São Paulo, sexta-feira, 09 de agosto de 2002 |
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DINHEIRO GLOBO FECHA A TORNEIRA
O penta pode ter dado mais prestígio ao futebol brasileiro. Mas dinheiro, que também é bom, não. Se na Europa os clubes estão sofrendo com dificuldades financeiras, devido principalmente à redução no valor das cotas de TV, no Brasil, onde a dependência em relação a elas é ainda maior, o problema se agiganta. E, de acordo com o Clube dos 13, associação que reúne 20 dos principais times do país, não parece haver solução a curto prazo. A cúpula da entidade acha que uma saída pode ser abraçar a proposta da Globo e do Grupo Especial de Trabalho do Ministério do Esporte e adotar a fórmula dos campeonatos europeus. O Brasileiro passaria a ser disputado em turno e returno, com todos os times jogando entre si e levando o título aquele que obtivesse mais pontos. A competição passaria de quatro para oito meses, com as partidas sempre aos fins-de-semana. Para o C13, é a forma de valorizar o Nacional, que, desde 1971, quando foi realizado pela primeira vez, não consegue manter o sistema de disputa de uma edição para outra. Alegando dificuldades para vender o futebol -a Globo Esportes, braço esportivo da Globo, diz que irá receber no máximo R$ 70 milhões em cotas publicitárias-, a emissora forçou os clubes a aceitarem redução no valor dos direitos de TV. Dos previstos US$ 80 milhões -R$ 241,2 milhões, pela cotação de quarta-, passou a R$ 130 milhões. Para o ano que vem, será de R$ 150 milhões -mas só se o Brasileiro for, de fato, esticado. Não faltou chiadeira entre os clubes, mas, no final, eles acabaram concordando com a mudança no contrato, segundo a qual, além da redução no valor, ele deixaria de ser atrelado ao dólar. ""A realidade é essa, e temos que nos conformar", comentou Gilberto Cardoso Filho, que substituiu Edmundo Santos Silva na presidência do Flamengo. ""Ninguém iria oferecer mais do que isso. Ou aceitávamos os R$ 130 milhões ou ficávamos sem receber nada." Como já adiantou parte do dinheiro -cerca de R$ 72 milhões-, a Globo ficou de dar seis parcelas de R$ 20 milhões ao C13, das quais R$ 62 milhões serviriam como adiantamento pelo Brasileiro do ano que vem. "É muito pouco, mas não houve proposta melhor. O jeito é adequar o orçamento à nova realidade", disse Fernando Carvalho, presidente do Internacional. Para o time gaúcho, devem ser pagos R$ 3 milhões, já que outros R$ 2 milhões a que o clube tinha direito já teriam lhe sido pagos no início do ano como adiantamento. Mas há quem veja nesse novo cenário uma perspectiva positiva. É o caso de Marcelo Teixeira, presidente do Santos. "Se o campeonato estivesse cheio de medalhões, ficaria mais difícil dar oportunidade para quem vem das categorias de base. Esse Brasileiro é a grande chance de revelarmos novos valores. E não falo só no Santos, mas também nas outras equipes. Uma nova geração pode estar surgindo", opinou. Ele lembrou que, no Santos, o meia Diego, 17, que disputará seu primeiro Brasileiro, é a grande esperança. Com um time modesto -a folha salarial caiu quase dez vezes em relação à do ano passado-, Teixeira vê uma boa possibilidade de repetir a experiência dos "Meninos da Vila", grupo de jogadores até então pouco conhecidos, como Pita, Juari e Nilton Batata, que entrou para a história do clube ao conquistar o Paulista de 1978 diante do São Paulo. O São Caetano, por sua vez, que receberá apenas R$ 1,1 milhão de cota de TV, quase sete vezes menos que times como Corinthians, Flamengo e São Paulo, manterá a política pés-no-chão. O presidente Nairo Ferreira lembrou que, enquanto clubes de primeira linha, como Fla e Vasco, têm atrasado salários, o time do ABC, mesmo com menos receitas, paga em dia. Texto Anterior: Guia do Brasileiro Próximo Texto: Crise: Cortes atingem bichos Índice |
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