São Paulo, Domingo, 14 de Fevereiro de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SP abastece o Rio de cocaína no Carnaval

SERGIO TORRES
da Sucursal do Rio

Traficantes radicados em São Paulo montaram esquemas de distribuição de cocaína que garantirão o abastecimento das principais "bocas" (pontos-de-venda) do Rio durante o Carnaval.
A formação em São Paulo de grupos especializados em abastecer o Rio de cocaína -e também da maconha produzida no Paraguai, de teor alucinógeno mais forte- começou a ser notada no segundo semestre do ano passado.
Sua existência e atuação são confirmadas e descritas tanto pela polícia quanto por traficantes do Rio com quem eles fazem negócios.
Em vez de ir à Bolívia ou ao Paraguai -países fronteiriços por onde cocaína e maconha entram no Brasil-, o traficante carioca passou a recorrer a São Paulo para obter as mercadorias.
A "conexão paulista" praticamente aposentou a figura do "matuto" (como é chamado no Rio quem vai aos países vizinhos comprar a droga).
O esquema do tráfico paulista inclui a entrega em locais combinados com os cariocas, geralmente estacionamentos de shoppings e restaurantes da via Dutra (Rio-SP) ou da avenida Brasil (principal via da zona norte carioca).
A prova mais concreta de que existem em São Paulo esquemas para abastecer o Rio com cocaína e maconha foi obtida há duas semanas pela Polícia Federal.
O motorista Jamil de Lima foi preso na Dutra quando chegava ao Rio em uma pick-up. A PF informou ter achado nas laterais do carro 34 kg de cocaína e 47 kg de maconha. Lima partira de Presidente Prudente (558 km de SP) para o complexo de favelas do Alemão (Bonsucesso, zona norte carioca).
"Hoje, toda a cocaína consumida no Rio passa por São Paulo. E o contrário nunca acontece", disse o delegado Luiz Dórea, chefe da Delegacia de Prevenção e Repressão a Entorpecentes da PF no Rio.
As investigações da PF indicam que São Paulo funciona como centro distribuidor de drogas para o Rio e outros Estados, como o Espírito Santo e parte de Minas Gerais.
Além de Presidente Prudente, o traficante carioca encomenda a droga em São José do Rio Preto (451 km de SP), Bauru (345 km de SP), Campinas (99 km de SP), Santos (72 km de SP) e na capital.
No país produtor, o quilo da cocaína vale cerca de US$ 2.000. O sistema de entregas a partir de São Paulo custa mais caro (pode chegar a US$ 3.500), mas a segurança é maior. O traficante economiza ainda no transporte, alimentação e hospedagem do "matuto".
Existe também a possibilidade de descontos, que dependerão da quantidade pedida e da frequência das encomendas. O freguês fixo negocia preços melhores.

Policiamento
A Secretaria da Segurança Pública do Estado do Rio não montou um esquema específico de repressão ao tráfico no Carnaval.
O diretor da Delegacia de Repressão a Entorpecentes da Polícia Civil, Herald Espínola, reforçou a equipe de plantão.
Estamos tentando trabalhar na área de inteligência. Não atuaremos de modo ostensivo. Isso a PM já faz. Vamos procurar identificar os caminhos da droga e as pessoas que a trazem para os locais de venda", disse o delegado.
Um dos pontos em que os homens da DRE circularão serão as redondezas do Sambódromo.


Texto Anterior: Suástica gera polêmica
Próximo Texto: Rapaz lidera menores
Índice



Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita do Universo Online ou do detentor do copyright.