parte do trabalho de séculos de evangelização
empreendido pela Igreja Católica no país.
Pesquisa Datafolha sobre "os
brasileiros e a religião" revela
que, em 2007, 64% dos entrevistados se declaram católicos,
contra 70% em 2002, 72% em
1998 e 74% em 1996. O papa
Bento 16, que chega nesta semana a São Paulo, encontrará
um país com uma fatia menor
de católicos do que aquelas que
acolheram seu antecessor,
João Paulo 2º, em três visitas
ao Brasil (1980, 1991 e 1997).
O levantamento revela, no
entanto, que a velocidade de
queda da fração de católicos na
população brasileira tem diminuído. De acordo com Mauro
Paulino, diretor do Datafolha,
houve uma queda mais acentuada nos anos 90 na proporção de católicos (de um patamar de 75%, em 94, para outro
de 70%, no final do decênio).
No início da década atual, ele
diz, a fatia de católicos se estabiliza em torno de 70%. Entre
2003 e 2007, o patamar volta a
cair, mas, desta vez, para algo
em torno de 66%. "Houve nova
queda, mas não tão acentuada
quanto a detectada na década
anterior", afirma Paulino.
De acordo com o Censo
2000, 74% dos brasileiros
eram católicos. Enquanto o IBGE (Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística) inclui
indivíduos de todas as idades
em sua contagem, o Datafolha
realiza entrevistas apenas com
pessoas maiores de 16 anos.
De acordo com a pesquisa
Datafolha de março deste ano,
17% dos brasileiros dizem hoje
pertencer a uma religião
"evangélica pentecostal", 5% a
"evangélica não-pentecostal",
3% se declaram espíritas kardecistas, 1% diz pertencer à
umbanda, e 7% declaram não
ter religião.
Alta religiosidade
Ao mesmo tempo, 97% dos
entrevistados dizem acreditar
totalmente que Deus existe. Do
total, 86% acredita totalmente
que "Maria deu a luz a Jesus,
sendo virgem" (o índice é de
88% entre os católicos). E 93%
de todos os entrevistados (95%
dos que se dizem católicos) disseram crer que "Jesus ressuscitou após morrer na cruz".
"Os dados revelam que, no
Brasil, o povo conserva um forte espírito religioso, não acompanhando a secularização radical de outros países", afirma d.
Geraldo Majella, arcebispo de
Salvador e primaz do Brasil,
que encerra agora quatro anos
à frente da presidência da
CNBB (Conferência Nacional
dos Bispos do Brasil).
"Isso significa que a primeira
evangelização, realizada nos
cinco séculos de nossa história,
penetrou profundamente na
cultura do povo, deixando marcas significativas na identidade
das pessoas, na identidade do
povo. Permanece um substrato
católico no fundo do coração da
grande maioria dos brasileiros", afirma ele.
Ocorre que esse "substrato
católico" é responsável ao mesmo tempo pela força e pela fraqueza da igreja no país, diz Antônio Flávio Pierucci, sociólogo
da USP especializado em religiões (leia texto à pág. 4).
O catolicismo, diz ele, religião tradicional, exige pouco
dos fiéis e é "compassivo" com
os maus ou pouco praticantes.
Esse espírito "materno" do catolicismo, afirma Pierucci, "lhe
desguarnece os flancos quando
a concorrência aumenta".
Para d. Geraldo, a perda de
fiéis se relaciona de algum modo com o "espírito do tempo".
"Na cultura moderna, o foco de
interesse se desloca para o futuro, enquanto o passado tende
a ser desvalorizado. Tudo deve
ser novo, inclusive a religião, o
que se realiza quando a pessoa
passa por um processo de recusa ou de conversão."
De toda forma, o Brasil segue
sendo o maior país católico do
mundo, em número absoluto
de fiéis. Um dos seus traços distintivos é a devoção aos santos.
Os pentecostais, por seu turno,
se distinguem pela crença da
presença do Espírito Santo na
vida do fiel, manifestado em
"dons" como curas, milagres e
mudanças de estilo de vida.
Confirmando a linha de raciocínio de Pierucci, os católicos são os que menos afirmam
ter mudado hábitos por causa
de sua religião -apenas 9%.
São 54% entre os pentecostais
e 45% entre os evangélicos não-pentecostais os que declaram já
terem mudado algum hábito
por causa da fé.
Por outro lado, a pesquisa revela que mais pessoas dizem ir
com freqüência à missa ou a
serviços religiosos do que se supõe. Entre os católicos, 79% dizem ir à missa pelo menos uma
vez por mês; 51% do total pelo
menos uma vez por semana.
Para d. Geraldo, esse dado
testemunha um "crescimento
notável" da "qualidade da adesão" dos católicos à religião no
país. "Nos tempos passados, era
comum que a grande maioria
dos batizados se declarasse católico, mesmo não sendo praticante", ele diz. "Os dados da
Folha correspondem à percepção que temos de uma crescente mobilização", afirma o bispo,
referindo-se à declaração de
maior freqüência nas missas.
Para ele, essa é uma resposta
dos católicos ao avanço dos
protestantes. "O proselitismo
dos pentecostais, especialmente de algumas seitas cujos
membros devem dedicar diversas horas semanais para visitar
casas à procura de novos fiéis,
mudou profundamente a maneira de entender o que significa ser praticante, inclusive para
os católicos."
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