|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
GINECOLOGIA
No 1º parto, surpresa com trigêmeos
O ginecologista que queria ser arquiteto estreou na carreira com um nascimento surpreendente que deveria ter sido fácil
Marisa Cauduro/Folha Imagem
|
|
Marcelo Zugaib
DA REPORTAGEM LOCAL
Marcelo Zugaib, 60, estreou
sua carreira de obstetra com
um susto: no primeiro parto de
sua vida, trouxe ao mundo três
bebês de uma vez. Ele estava no
quarto ano de medicina e lhe
passaram um caso que achavam que seria fácil. "Acreditava-se que a gestante esperava
um só, mas eram trigêmeos.
Cada um nasceu com mais de
dois quilos. Muita gente passa a
vida sem experimentar fazer
um parto assim e comigo aconteceu logo no início", lembra.
Natural de Marília (SP), Zugaib, a princípio, não pretendia
estudar medicina. Ele queria
ser arquiteto, contrariando a
vontade do pai, que havia abandonado o curso de medicina no
segundo ano para sustentar a
família e sonhava ver o filho na
profissão que não pôde seguir.
"Eu dizia que tudo o que eu não
queria era ser médico", conta o
ginecologista e obstetra.
Prestou arquitetura e se saiu
bem em todas as matérias, mas
não em desenho artístico, que
era eliminatório.
Chocado com o "primeiro
tropeço escolar" da vida, ele diz
que não soube lidar com a situação. "Resolvi fazer um cursinho para medicina e terminei
no que sou hoje. Fiquei apaixonado pela carreira."
Aos 38 anos, já era professor
titular na USP, o que o ajudou a
se tornar um dos "médicos da
moda" de São Paulo de meados
da década de 80 ao fim da de 90.
"Prisão"
Depois de muito tempo sentindo-se "prisioneiro o ano todo de uma sequência de partos", Zugaib diz que tenta diminuir o ritmo, especialmente para dar atenção a Nicholas, 18, filho do seu primeiro casamento.
O nome do menino é uma homenagem ao seu mentor na
Universidade da Califórnia, Nicholas Assali, hoje falecido.
Foi nos EUA que ele viveu
uma realidade diferente da brasileira, na qual as gestantes fazem o pré-natal com uma equipe de médicos e são atendidas
por aquele que estiver disponível no momento do parto. Zugaib acredita que no futuro, no
Brasil, a gestante também deve
procurar a instituição, e não o
médico. "Na minha especialidade, procurar o médico gera
um custo emocional muito alto.
A mulher que escolhe o obstetra quer que ele faça o parto. Isso se torna um martírio para
ele, porque ele não pode ter vida pessoal, programar viagens,
férias com os filhos", diz, afirmando que, por muito tempo,
deixou de viajar para congressos no exterior por não poder
se ausentar.
Zugaib credita a isso um dos
motivos para o alto índice de
cesarianas no Brasil, já que esse
tipo de parto permite que o médico se programe. Não que ele
considere o parto normal mais
vantajoso por si. Para o obstetra, não existe "a melhor via de
parto": ambas têm vantagens e
desvantagens. "Há um hábito
de dizer que o normal é o parto
vaginal. Não vejo assim. O normal é a maternidade segura.
Fora as indicações médicas, o
casal deve escolher sua via de
parto, conhecendo riscos e benefícios. E o médico deve trabalhar para conseguir a via elegida com segurança."
Dentro do seu projeto de ganhar qualidade de vida, Zugaib
pratica pilates e cuida de suas
duas fazendas. Para diminuir
os deslocamentos em São Paulo, mudou recentemente seu
consultório da avenida Brasil
para o hospital Albert Einstein,
onde faz partos e cirurgias. E
diz que não acha fácil "perder"
um parto. "A gente se sente falhando de alguma maneira.
Mas são poucos os casos que eu
perco, graças a Deus."
Neto de libaneses e único filho homem de sua família -ele
tem cinco irmãs-, Zugaib conta que foi educado em um ambiente em que "o aspecto feminino predominava violentamente" e diz que isso o influenciou a escolher sua especialidade. "Muita gente pensa que o
mundo árabe é um patriarcado,
mas não é verdade. A referência é sempre a mulher. Sou um
esteta e a mulher é um dos pilares de demonstração de beleza.
É desafiador lidar com elas."
(FLÁVIA MANTOVANI)
Texto Anterior: Veja a relação dos pediatras citados na pesquisa Próximo Texto: Frase Índice
|