São Paulo, domingo, 11 de setembro de 2011

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ANÁLISE

Vitória final será daquele que aliar força à melhor história


O TERRORISMO PODE TENTAR PERSUADIR O ATOR MAIOR A FAZER MAL A SI MESMO, E NISSO BIN LADEN SE SAIU BEM

JOSEPH S. NYE JR.
ESPECIAL PARA A FOLHA

O 11 de Setembro foi um momento decisivo na história mundial? Ainda é cedo para dizer. Afinal, as lições da Primeira Guerra pareceram muito diferentes em 1939 do que tinham se afigurado uma mera década depois de 1918.
Como argumento em "The Future of Power" (o futuro do poder, em tradução livre), um dos grandes deslocamentos de poder deste século é o empoderamento crescente de atores não estatais, e o 11 de Setembro ilustrou essa tendência de longo prazo.
Em 2001, um ataque de atores não estatais matou mais americanos que os mortos em um ataque governamental em Pearl Harbor em 1941.
Mas essa "privatização da guerra" já estava acontecendo antes do 11 de Setembro, e alguns relatórios governamentais americanos na década de 1990 chegaram a avisar que estava por vir.
O efeito de longo prazo depende de como os EUA reagem e das lições que aprenderam. No curto prazo da década passada, os EUA aprenderam a levar a nova ameaça a sério, aprimoraram procedimentos de segurança e foram capazes de impedir uma repetição do 11 de Setembro.
Mas há uma questão mais ampla envolvida no terrorismo. Analistas frequentemente supõem que a vitória fique com o lado que possui mais força ou "hard power" (poderio econômico e militar).
Mas, na era da informação, o êxito também depende de quem tem a melhor história.
As narrativas concorrentes têm importância. O ator menor não pode competir com o maior em termos do poderio militar, mas pode usar atos violentos para definir a agenda mundial e construir narrativas que afetam o "soft power" (poder de persuasão) de seu alvo.
Ademais, o terrorismo pode tentar persuadir o ator maior a fazer mal a si mesmo, e nisso Osama bin Laden se saiu muito bem. Com um investimento muito pequeno, produziu efeitos importantes.
A crise do 11 de Setembro gerou uma oportunidade para George W. Bush expressar uma nova narrativa e visão de política externa.
É difícil visualizar a Guerra do Iraque sem o 11 de Setembro. Contudo, pelo fato de não ter compreendido o contexto cultural e político mais amplo, a estratégia de Bush agravou as coisas.
Fossem quais fossem os benefícios de afastar Saddam Hussein do poder, não resolveriam o problema do terrorismo, e os custos superavam de longe os benefícios.
O trilhão de dólares de custos da guerra contribuiu para o deficit orçamentário americano que assola o país hoje, e Bin Laden pôde prejudicar o "soft power" americano, além do "hard power".
Mas os verdadeiros custos do 11 de Setembro talvez sejam os custos em oportunidades. Enquanto a economia mundial foi aos poucos movendo seu centro de gravidade em direção à Ásia (o outro grande deslocamento de poder que descrevo em meu livro), os EUA tiveram sua atenção dominada por uma guerra equivocada, travada por opção, no Oriente Médio.
A lição do 11 de Setembro é que no combate ao terrorismo o "hard power" militar é essencial para lidar com casos difíceis como Bin Laden, mas precisa ser direcionado cuidadosamente para um alvo certo, e o "soft power" da atração por meio de ideias e legitimidade é igualmente importante para conquistar os corações e mentes de grande parte das populações muçulmanas -a partir das quais a Al Qaeda e suas imitadoras gostariam de obter recrutas.
Felizmente, a estratégia americana após o 11 de Setembro começou a mudar.
A resposta à pergunta sobre a história no longo prazo será se fomos bem-sucedidos em implementar uma estratégia que equilibre "hard power" e "soft power" no contraterrorismo, evite o envolvimento em guerras terrestres de ocupação e enfoque a conservação da força da economia americana.
Se sim, é possível que em seu vigésimo aniversário o 11 de Setembro já não seja visto como um momento historicamente tão decisivo.

JOSEPH S. NYE, JR. é professor da Escola Harvard Kennedy e autor de "The Future of Power". Este artigo foi escrito com exclusividade para a Folha.

Tradução de CLARA ALLAIN



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