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Calor amoleceu colunas e vigas,
causando a derrubada dos prédios
FREE-LANCE PARA A FOLHA
A ação destrutiva do impacto
dos Boeings, o peso dos andares
acima do ponto de impacto e o calor superior a 1.000C causado pela queima do combustível dos
aviões se juntaram para trazer
abaixo as torres gêmeas do complexo World Trade Center.
Na opinião de especialistas em
engenharia aeronáutica e civil, foi
a conjunção dos fatores que enfraqueceu as colunas de aço que
mantinham as torres de pé. Ela foi
capaz de derrubar um dos prédios
mais seguros do mundo, feito para resistir a rajadas de vento de
120 km/h -ou até 360 km/h, segundo Jack Cermak, da empresa
Cermak Peterka Peterson, que fez
os estudos do comportamento da
estrutura do World Trade Center
em túnel de vento.
"Pelo que foi possível ver no segundo impacto, o avião estava
numa velocidade relativamente
baixa, talvez 400 km/h [a velocidade normal é de 850 km/h". Ele
entrou na torre e quebrou as vigas
de sustentação, feitas de aço",
afirmou Fernando Catalano, professor do departamento de Engenharia de Materiais e Aeronáutica
da USP de São Carlos (SP).
Catalano disse que, num acidente como esse, o tanque de
combustível da aeronave costuma arrebentar, espalhando combustível por toda parte -no caso,
cerca de 91 mil litros (capacidade
máxima do Boeing), já que o vôo
ia atravessar os EUA de leste a
oeste, de Boston a Los Angeles.
"Acho provável que tenham escolhido esse vôo justamente porque
ele estava com o combustível no
máximo", disse o engenheiro.
Sem explosivos
Para Catalano, além da explosão
inicial, a grande quantidade de
combustível causou várias pequenas explosões e um grande incêndio. Nesse cenário, a estrutura
metálica do prédio foi fragilizada
pelo calor. "O resultado é que o
peso da parte de cima perde sustentação e desce sobre o resto do
prédio." Catalano disse não acreditar que explosivos tenham ajudado no desmoronamento.
Especialistas como o engenheiro estrutural Chris Wise, entrevistado pela rede britânica BBC, concordam: o fogo pode ter sido o fator crucial para a catástrofe. "Foi o
fogo que destruiu os edifícios. Nada na Terra seria capaz de aguentar essas temperaturas."
Para Mário Franco, professor de
engenharia de estruturas e fundações na USP, o desastre nas torres
gêmeas tem nome e sobrenome:
colapso progressivo. "É um efeito
dominó -a parte do prédio acima do impacto se fragilizou e empurrou os andares abaixo dela."
A ação do calor sobre as vigas e
pilares de aço foi desastrosa. "Esses prédios utilizam um tipo de viga chamada "steel deck", inteira de
aço, que pode ser envolta num envelope protetor de concreto", explica o especialista. "Numa temperatura dessa ordem [mais de
1.000C", o aço sofre uma perda
notável de resistência, dilata e
amolece." O calor também fragilizou o concreto que envolvia a viga. O resultado é que o aço, ao se
dilatar, estilhaçou o envelope de
concreto e ficou exposto a mais
calor, sem proteção alguma.
"Essas torres, por sua própria
altura, foram projetadas para resistir a oscilações de até um metro", afirmou Franco.
(REINALDO JOSÉ LOPES)
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