São Paulo, terça, 14 de julho de 1998

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Sem Duchamp, por US$ 5.000

da Reportagem Local

US$ 5.000 -foi por causa desse valor, hoje ridículo para um museu, que o MAM não foi inaugurado com uma mostra organizada por Marcel Duchamp. O museu seria aberto com uma exposição que teria duas vertentes -a francesa, a cargo do crítico belga Léon Dégand, e a norte-americana, cujas obras seriam selecionadas por Duchamp, pelo marchand Léo Castelli e pelo crítico Sidney Janis.
Duchamp à época já tinha a fama de ter criado o dadaísmo, mas não tinha o status que adquiriria nos anos 60, quando passou a dividir com Picasso o posto de imantador da arte do século 20. Castelli é que era o desconhecido -estava criando a galeria em Nova York que projetaria a pop arte. O diabo é que Cicillo Matarazzo, o patrono do museu, resolveu trancar o cofre. Não quis aumentar os gastos em US$ 5.000 -o equivalente hoje a cerca de US$ 31 mil.
Por causa dessa sovinice, o MAM não exibiu na inauguração telas de Jackson Pollock, Mark Rothko e Robert Motherwell, à época jovens pintores, mas que já estavam iniciando a virada do expressionismo abstrato. Junto com a jovem pintura americana, Duchamp queria trazer obras de artistas famosos como Malévitch, Mondrian e Man Ray.
Não que a exposição montada com artistas da Escola de Paris fosse ruim -tinha Calder, Kandinski, Léger, Picabia e Jean Arp. Mas o Brasil teria que esperar pelas Bienais, na década seguinte, para entender por que o eixo da arte havia mudado da Europa para os EUA. Quem promovera a mudança foram os artistas que Duchamp havia escolhido. (MCC)



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