São Paulo, quinta-feira, 13 de setembro de 2001

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XENOFOBIA

Árabes e muçulmanos dizem que estão sendo ameaçados

Entidades e comunidades recebem telefonemas e cartas ameaçadoras

Americanos de origem árabe se dizem atacados nas ruas do Brooklyn

MARCIO AITH
DE WASHINGTON

SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK

O governo dos EUA conduz uma investigação detalhada para identificar quem provocou os atentados às torres do World Trade Center e ao prédio do Pentágono. No entanto, parcela visível da população norte-americana já chegou à sua própria conclusão sobre quem foram os autores dos ataques.
Nos últimos dois dias, entidades islâmicas e comunidades árabes espalhadas por cidades norte-americanas receberam telefonemas e cartas ameaçadoras.
Quatro homens no Estado do Colorado ameaçaram queimar uma mesquita.
Em sites de bate-papo da internet, como o da American Online, norte-americanos usam apelidos para equiparar árabes e muçulmanos a "assassinos" e "porcos".

Telefonemas
"Vários norte-americanos já nos escolheram como os responsáveis por esses atentados bárbaros", disse à Folha Jenny Salan, porta-voz e diretor do Instituto Árabe-Americano, em Washington.
"Pessoas ligam para dizer que pagaremos um preço pelo que fizemos e para mandar que deixemos o país."
O instituto divulgou ontem uma nota sustentando que, "independentemente de quem for o autor desses atentados, nenhuma comunidade religiosa ou étnica deve ser tratada como suspeita e punida de forma coletiva."
O Conselho Muçulmano em Los Angeles e o Grupo Islâmico em São Jose, ambos na Califórnia, também receberam dezenas de telefonemas ameaçadores.
Em Chicago, diretores da Liga de Ação Árabe-Americana decidiram suspender as atividades depois que um homem não identificado os ameaçou de dentro de um carro estacionado em frente à sede da entidade.
"Ele disse: Vou garantir pessoalmente que vocês paguem pelo que fizeram", relatou Mustafa Yassin, um dos diretores do instituto.
Entre 6 milhões e 7 milhões de norte-americanos se consideram muçulmanos. Em algumas cidades perto de Chicago, por exemplo, um em cada três habitantes tem origem árabe.

Imagens na TV
Ontem à tarde, um dos mais bem-sucedidos empresários árabes estabelecidos em Nova York aceitou falar com a Folha, desde que sua identidade fosse mantida em segredo.
Nascido no Egito, ele é muçulmano, tem 37 anos e mora em Nova York desde que completou cinco anos de idade.
"Primeiro, queria dizer que estou absolutamente chocado com o que aconteceu na terça-feira em Nova York", disse. "As imagens mostradas pelas emissoras de televisão de comunidades árabes dançando nas ruas não são absolutamente representativas do sentimento de todos os muçulmanos."
Para o empresário do setor hoteleiro, "são imagens de ignorância e contradizem de maneira gritante com tudo que nossa religião e nossa cultura nos ensinam".
Para ele, a mídia agiu de má-fé ao transmitir tais imagens " sem um aviso de que se tratavam de reações isoladas, de povoados isolados."
"Meu medo agora", continuou ele, "é que nós, da comunidade árabe dos Estados Unidos, já estamos sendo tratados pelos outros norte-americanos com hostilidade e sendo encarados como bárbaros."
"Tenho relatos", disse ele, "de parentes meus, meus primos, que foram atacados violentamente pelas ruas do Brooklyn ontem à tarde. Também vejo nas salas de bate-papo da internet pessoas pedindo que nós sejamos mortos ou deportados."


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