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PEDIATRIA
Rigor e humor para curar crianças
DA REPORTAGEM LOCAL
Há mais de 40 anos, Julio Toporovski, 78, chega cedo à Santa Casa de Misericórdia de São
Paulo -"o pai dos pobres", como define a instituição. Às
7h45, começa a visita aos pacientes recém-hospitalizados.
E ai de quem chegar depois disso. "O chefe tem que dar o
exemplo. Quem chega um minuto atrasado já leva uma boa
bronca. Mas ninguém acha
ruim porque sabe que é justa."
Apesar do rigor com a pontualidade, Toporovski tem
muito senso de humor. Quando
questionado sobre sua idade,
brinca que tem mais de cem
anos. Garantiu que tem mais de
mil anos de casado e, ao citar
um caso da sua juventude, arremata com um "eu já fui jovem
uma vez". "Eu só gosto de gente
alegre. Se não for, não serve para trabalhar comigo", diz.
Autoridade em nefrologia infantil, Toporovski foi para a
Santa Casa depois de se graduar. Lá, chegou a chefe do departamento de pediatria e professor titular. "Acho recompensador salvar uma vida, principalmente a de uma criança, e
depois vê-la se curar, crescer.
Me faz um bem tremendo."
Mas o que lhe dá mais orgulho é ter ajudado a formar vários médicos. "Temos uma tradição de treinar médicos do
Oiapoque ao Chuí. E eles sempre mandam cartões, notícias e
doentes para a Santa Casa."
Para ele, uma boa anamnese
-a conversa inicial com o
doente- e a confiança do paciente no médico são fundamentais. "É muito ruim quando você vê que a mãe não acredita no que você diz. Tem que
ser como casamento, nós temos que combinar."
Quando ele começou sua carreira, nefrologia pediátrica não
existia -crianças com problemas renais eram atendidas por
nefrologistas de adultos. Agora,
alguns pacientes invertem a lógica e vão ao seu consultório
depois dos 18 anos. "Quando é
doente meu, digo que atendo
até um de nós dois morrer."
Um projeto que o pediatra
considera vital para sua carreira foi o Mãe Participante, que
visava permitir que as mães ficassem com seus filhos doentes
no hospital. "Eu achava um absurdo a criança ficar sozinha."
Quando se tornou lei, o então
governador do Estado, Orestes
Quércia, disse duvidar que fosse pegar. Mas houve uma adesão de 60% das mães -esperava-se 30%. "Foi importantíssimo, pois reduz a mortalidade, o
tempo de internação e a taxa de
reinternação. E humaniza. É
um trauma para uma criança ficar sem a mãe no hospital."
De mãe brasileira e pai russo
judeu, o médico tem três filhos
e seis netos. Gosta de ouvir música clássica e ler -Erico Verissimo, Jorge Amado, Philip
Roth e Vargas Llosa são alguns
dos preferidos. "Já não tenho
onde pôr livros em casa", diz.
E, diariamente, tira um tempo para estudar. "A medicina é
muito dinâmica. Estudar não é
só uma necessidade. Tem que
ser um hábito."
(FM)
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