São Paulo, domingo, 15 de fevereiro de 2009

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GINECOLOGIA

No 1º parto, surpresa com trigêmeos

O ginecologista que queria ser arquiteto estreou na carreira com um nascimento surpreendente que deveria ter sido fácil

Marisa Cauduro/Folha Imagem
Marcelo Zugaib

DA REPORTAGEM LOCAL

Marcelo Zugaib, 60, estreou sua carreira de obstetra com um susto: no primeiro parto de sua vida, trouxe ao mundo três bebês de uma vez. Ele estava no quarto ano de medicina e lhe passaram um caso que achavam que seria fácil. "Acreditava-se que a gestante esperava um só, mas eram trigêmeos. Cada um nasceu com mais de dois quilos. Muita gente passa a vida sem experimentar fazer um parto assim e comigo aconteceu logo no início", lembra.
Natural de Marília (SP), Zugaib, a princípio, não pretendia estudar medicina. Ele queria ser arquiteto, contrariando a vontade do pai, que havia abandonado o curso de medicina no segundo ano para sustentar a família e sonhava ver o filho na profissão que não pôde seguir. "Eu dizia que tudo o que eu não queria era ser médico", conta o ginecologista e obstetra.
Prestou arquitetura e se saiu bem em todas as matérias, mas não em desenho artístico, que era eliminatório.
Chocado com o "primeiro tropeço escolar" da vida, ele diz que não soube lidar com a situação. "Resolvi fazer um cursinho para medicina e terminei no que sou hoje. Fiquei apaixonado pela carreira."
Aos 38 anos, já era professor titular na USP, o que o ajudou a se tornar um dos "médicos da moda" de São Paulo de meados da década de 80 ao fim da de 90.

"Prisão"
Depois de muito tempo sentindo-se "prisioneiro o ano todo de uma sequência de partos", Zugaib diz que tenta diminuir o ritmo, especialmente para dar atenção a Nicholas, 18, filho do seu primeiro casamento.
O nome do menino é uma homenagem ao seu mentor na Universidade da Califórnia, Nicholas Assali, hoje falecido.
Foi nos EUA que ele viveu uma realidade diferente da brasileira, na qual as gestantes fazem o pré-natal com uma equipe de médicos e são atendidas por aquele que estiver disponível no momento do parto. Zugaib acredita que no futuro, no Brasil, a gestante também deve procurar a instituição, e não o médico. "Na minha especialidade, procurar o médico gera um custo emocional muito alto. A mulher que escolhe o obstetra quer que ele faça o parto. Isso se torna um martírio para ele, porque ele não pode ter vida pessoal, programar viagens, férias com os filhos", diz, afirmando que, por muito tempo, deixou de viajar para congressos no exterior por não poder se ausentar.
Zugaib credita a isso um dos motivos para o alto índice de cesarianas no Brasil, já que esse tipo de parto permite que o médico se programe. Não que ele considere o parto normal mais vantajoso por si. Para o obstetra, não existe "a melhor via de parto": ambas têm vantagens e desvantagens. "Há um hábito de dizer que o normal é o parto vaginal. Não vejo assim. O normal é a maternidade segura. Fora as indicações médicas, o casal deve escolher sua via de parto, conhecendo riscos e benefícios. E o médico deve trabalhar para conseguir a via elegida com segurança."
Dentro do seu projeto de ganhar qualidade de vida, Zugaib pratica pilates e cuida de suas duas fazendas. Para diminuir os deslocamentos em São Paulo, mudou recentemente seu consultório da avenida Brasil para o hospital Albert Einstein, onde faz partos e cirurgias. E diz que não acha fácil "perder" um parto. "A gente se sente falhando de alguma maneira. Mas são poucos os casos que eu perco, graças a Deus."
Neto de libaneses e único filho homem de sua família -ele tem cinco irmãs-, Zugaib conta que foi educado em um ambiente em que "o aspecto feminino predominava violentamente" e diz que isso o influenciou a escolher sua especialidade. "Muita gente pensa que o mundo árabe é um patriarcado, mas não é verdade. A referência é sempre a mulher. Sou um esteta e a mulher é um dos pilares de demonstração de beleza. É desafiador lidar com elas." (FLÁVIA MANTOVANI)


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