São Paulo, domingo, 08 de setembro de 2002

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ORIENTE MÉDIO

Atentados suicidas palestinos contra civis israelenses ajudaram a fortalecer alinhamento de Bush ao premiê Sharon

Ataques alteram dinâmica do conflito israelo-palestino

DA REDAÇÃO

Os atentados alteraram a dinâmica do conflito no Oriente Médio e tornaram as perspectivas de paz na região mais distantes.
Após os ataques terroristas, israelenses e palestinos compreenderam rapidamente que poderiam se beneficiar de uma ampla aliança com os Estados Unidos.
O líder palestino Iasser Arafat é "nosso Bin Laden", disse o premiê de Israel, Ariel Sharon, ao secretário de Estado dos EUA, Colin Powell, poucos dias após os ataques.
À época, autoridades norte-americanas não deram maior importância à declaração devido a seus esforços em angariar apoio entre os Estados árabes para sua campanha no Afeganistão.
Já Arafat se deixou fotografar doando sangue para as vítimas dos atentados, enquanto seus ministros comparavam o Ponto Zero de Manhattan às cidades palestinas após as ações israelenses.
Os dirigentes palestinos se distanciaram de Osama bin Laden e de suas oportunistas reivindicações em prol da fundação de um Estado soberano enquanto Israel rechaçava a idéia de que os 35 anos de ocupação da faixa de Gaza e da Cisjordânia motivassem atentados como o contra os EUA.
Mas, à medida que crescia o número de operações suicidas palestinas contra civis israelenses, a credibilidade de Arafat diminuía, pois Israel e os EUA o acusavam de não combater a violência -ou de incentivá-la. Ao mesmo tempo, Washington se mostrava mais tolerante com a ofensiva contra a Autoridade Nacional Palestina e as restrições impostas aos palestinos pelo governo Sharon.
Em abril, enquanto a ONU descrevia a ação militar na Cisjordânia de "episódio triste" na história de Israel, Bush descrevia Sharon como "um homem de paz", embora ele tenha votado contra tratados ou tentativas de negociações e condenado retiradas militares, além de promover a ampliação dos assentamentos judaicos. "O fato de que uma comissão israelense tenha concluído que Sharon teve responsabilidade indireta pelos massacres de Sabra e Chatila [campos de refugiados no Líbano], em 1982, não impediu o pleno alinhamento de Bush a Sharon", afirma o cientista político palestino Ali Jarbawi.
Arafat perdeu definitivamente a guerra de propaganda em 24 de junho, quando o presidente Bush declarou que "a paz requer uma nova e diferente liderança palestina. Somente assim um Estado palestino pode ser criado".
As relações entre EUA e Arábia Saudita também se deterioraram -15 dos 19 sequestradores do 11 de setembro eram sauditas. Aliados estratégicos, os dois países jamais registraram tensão semelhante à dos últimos meses. Especialistas consultados pelo Pentágono chegaram a declarar o país "inimigo" e recomendaram que seus poços de petróleo fossem atingidos, embora o Departamento da Defesa dos EUA tenha se distanciado dessa visão. Em mais um sinal do distanciamento, a companhia Saudi Aramco acaba de anunciar que talvez não envie aos EUA estudantes que financia.
"Os eventos de 11 de setembro tiveram um impacto em todo o mundo, e houve esperança de uma mudança de mentalidade no Oriente Médio", afirma Ephraim Inbar, especialista do Centro Begin-Sadat para Estudos Estratégicos, de Tel Aviv. "Infelizmente, isso não ocorreu." (PDF)


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