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O SORTEIO DAS CHAVES
Técnico do time que terminou a Copa alemã em quarto lugar, o hoje auxiliar diz que rivais tremem ao enfrentar o Brasil
Surpreso em 74, Zagallo não vê novidade em 06
DO ENVIADO A LEIPZIG
O coordenador técnico da seleção brasileira, Mario Jorge Lobo
Zagallo, 74, foi um dos grandes
personagens da primeira Copa na
Alemanha, em 1974. Técnico do
Brasil, deu declarações minimizando o "Carrossel Holandês" e,
após cair diante do rival laranja e
ficar fora da final, teve um dos
grandes dissabores da vitoriosa
carreira, que lista quatro títulos
mundiais em diferentes funções.
A queda nos campos alemães o
levou a ficar bom tempo fora do
Brasil, trabalhando em especial
no Oriente Médio, e só duas décadas depois, em 1994, voltaria a
uma Copa com sucesso. O maior
defensor da "amarelinha" virou
lenda, superou críticas e é alvo de
homenagens, como na premiação
dos melhores do Nacional-2005.
Ele, que foi a Leipzig acompanhar o sorteio de mais uma Copa,
falou à Folha sobre seu retorno à
Alemanha, um país bem diferente
daquele que o marcou em 1974, e
de sua luta para ser mais uma vez
campeão -passou por delicada
cirurgia neste ano e teve que se
afastar da equipe nacional por alguns meses.
(RODRIGO BUENO)
Folha - Como viu a Alemanha em
1974 e como vê a Alemanha agora?
É um outro país mesmo?
Zagallo - Sou do tempo do muro
[de Berlim]. Em 1974, ainda dava
para ver vestígios da guerra. Tinha a Alemanha Oriental. Hoje a
Alemanha está recuperada.
Folha - O Brasil em 1974 ficou em
rígido regime de concentração e
houve pouco contato com a imprensa. Agora, optou pelos ares da
Suíça antes da Copa e é mais aberto
à mídia. Dá para explicar?
Zagallo - Em 1974, ficamos na
Floresta Negra, um lugar para
concentração mesmo, mas tinha
períodos de entrevistas. Para o
ano que vem, ainda vamos ver algumas cidades na Alemanha.
Três coisas são importantes: hotel, campo próximo de treinamento e aeroporto. Vamos ficar
primeiro na Suíça, onde escolhemos um bom lugar, com grande
qualidade, e uns dias antes da estréia vamos à Alemanha.
Folha - O time atual da Alemanha
não assusta tanto quanto aquele
de 1974 que foi campeão. Certo?
Zagallo - A Alemanha unificada
fica fortalecida. E eles não disputaram as eliminatórias. Eles ficam
dizendo que nós somos tão favoritos para nos desestabilizar. Só o
Brasil, dentre as potências do futebol, não venceu a Copa em casa.
Alemanha, Itália, Argentina, todos eles ganharam a Copa em casa. Nós perdemos em 1950.
Folha - Acha bom o favoritismo?
Zagallo - Acho normal. Nós ganhamos a Copa América, a Copa
das Confederações, a última Copa
do Mundo, somos líderes do ranking da Fifa... É como eu sempre
digo. Todos tremem quando
vêem a "amarelinha".
Folha - Acha que pode surgir alguma surpresa tática ou time-sensação, como a Holanda há 31 anos?
Zagallo - Acho difícil ter alguma
surpresa como foi a Holanda naquela Copa. Hoje, ao contrário
daquela época, todos jogos passam na TV. Todo mundo sabe o
que acontece com todo mundo.
Acho que não vai ter mais nada de
diferente. Mas já atacávamos em
bloco em 1970. Jairzinho, Pelé,
Tostão, Rivellino e o Gérson atacavam. Só o Clodoaldo ficava
mais na marcação [do meio para
a frente]. Nós só não fazíamos a
marcação por pressão. Mas também tinha a altitude do México.
Fizemos preparação especial para
jogar na altitude. Pode ver que ganhamos quase todos os jogos no
segundo tempo em 1970.
Folha - O senhor disse mesmo
antes do jogo com a Holanda de Rinus Michels que eles jogavam um
"tico-tico no fubá"?
Zagallo - Disse isso sim. Foi para
não exaltá-la para os nossos jogadores. Eu já tinha visto a Holanda
jogar no estádio. Não fui surpreendido como escreveram. Publicaram errado que eu fiquei surpreendido. Mas eliminamos a
Holanda em 1994 e 1998. A Laranja Mecânica já foi espremida.
Folha - Torce para fazer o frio de
Copa-1974 ou o clima quente da
Copa das Confederações vencida
pela Brasil neste ano?
Zagallo - Tomara que faça calor,
assim como nos EUA [1994]. Nossos atletas sentem menos o calor.
Folha - O senhor foi muito criticado em 1974. Teria um gostinho especial vencer a Copa na Alemanha?
Zagallo - O importante para
mim é ganhar o título, abrir uma
distância em relação aos outros.
Folha - O senhor é o segundo técnico com mais jogos na história das
Copas [20 partidas]. Mas Parreira
[15 jogos] vai superá-lo se o Brasil
for à semifinal. Como vê isso?
Zagallo - Serei hexa também, e o
Parreira será bicampeão como
técnico. Seremos bicampeões.
Folha - Parreira acena com a saída da seleção após a Copa. O senhor continuará? Aceitaria ser técnico e sucedê-lo mais uma vez?
Zagallo - A não ser que não me
queiram, vou continuar na seleção. Trabalho é saúde. Ficaria na
minha posição como estou hoje,
mas teria plenas condições. Lembro que o Parreira não queria
mais ser técnico da seleção. Disse
ao presidente [Ricardo Teixeira,
da CBF] que deixasse comigo que
iria falar com ele. Aí ele aceitou.
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