São Paulo, sábado, 10 de dezembro de 2005

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O SORTEIO DAS CHAVES

Técnico do time que terminou a Copa alemã em quarto lugar, o hoje auxiliar diz que rivais tremem ao enfrentar o Brasil

Surpreso em 74, Zagallo não vê novidade em 06

DO ENVIADO A LEIPZIG

O coordenador técnico da seleção brasileira, Mario Jorge Lobo Zagallo, 74, foi um dos grandes personagens da primeira Copa na Alemanha, em 1974. Técnico do Brasil, deu declarações minimizando o "Carrossel Holandês" e, após cair diante do rival laranja e ficar fora da final, teve um dos grandes dissabores da vitoriosa carreira, que lista quatro títulos mundiais em diferentes funções.
A queda nos campos alemães o levou a ficar bom tempo fora do Brasil, trabalhando em especial no Oriente Médio, e só duas décadas depois, em 1994, voltaria a uma Copa com sucesso. O maior defensor da "amarelinha" virou lenda, superou críticas e é alvo de homenagens, como na premiação dos melhores do Nacional-2005.
Ele, que foi a Leipzig acompanhar o sorteio de mais uma Copa, falou à Folha sobre seu retorno à Alemanha, um país bem diferente daquele que o marcou em 1974, e de sua luta para ser mais uma vez campeão -passou por delicada cirurgia neste ano e teve que se afastar da equipe nacional por alguns meses. (RODRIGO BUENO)
 

Folha - Como viu a Alemanha em 1974 e como vê a Alemanha agora? É um outro país mesmo?
Zagallo -
Sou do tempo do muro [de Berlim]. Em 1974, ainda dava para ver vestígios da guerra. Tinha a Alemanha Oriental. Hoje a Alemanha está recuperada.

Folha - O Brasil em 1974 ficou em rígido regime de concentração e houve pouco contato com a imprensa. Agora, optou pelos ares da Suíça antes da Copa e é mais aberto à mídia. Dá para explicar?
Zagallo -
Em 1974, ficamos na Floresta Negra, um lugar para concentração mesmo, mas tinha períodos de entrevistas. Para o ano que vem, ainda vamos ver algumas cidades na Alemanha. Três coisas são importantes: hotel, campo próximo de treinamento e aeroporto. Vamos ficar primeiro na Suíça, onde escolhemos um bom lugar, com grande qualidade, e uns dias antes da estréia vamos à Alemanha.

Folha - O time atual da Alemanha não assusta tanto quanto aquele de 1974 que foi campeão. Certo?
Zagallo -
A Alemanha unificada fica fortalecida. E eles não disputaram as eliminatórias. Eles ficam dizendo que nós somos tão favoritos para nos desestabilizar. Só o Brasil, dentre as potências do futebol, não venceu a Copa em casa. Alemanha, Itália, Argentina, todos eles ganharam a Copa em casa. Nós perdemos em 1950.

Folha - Acha bom o favoritismo?
Zagallo -
Acho normal. Nós ganhamos a Copa América, a Copa das Confederações, a última Copa do Mundo, somos líderes do ranking da Fifa... É como eu sempre digo. Todos tremem quando vêem a "amarelinha".

Folha - Acha que pode surgir alguma surpresa tática ou time-sensação, como a Holanda há 31 anos?
Zagallo -
Acho difícil ter alguma surpresa como foi a Holanda naquela Copa. Hoje, ao contrário daquela época, todos jogos passam na TV. Todo mundo sabe o que acontece com todo mundo. Acho que não vai ter mais nada de diferente. Mas já atacávamos em bloco em 1970. Jairzinho, Pelé, Tostão, Rivellino e o Gérson atacavam. Só o Clodoaldo ficava mais na marcação [do meio para a frente]. Nós só não fazíamos a marcação por pressão. Mas também tinha a altitude do México. Fizemos preparação especial para jogar na altitude. Pode ver que ganhamos quase todos os jogos no segundo tempo em 1970.

Folha - O senhor disse mesmo antes do jogo com a Holanda de Rinus Michels que eles jogavam um "tico-tico no fubá"?
Zagallo -
Disse isso sim. Foi para não exaltá-la para os nossos jogadores. Eu já tinha visto a Holanda jogar no estádio. Não fui surpreendido como escreveram. Publicaram errado que eu fiquei surpreendido. Mas eliminamos a Holanda em 1994 e 1998. A Laranja Mecânica já foi espremida.

Folha - Torce para fazer o frio de Copa-1974 ou o clima quente da Copa das Confederações vencida pela Brasil neste ano?
Zagallo -
Tomara que faça calor, assim como nos EUA [1994]. Nossos atletas sentem menos o calor.

Folha - O senhor foi muito criticado em 1974. Teria um gostinho especial vencer a Copa na Alemanha?
Zagallo -
O importante para mim é ganhar o título, abrir uma distância em relação aos outros.

Folha - O senhor é o segundo técnico com mais jogos na história das Copas [20 partidas]. Mas Parreira [15 jogos] vai superá-lo se o Brasil for à semifinal. Como vê isso?
Zagallo -
Serei hexa também, e o Parreira será bicampeão como técnico. Seremos bicampeões.

Folha - Parreira acena com a saída da seleção após a Copa. O senhor continuará? Aceitaria ser técnico e sucedê-lo mais uma vez?
Zagallo -
A não ser que não me queiram, vou continuar na seleção. Trabalho é saúde. Ficaria na minha posição como estou hoje, mas teria plenas condições. Lembro que o Parreira não queria mais ser técnico da seleção. Disse ao presidente [Ricardo Teixeira, da CBF] que deixasse comigo que iria falar com ele. Aí ele aceitou.


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