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vale a pena?
Sempre custa mais
Relatório do governo lista geração de empregos e aumento no turismo e no consumo, mas estudos minimizam esse impacto e lembram que estouros no orçamento são comuns
MARIANA BASTOS
DE SÃO PAULO
Afinal, abrigar uma Copa
traz benefícios econômicos
para o país-sede? Não há
uma resposta definitiva para
essa pergunta.
Os relatórios de impacto
econômico, encomendados
pela Fifa ou pelos governos
das sedes, indicam invariavelmente que sim. Sediar um
Mundial pode impulsionar a
economia nacional.
Por outro lado, estudos independentes, realizados por
universidades dos países-sede após a realização do evento, minimizam esse impacto.
"Se o governo me paga para escrever um relatório, então é claro que eu o escreverei dizendo o que o governo
quer ouvir. O governo quer
ouvir que a Copa será sucesso econômico", pondera o
jornalista Simon Kuper, que
é co-autor do livro ""Soccernomics", junto ao economista Stefan Szymanski.
Assim como as sedes anteriores, o Brasil já tem o seu relatório de impacto econômico, encomendado pelo Ministério do Esporte à consultoria Value Partners Brasil.
Segundo o documento, o
Brasil investirá R$ 33 bilhões
em infraestrutura. E, por sediar a Copa, o país receberá
R$ 9,4 bilhões devido ao incremento no turismo, arrecadará R$ 16,8 milhões em tributos e haverá a geração de
330 mil empregos permanentes e 380 mil temporários.
Além disso, o Mundial ainda aumentará o consumo
nas famílias em R$ 5 bilhões.
"Os brasileiros deveriam
ter em mente que, independentemente do que o governo diz, a Copa não os tornará
mais ricos como um todo,
embora o evento possa ser
uma bela oportunidade para
quem é dono de uma empresa construtora de estádios",
afirma Kuper em seu livro.
"Nós prevemos com confiança que o contribuinte
brasileiro gastará mais com a
Copa do que dizem as estimativas iniciais", complementa.
Historicamente, o estouro
dos gastos é uma característica comum entre os países
que organizam grandes
eventos esportivos.
No Pan do Rio, em 2007, o
brasileiro pôde comprovar
essa regra. Previa-se que o
evento iria custar, inicialmente, R$ 414 milhões. Saiu
por R$ 3,7 bilhões.
As arenas esportivas são
um dos principais componentes da escalada dos orçamentos. A África do Sul projetava gastar o equivalente a
R$ 1,9 bilhão em dez estádios. Pagou R$ 810 milhões a
mais. No Brasil, levantamento da Folha demonstra que
as arenas custarão R$ 5,1 bilhões (sem contar a arena
paulista). O valor é 168% superior ao projetado pela CBF,
segundo dado do relatório da
Fifa de outubro de 2007.
TURISMO
Se as despesas tendem a
crescer, o retorno financeiro
obtido com mega-eventos esportivos é posto em xeque.
O turismo, um dos principais componentes do impacto econômico de uma Copa
no país-sede, tende a trazer
pouco dinheiro "novo" para
a economia. Foi isso o que
constatou um estudo do economista alemão Holger
Preuss, da Universidade de
Mainz, feito logo após seu
país abrigar o Mundial.
Preuss chegou à conclusão de que, em julho de 2006,
mais da metade dos turistas
eram alemães. Entre os estrangeiros, só metade deles
-cerca de 20% do total- havia viajado para a Alemanha
só por causa da Copa. Os demais estrangeiros -cerca de
25% do total- já estavam no
país por algum outro motivo
ou decidiram antecipar ou
postergar uma viagem para
coincidir com o Mundial.
Esse subgrupo pouco
acrescentou aos ganhos com
turismo no país em virtude
do evento esportivo, uma vez
que esses visitantes já gastariam na Alemanha, independentemente da Copa.
Preuss calculou que a Copa rendeu um impacto de
3,9 bilhões na Alemanha,
quantia pouco maior do que
fora investido só em estádios.
Mesmo assim, ele defende
que países em desenvolvimento devem abrigar a Copa.
"O ganho com o evento depende do país e de um plano
de longo prazo. A Copa pode
ter um bom impacto. No caso
do Brasil, acho que será bom
ser sede", afirma Preuss.
ELEFANTES BRANCOS
Cerca de 94% do total de
gastos em arenas no Brasil
para 2014 serão bancados
por investimentos públicos.
E os elefantes brancos já vêm
sendo anunciados.
A consultoria Crowe Horwath fez uma análise da viabilidade econômica das arenas de 2014 e concluiu que
pelo menos cinco dos nove
estádios públicos -os de
Brasília, Recife, Manaus, Natal e Cuiabá- tendem a não
ser sustentáveis após a Copa.
"Tenho certeza de que as
pessoas de Cuiabá ficariam
bem sem ter de ver Paraguai
x Nova Zelândia ou Dinamarca x Japão. Então, eles poderiam poupar dinheiro e problemas com elefantes brancos no futuro", alerta Kuper.
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