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XENOFOBIA
Árabes e muçulmanos dizem que estão sendo ameaçados
Entidades e comunidades recebem telefonemas e cartas ameaçadoras
Americanos de origem árabe se dizem atacados nas ruas do Brooklyn
MARCIO AITH
DE WASHINGTON
SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK
O governo dos EUA conduz
uma investigação detalhada para
identificar quem provocou os
atentados às torres do World Trade Center e ao prédio do Pentágono. No entanto, parcela visível da
população norte-americana já
chegou à sua própria conclusão
sobre quem foram os autores dos
ataques.
Nos últimos dois dias, entidades
islâmicas e comunidades árabes
espalhadas por cidades norte-americanas receberam telefonemas e cartas ameaçadoras.
Quatro homens no Estado do
Colorado ameaçaram queimar
uma mesquita.
Em sites de bate-papo da internet, como o da American Online,
norte-americanos usam apelidos
para equiparar árabes e muçulmanos a "assassinos" e "porcos".
Telefonemas
"Vários norte-americanos já
nos escolheram como os responsáveis por esses atentados bárbaros", disse à Folha Jenny Salan,
porta-voz e diretor do Instituto
Árabe-Americano, em Washington.
"Pessoas ligam para dizer que
pagaremos um preço pelo que fizemos e para mandar que deixemos o país."
O instituto divulgou ontem
uma nota sustentando que, "independentemente de quem for o autor desses atentados, nenhuma
comunidade religiosa ou étnica
deve ser tratada como suspeita e
punida de forma coletiva."
O Conselho Muçulmano em
Los Angeles e o Grupo Islâmico
em São Jose, ambos na Califórnia,
também receberam dezenas de
telefonemas ameaçadores.
Em Chicago, diretores da Liga
de Ação Árabe-Americana decidiram suspender as atividades depois que um homem não identificado os ameaçou de dentro de um
carro estacionado em frente à sede da entidade.
"Ele disse: Vou garantir pessoalmente que vocês paguem pelo
que fizeram", relatou Mustafa
Yassin, um dos diretores do instituto.
Entre 6 milhões e 7 milhões de
norte-americanos se consideram
muçulmanos. Em algumas cidades perto de Chicago, por exemplo, um em cada três habitantes
tem origem árabe.
Imagens na TV
Ontem à tarde, um dos mais
bem-sucedidos empresários árabes estabelecidos em Nova York
aceitou falar com a Folha, desde
que sua identidade fosse mantida
em segredo.
Nascido no Egito, ele é muçulmano, tem 37 anos e mora em
Nova York desde que completou
cinco anos de idade.
"Primeiro, queria dizer que estou absolutamente chocado com
o que aconteceu na terça-feira em
Nova York", disse. "As imagens
mostradas pelas emissoras de televisão de comunidades árabes
dançando nas ruas não são absolutamente representativas do sentimento de todos os muçulmanos."
Para o empresário do setor hoteleiro, "são imagens de ignorância e contradizem de maneira gritante com tudo que nossa religião
e nossa cultura nos ensinam".
Para ele, a mídia agiu de má-fé
ao transmitir tais imagens " sem
um aviso de que se tratavam de
reações isoladas, de povoados isolados."
"Meu medo agora", continuou
ele, "é que nós, da comunidade
árabe dos Estados Unidos, já estamos sendo tratados pelos outros
norte-americanos com hostilidade e sendo encarados como bárbaros."
"Tenho relatos", disse ele, "de
parentes meus, meus primos, que
foram atacados violentamente
pelas ruas do Brooklyn ontem à
tarde. Também vejo nas salas de
bate-papo da internet pessoas pedindo que nós sejamos mortos ou
deportados."
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