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CARDIOLOGIA
'É preciso competência, consciência e carinho'
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
No ano passado, o cardiologista Michel Batlouni, "80 anos
cravados", comemorou os 50
anos dos dois "casamentos" de
sua vida. As bodas de ouro com
a mulher e o meio século de trabalho no Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia.
Nascido em Itápolis (SP), Batlouni mudou-se com a família
para São Paulo aos 15 anos para
estudar. "Naquela época, em
muitas cidades do interior só
havia escolas até o ginásio
[atual ensino fundamental]."
Mais tarde, emigrou para o Rio,
ao ser aprovado na Faculdade
de Medicina da UFRJ.
No curso, ele conheceu as
três regras básicas da boa prática médica. "Com os velhos professores, aprendi que o bom
médico precisa preencher pelo
menos três "Cs": competência,
consciência e carinho. É ser
bom tecnicamente, ter ética e
ter um bom relacionamento
com o paciente." Para ele, o terceiro "C" é fundamental para
um exame clínico cuidadoso,
"uma qualidade que está desaparecendo. Por isso, há um desperdício fantástico de exames
laboratoriais, o que não contribui nem para o paciente nem
para o sistema de saúde."
Concluída a faculdade, Batlouni voltou para São Paulo,
por causa da família e por avaliar que as possibilidades de
trabalho eram maiores.
Em 1958, entrou no Dante
Pazzanese, como médico-assistente. Foi ali que Batlouni desenvolveu o trabalho que o tornou bastante conhecido, sobre
o coração do atleta.
"Minha tese foi o primeiro
grande trabalho sobre esse tema publicado no Brasil", afirma. O interesse surgiu em 1970,
quando examinou um jogador
de futebol que havia sofrido um
infarto. Era Roberto Dias, zagueiro do São Paulo. "Ele tinha
27 anos e teve o infarto durante
uma partida. Nós tratamos dele, e seis meses depois ele já estava liberado para jogar."
No Dante Pazzanese, Batlouni consolidou sua carreira.
"Ocupei todas as funções, de
atendente a diretor clínico",
conta o médico em seu consultório no instituto. Aposentado
do cargo de direção, foi convidado a continuar na instituição.
"Hoje em dia, faço consultoria científica, dou um curso na
pós-graduação e oriento alunos
de doutorado." Regularmente,
é convidado para dar palestras
sobre temas como morte súbita
em atletas e o uso de medicamentos na cardiologia, assuntos que estuda há muitos anos.
Atualmente, prepara uma palestra sobre uma nova área de
interesse: os efeitos do aquecimento global e da poluição na
saúde.
A rotina de trabalho não é leve. De segunda a sexta-feira, fica no Dante Pazzanese pela
manhã. Às 14h, começa a atender em seu consultório particular, de onde sai à noite. Na hora
do almoço, visita os internados.
"Acabo comendo no hospital
para ganhar tempo", diz.
Não se sente cansado nem
pretende parar de trabalhar.
"Gosto do que faço", diz. Acha
que a disposição e a saúde que
mantém são frutos de uma sabedoria de vida. "Não me deixo
influenciar por pequenos problemas, trato os pacientes bem
e sou bem tratado por eles, porque procuro logo conquistar
sua simpatia, mesmo que seja
um paciente de mal humor.
Além disso, não tenho vícios
graves e tenho os bons hábitos
de tomar um pouco de vinho
diariamente e jogar tênis pelo
menos duas vezes por semana."
(IARA BIDERMAN)
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