São Paulo, domingo, 08 de setembro de 2002

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BALANÇO DE GUERRA

Ofensiva militar dos EUA no Afeganistão e medidas que limitam o financiamento de grupos terroristas abalaram a Al Qaeda. De acordo com analistas, porém, o grupo de Bin Laden mantém uma rede internacional intacta, capaz de explorar falhas de segurança ainda não corrigidas dentro do território americano

Abalado pelos EUA, terror resiste

MARCELO STAROBINAS
DA REDAÇÃO

Doze meses de ação militar e diplomática não deram aos EUA a vitória que desejavam na guerra ao terrorismo. O país ainda tem um longo caminho a percorrer para garantir a segurança contra novos ataques, sobretudo em seu território. Apesar disso, analistas consultados pela Folha dizem que o governo de George W. Bush promoveu mudanças importantes na forma como o mundo lida com grupos como a Al Qaeda.
Em primeiro lugar, destaca John Reppert, general da reserva dos EUA e professor da Universidade Harvard, "a maioria dos Estados passou da defensiva para uma postura ofensiva". "Eles não aguardam mais os ataques terroristas para responder. Pelo contrário, procuram-nos agressivamente antes de agirem. Isso diminuirá as chances de atentados."
Contudo a ofensiva liderada por Washington no Afeganistão abalou a Al Qaeda, mas ficou longe de derrotá-la. "A campanha não desmantelou a rede de pessoas já treinadas, que se dispersou pelo mundo. Essa rede segue intacta", opina Alex Standish, editor da publicação "Jane"s Intelligence Digest", com sede em Londres.
"Não sabemos muito sobre a Al Qaeda desde o 11 de setembro porque ela ficou sob a superfície", diz Alan Dershowitz, professor da Harvard Law School. "Saberemos quando emergirem. Não tenho dúvidas de que vão ressurgir."
Em seu novo livro, "Why Terrorism Works: Understanding the Threat, Responding to the Challenge" (Por que o terrorismo funciona: entendendo a ameaça, respondendo ao desafio), Dershowitz descarta a diplomacia como ferramenta para lidar com a ameaça terrorista. "Tentar construir pontes [com o mundo islâmico" e entender os terroristas fará com que o terrorismo se espalhe a outros grupos que gostariam de ser entendidos", argumenta.
Diferentemente de Estados inimigos, entretanto, os terroristas "não têm um endereço residencial", afirma Dershowitz. Assim, os últimos meses foram marcados pelo reconhecimento da necessidade de reformulação e cooperação dos serviços de inteligência.
Standish explica que agências como a americana CIA perceberam que não tinham pessoas qualificadas para interpretar mensagens nos idiomas usados pelo inimigo, como o árabe e o pashtu.
"No momento dos ataques de 11 de setembro, não havia um agente de campo da CIA fluente em pashtu", conta o jornalista britânico. "Eles ainda não têm especialistas suficientes. Tentam se recuperar, o que vai levar anos."
Após os atentados, os serviços europeus e americanos estão mais interconectados. "Uma informação que pode não parecer relevante na Europa pode ser muito importante em Washington", diz Standish.
Os aliados no combate ao terrorismo também se empenharam em cortar o financiamento de grupos terroristas. Segundo os analistas, as medidas adotadas não secaram as fontes de recursos da Al Qaeda -principalmente o dinheiro vindo da Arábia Saudita.
De todo modo, observa Reppert, o controle mais rigoroso das transações bancárias promete dificultar a vida dos seguidores de Bin Laden. "Criou-se uma transparência sem precedentes na forma como grupos movimentam dinheiro. Isso deve limitar diretamente operações terroristas de alto custo."

Problemas domésticos
O governo Bush se engajou no combate internacional ao terrorismo, mas é criticado por não ter alterado dramaticamente a segurança interna. Seu projeto de criação de um Departamento da Segurança Interna, com orçamento de US$ 38 bilhões para 2003, ainda não saiu do papel. Os controles de imigração e dos aeroportos foram reforçados, mas não a ponto de evitar nova catástrofe, dizem os especialistas. "A atuação de Bush não foi eficaz no campo doméstico", dispara Dershowitz. "É tão fácil hoje explodir um avião quanto era um ano atrás."


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