São Paulo, domingo, 11 de setembro de 2011

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Al Qaeda perde força, mas inspira novos terroristas

Enquanto EUA veem paranoia em Nova York diminuir, atingidos por invasões americanas ainda temem terror

Fotos Sean Adair - 11.set.2001/Reuters
Sequência mostra voo 175 momentos antes de bater na segunda torre do WTC e a explosão causada pelo choque, que levou ao desmoronamento do prédio após 56 minutos; a torre norte cairia 29 minutos depois da primeira

DO ENVIADO AOS EUA, AO AFEGANISTÃO, AO PAQUISTÃO E AO IRAQUE

Como objetivo estratégico, a derrota do terrorismo durante a guerra dos dez anos era inalcançável por utópico.
Isso dito, o Ocidente conseguiu reduzir a ameaça da Al Qaeda desde o 11 de Setembro. O sucesso americano é ainda maior: nenhum grande ataque ocorreu em seu solo desde então.
Há duas questões colocadas. A primeira, sobre o custo dessa vitória até aqui. A segunda, sobre sua evidente fragilidade: basta um ataque bem-sucedido, e tentativas não faltaram nessa década, para toda a sensação de segurança se desfazer.
"Não gosto de Guantánamo, nem de quase ficar pelado quando vou embarcar num avião", resume Patrick Kerisson, operador de mercado financeiro em Nova York.
A violação de direitos humanos na citada prisão americana em Cuba, a tortura, fora o prosaico fato de que não é possível entrar numa aeronave com uma lixa de unha são testemunhas do custo na visão ocidental-liberal.
Seja como for, afirma Kerrisson, é inegável que a paranoia em Nova York está dissipada. Não somente lá: após os grandes atentados de Madri (2004, 191 mortos) e Londres (2005, 52 mortos), a Al Qaeda perdeu eficácia no continente europeu.
Para moradores dos países comumente associado ao "outro lado", a questão é outra: o terror só fez aumentar em seus países no período.
"Não me venham falar em fim da guerra. Ela está aqui, todos os dias", afirma o diretor da Casa Teatro e Cinema de Bagdá, Ibrahim Haroun.
Ele não acha sustentável a redução da violência no país _que os americanos atribuem ao aumento temporário de tropas em 2007, mas muitos creditam a um acordo político com os xiitas e grupos pró-Irã. Com efeito, a estratégia não foi tão eficaz quando repetida no Afeganistão.
Faz coro a ele o jornalista Syed Mohammad, de Islamabad, que perdeu um irmão em um atentado, em Karachi. "Infelizmente, foi aberta uma caixa de Pandora com essa guerra que agora os americanos declararam acabada."

NOVOS GRUPOS
E outros lugares foram afetados, como os atentados na Rússia, na Indonésia e na Índia deixaram claro.
Mas existe um ponto importante: todos esses ataques, assim como a insurreição no Iraque, contêm componentes regionais importantes que os afastam da Al Qaeda como algo mais que uma marca, uma franquia.
"Como um fenômeno global, a rede atingiu seu pico há alguns anos", diz Nigel Inkster, diretor de Ameaças Transnacionais e Risco Político do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, de Londres.
"A agenda de Bin Laden fracassou, como a Primavera Árabe deixou claro. Mas a ideologia jihadista segue inspirando jovens muçulmanos porque é capaz de unir-se a causas regionais diferentes, tirando proveito de locais em que o Estado está ausente. Isso é claro no Afeganistão, no Paquistão, no Iêmen e na Somália", diz Inkster.
"Então acho que o jihadismo seguirá como uma força de desestabilização por algum tempo", completa.
A opinião é compartilhada pelo autor do melhor resumo até aqui dos dez anos de conflito, o jornalista americano Peter Berger, que escreveu "A Mais Longa Guerra". Para ele, a data foi o apogeu da operacionalidade da Al Qaeda.
Tanto ele quanto Inkster concordam que a questão para o Ocidente não é a de quando haverá um novo atentado terrorista, porque ele sempre estará à espreita.
Mas sim como ele será tratado: como um risco ocupacional de ser potência ou como uma verdadeira ameaça existencial que justifica toda a sorte de excessos e aventuras militares.
(IGOR GIELOW)


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