São Paulo, domingo, 10 de agosto de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

DOIS GUMES

Principal reclamação, trânsito ruim é fruto de comércio elogiado

Oferta de lojas e de serviços traz problemas como o excesso de carros; em Moema, 26% se queixam do tráfego, mais que o dobro de SP

Patricia Stavis/Folha Imagem
Confusão de carros na avenida Bem-Te-Vi, em Moema, onde há concentração de lojas e poucas vagas disponíveis para estacionar

TALITA BEDINELLI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Morar em um local com comércio forte é o inferno e o paraíso dos moradores da zona sul. Para aproveitar a oferta de lojas e serviços, o quesito mais valorizado na região, eles têm de se haver com o trânsito, principal reclamação. Na região, 30% acham o comércio a principal qualidade; para 15%, o trânsito é o principal problema. Em Moema, os dois índices são, respectivamente, de 58% e 26%; na Vila Mariana, de 33% e 25%; na Saúde, de 36% e 12%; no Campo Belo, de 31% e 17%.
"As regiões que concentram boa oferta de serviços atraem viagens de várias regiões, tanto pelo motivo de consumo dessa oferta de serviços, como pelos empregos que ela gera", diz Raquel Rolnik, professora do departamento de planejamento urbano da FAU-USP.
"Tem dias, principalmente aos sábados, em que demoro 20 minutos para andar esse quarteirão", diz a secretária Sandra Almeida, 60, apontando para o trecho na avenida Bem-Te-Vi, em Moema, onde lojas de sapato se enfileiram umas ao lado das outras. Em uma das maiores, a Shoe Stock, o movimento é de 300 a 400 carros por dia durante a semana, segundo manobristas da loja. Aos sábados, a freqüência sobe para quase mil veículos por dia.
Para Claudio Barbieri da Cunha, professor de engenharia de transportes da Escola Politécnica da USP, o crescimento comercial em Moema não foi acompanhado por um planejamento no trânsito. " Quando se dá licenciamento a um empreendimento, é preciso analisar o fluxo que ele vai gerar."
"A maioria dos estabelecimentos que vai para Moema não tem estacionamento próprio. E como Moema não tem terreno vazio, não é possível criar estacionamentos. As pessoas ficam circulando para procurar vagas, param em fila dupla e acabam causando muitos inconvenientes", diz Cunha.
Os amigos do analista de sistemas Leonardo Gomes, 34, morador da rua Canário, passam por isso toda vez que vão visitá-lo. O prédio onde ele mora não tem vagas para visitantes e parar na rua é um exercício de paciência, principalmente aos sábados. "Eles reclamam que precisam ficar rodando para encontrar vagas", conta. Outro morador da rua Canário, o estudante Fábio Siqueira, 23, também se queixa da lentidão. "Já demorei uns 15 minutos em um trecho que não faria em mais de cinco"", lembra.
Para Pedro Taddei Neto, presidente da Fundação para a Pesquisa Ambiental, ligada à FAU-USP, o comércio, ao mesmo tempo em que agrega valor, causa o adensamento da região.
"O nível pode chegar a um grau tal que passa a se desvalorizar como moradia. Além do trânsito, pode haver uma amplificação do ruído externo a um ponto insuportável", afirma. Barulho é outro fator de incômodo na região.


Colaborou JOÃO PEQUENO

Texto Anterior: Frase
Próximo Texto: Frase
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.