São Paulo, domingo, 15 de fevereiro de 2009

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PEDIATRIA

Rigor e humor para curar crianças

DA REPORTAGEM LOCAL

Há mais de 40 anos, Julio Toporovski, 78, chega cedo à Santa Casa de Misericórdia de São Paulo -"o pai dos pobres", como define a instituição. Às 7h45, começa a visita aos pacientes recém-hospitalizados. E ai de quem chegar depois disso. "O chefe tem que dar o exemplo. Quem chega um minuto atrasado já leva uma boa bronca. Mas ninguém acha ruim porque sabe que é justa."
Apesar do rigor com a pontualidade, Toporovski tem muito senso de humor. Quando questionado sobre sua idade, brinca que tem mais de cem anos. Garantiu que tem mais de mil anos de casado e, ao citar um caso da sua juventude, arremata com um "eu já fui jovem uma vez". "Eu só gosto de gente alegre. Se não for, não serve para trabalhar comigo", diz.
Autoridade em nefrologia infantil, Toporovski foi para a Santa Casa depois de se graduar. Lá, chegou a chefe do departamento de pediatria e professor titular. "Acho recompensador salvar uma vida, principalmente a de uma criança, e depois vê-la se curar, crescer. Me faz um bem tremendo."
Mas o que lhe dá mais orgulho é ter ajudado a formar vários médicos. "Temos uma tradição de treinar médicos do Oiapoque ao Chuí. E eles sempre mandam cartões, notícias e doentes para a Santa Casa."
Para ele, uma boa anamnese -a conversa inicial com o doente- e a confiança do paciente no médico são fundamentais. "É muito ruim quando você vê que a mãe não acredita no que você diz. Tem que ser como casamento, nós temos que combinar."
Quando ele começou sua carreira, nefrologia pediátrica não existia -crianças com problemas renais eram atendidas por nefrologistas de adultos. Agora, alguns pacientes invertem a lógica e vão ao seu consultório depois dos 18 anos. "Quando é doente meu, digo que atendo até um de nós dois morrer."
Um projeto que o pediatra considera vital para sua carreira foi o Mãe Participante, que visava permitir que as mães ficassem com seus filhos doentes no hospital. "Eu achava um absurdo a criança ficar sozinha."
Quando se tornou lei, o então governador do Estado, Orestes Quércia, disse duvidar que fosse pegar. Mas houve uma adesão de 60% das mães -esperava-se 30%. "Foi importantíssimo, pois reduz a mortalidade, o tempo de internação e a taxa de reinternação. E humaniza. É um trauma para uma criança ficar sem a mãe no hospital."
De mãe brasileira e pai russo judeu, o médico tem três filhos e seis netos. Gosta de ouvir música clássica e ler -Erico Verissimo, Jorge Amado, Philip Roth e Vargas Llosa são alguns dos preferidos. "Já não tenho onde pôr livros em casa", diz.
E, diariamente, tira um tempo para estudar. "A medicina é muito dinâmica. Estudar não é só uma necessidade. Tem que ser um hábito." (FM)


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