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MALUF
Empresário que se projetou durante o regime militar, Paulo Maluf acredita que a fórmula para o sucesso é a repetição incessante de seus slogans, mas já perdeu sete das dez eleições que disputou
O político mais insistente só tem medo de perder de novo
LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL
MAURICIO PULS
DA REDAÇÃO
"Em política, a fórmula do sucesso é a insistência e a repetição",
acredita Paulo Maluf. A fórmula
não tem funcionado bem, e seus
fracassos vêm se repetindo (sete
em dez eleições). Em 1990, revelou: "Estaria mentindo se dissesse
que não tenho medo de perder".
Projetou-se no regime militar, e
esse estigma tem pesado em suas
derrotas. Apesar disso, nunca trocou de partido. Seu partido é que
trocou de nome: Arena para PDS,
PDS para PPR, e deste para PPB.
Maluf nasceu em São Paulo em
3 de setembro de 1931, filho de
empresários de ascendência libanesa, e estudou no Colégio São
Luís, onde foi cruzado e congregado mariano: "Adorava matemática, não gostava de filosofia".
Seu pai, Salim Farah Maluf,
morreu no Natal de 1943. Seu irmão Roberto, aos 17 anos, deixou
a escola para dirigir as empresas, e
Maluf prosseguiu os estudos. Ingressou na Escola Politécnica da
USP em 1949. Em 1953, elegeu-se
diretor do Grêmio Politécnico.
Formou-se em 1954 e passou a
ser diretor-superintendente das
empresas da família, comandadas
por seu irmão. No ano seguinte,
casou-se com Sylvia Lutfalla, sua
vizinha. Em 1964, tornou-se vice-presidente da Associação Comercial de São Paulo. Tomou posse
em 30 de março, um dia antes da
queda de Jango. O sogro de Maluf,
Fuad Lutfalla, era um dos líderes
do Ipes, órgão que articulou o golpe. Maluf não se envolveu diretamente, mas apoiou o movimento.
Sua carreira política começou
graças à amizade com o general
Arthur da Costa e Silva. O general
tomou o Ministério da Guerra no
dia 1º de abril de 1964: não foi escolhido presidente, mas Castello
Branco não conseguiu tirá-lo do
cargo. Em 1966, foi eleito presidente pelo Congresso e, no ano
seguinte, indicou Maluf diretor da
Caixa Econômica Federal em São
Paulo. Dois anos depois, quando
o governador Abreu Sodré precisou nomear um prefeito de São
Paulo para um mandato de dois
anos, Costa e Silva indicou Maluf.
Tomou posse em 8 de abril de
1969. Concentrou mais de 60% do
orçamento em obras viárias. A
principal foi o Elevado Costa e Silva. Tentou persuadir o novo governador, Laudo Natel, a mantê-lo no posto. Não teve êxito, mas
virou secretário de Transportes.
Não conseguiu concluir a rodovia dos Imigrantes, mas ampliou
seu apoio entre os prefeitos da
Arena e, em 1974, tentou ser indicado candidato ao Senado. Falhou porque o presidente, Ernesto
Geisel, já havia escolhido Carvalho Pinto, e o obrigou a desistir.
Retomou suas atividades na Associação Comercial e, em 1976, foi
eleito presidente da entidade. Começou sua campanha para governador. Apostou na candidatura à
Presidência do ministro do Exército, Sylvio Frota, militar da linha-dura. Geisel, que apoiava o general João Baptista Figueiredo, demitiu Frota em outubro de 1977.
Sem esperança de ser indicado
pelo presidente, Maluf visitou todos os 1.261 delegados que iriam
votar na convenção da Arena. Em
abril, Geisel escolheu Laudo Natel, amigo de Figueiredo. Confiante, Laudo nem procurou os delegados. Na convenção, em 4 de junho de 1978, Maluf cumprimentava todos os arenistas chamando-os pelo nome. Venceu por 617
votos a 589. Laudo alegou que
Maluf era inelegível, mas perdeu
na Justiça Eleitoral. Em 1º de setembro de 1978, foi eleito governador pelo Colégio Eleitoral.
Maluf assumiu o governo em 15
de março de 1979. Criou a Paulipetro, estatal destinada a extrair
petróleo, que consumiu US$ 500
milhões na perfuração de 21 poços, mas só achou água e um pouco de gás. Comprou a Light e fez a
rodovia dos Trabalhadores.
Para reforçar sua candidatura
ao Planalto, passou a distribuir
ambulâncias a prefeituras e flores
a parentes de delegados do PDS.
Em 1982, disputou uma vaga de
deputado federal para fazer campanha ("gosto mais de fazer estrada que projeto de lei"). Seu candidato ao governo perdeu, mas Maluf foi eleito com 672.629 votos.
O novo presidente seria eleito
em 1985 por um Colégio Eleitoral,
no qual o PDS tinha leve maioria,
suficiente para ganhar, se o partido ficasse unido. Mas, para ser indicado candidato, Maluf tentou
cooptar parlamentares descontentes com seus líderes. Criou
profundos ressentimentos: "Numa eleição, só é feio não vencer".
Seus adversários eram o vice-presidente Aureliano Chaves e o
ministro Mário Andreazza. Aureliano era popular nas bases do
PDS, e Andreazza era apoiado pelos governadores. Depois que a
direção do PDS descartou uma
prévia para eleger o candidato,
Aureliano e 45 parlamentares deixaram o PDS para criar a Frente
Liberal. Em julho, o grupo anunciou seu apoio à candidatura de
Tancredo Neves (PMDB).
Com essa manobra, o PDS perdeu a maioria no colégio. Maluf
ainda venceu Andreazza na convenção do PDS, em 11 de agosto,
mas os governadores optaram pela oposição. Pediu ajuda a Figueiredo, que foi negada: "Maluf não
faz meu gênero". Maluf recorreu
ao TSE para exigir a fidelidade dos
dissidentes. Perdeu. No dia 15 de
janeiro, no Colégio Eleitoral, Tancredo venceu por 480 votos a 180.
Tentou voltar ao governo paulista em 1986: "Pobre não é ideológico, é fisiológico: vota em quem
faz". Além das obras, prometeu
segurança: "Em meu governo, lugar de bandido será na cadeia".
Mas ficou atrás de Orestes Quércia (PMDB) e Antônio Ermírio
(PTB). Em 1988, liderou as pesquisas a prefeito de São Paulo até
a última semana, quando foi superado por Luiza Erundina (PT).
Em 1989, Maluf tentou a Presidência outra vez. Um ex-malufista, Fernando Collor, disparou nas
pesquisas dizendo que iria moralizar o país, enquanto Maluf exibia suas obras. O "moralizador"
teve votos em todo o país, o
"construtor" só foi bem em São
Paulo. Ficou em quinto lugar.
Enfrentou nessa campanha a repercussão negativa de sua famosa
frase: "Se tem vontade sexual, tudo bem: estupra, mas não mata".
Em 1990, voltou a disputar o governo paulista, com o apoio de
Collor. Perdeu para Luiz Antônio
Fleury Filho (PMDB). Era chamado pelos adversários de candidato
competente: compete, compete e
nunca vence. A sucessão de derrotas não foi em vão: seu eleitorado dobrou entre 1986 e 1990.
Em 1992, tentou novamente a
Prefeitura de São Paulo. Ajudado
por Duda Mendonça, Maluf disse
que não era mais o mesmo: "Eu
mudei". Cooptou ex-comunistas,
visitou áreas carentes da periferia,
chegou a tocar cavaquinho nos
palanques. Foi eleito no segundo
turno com 58% dos votos válidos.
Assumiu em janeiro de 1993.
Imaginava que seria o principal
adversário de Lula (PT) em 1994.
Em abril de 1993, articulou a fusão
PDS-PDC, que criou o PPR: isso
lhe daria mais tempo na TV. Buscou o apoio do PFL, mas este fechou com Fernando Henrique
Cardoso, que preparava o Plano
Real. Procurou o PTB, que também escolheu FHC. Desistiu em
março de 1994: "Eu adoro uma
disputa, mas desta vez tive que
usar a cabeça e não o coração".
Planejou se candidatar ao Planalto em 1998. Construiu conjuntos habitacionais, túneis e avenidas, elevando a dívida pública de
R$ 2,2 bilhões para R$ 7,6 bilhões.
Em 1995 e 1996, a prefeitura chegou a gastar mais que o Ministério
dos Transportes. Em setembro de
1995, articulou a fusão PPR-PP,
criando o PPB (Partido Progressista Brasileiro) e, no ano seguinte, elegeu Celso Pitta.
Surgiram denúncias de irregularidades contra Pitta, e sua gestão
ficou paralisada pela dívida. Em
1997, novo revés: apesar de dizer
que "bicada de tucano não machuca", não pôde impedir a aprovação da emenda da reeleição.
Resignado, fechou um acordo
com FHC em junho de 1997,
apoiando sua reeleição, recebendo em troca o do PFL. Em 1998,
tentou se afastar de Pitta. No horário eleitoral, criticou o sucessor
-dois anos, havia dito: "Se o Pitta não for um bom prefeito, nunca mais votem em mim". Foi derrotado por Mário Covas (PSDB).
Pitta rompeu com ele após a
derrota. Demitiu os secretários
fiéis a Maluf e deixou o PPB, em
1999. O pior golpe veio quando
Nicéa Pitta deu uma entrevista
acusando Maluf de ter recebido
verbas desviadas. Ele negou tudo
e processou Nicéa, mas o estrago
foi grande. Caiu do segundo para
o terceiro lugar nas pesquisas, foi
abandonado por aliados.
Não desistiu. Prometeu consertar os erros de Pitta ("se eu sujei,
deixa eu limpar") e ficou em segundo lugar, 7.691 votos à frente
de Geraldo Alckmin (PSDB). No
turno final, atacou Marta ("de sexo ela entende; de administração,
não"). Perdeu, mas vai continuar
insistindo: "Se eu fosse olhar para
o passado, iria ser historiador".
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