São Paulo, domingo, 15 de fevereiro de 2009

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CARDIOLOGIA

'É preciso competência, consciência e carinho'

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

No ano passado, o cardiologista Michel Batlouni, "80 anos cravados", comemorou os 50 anos dos dois "casamentos" de sua vida. As bodas de ouro com a mulher e o meio século de trabalho no Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia.
Nascido em Itápolis (SP), Batlouni mudou-se com a família para São Paulo aos 15 anos para estudar. "Naquela época, em muitas cidades do interior só havia escolas até o ginásio [atual ensino fundamental]." Mais tarde, emigrou para o Rio, ao ser aprovado na Faculdade de Medicina da UFRJ.
No curso, ele conheceu as três regras básicas da boa prática médica. "Com os velhos professores, aprendi que o bom médico precisa preencher pelo menos três "Cs": competência, consciência e carinho. É ser bom tecnicamente, ter ética e ter um bom relacionamento com o paciente." Para ele, o terceiro "C" é fundamental para um exame clínico cuidadoso, "uma qualidade que está desaparecendo. Por isso, há um desperdício fantástico de exames laboratoriais, o que não contribui nem para o paciente nem para o sistema de saúde."
Concluída a faculdade, Batlouni voltou para São Paulo, por causa da família e por avaliar que as possibilidades de trabalho eram maiores.
Em 1958, entrou no Dante Pazzanese, como médico-assistente. Foi ali que Batlouni desenvolveu o trabalho que o tornou bastante conhecido, sobre o coração do atleta.
"Minha tese foi o primeiro grande trabalho sobre esse tema publicado no Brasil", afirma. O interesse surgiu em 1970, quando examinou um jogador de futebol que havia sofrido um infarto. Era Roberto Dias, zagueiro do São Paulo. "Ele tinha 27 anos e teve o infarto durante uma partida. Nós tratamos dele, e seis meses depois ele já estava liberado para jogar."
No Dante Pazzanese, Batlouni consolidou sua carreira. "Ocupei todas as funções, de atendente a diretor clínico", conta o médico em seu consultório no instituto. Aposentado do cargo de direção, foi convidado a continuar na instituição.
"Hoje em dia, faço consultoria científica, dou um curso na pós-graduação e oriento alunos de doutorado." Regularmente, é convidado para dar palestras sobre temas como morte súbita em atletas e o uso de medicamentos na cardiologia, assuntos que estuda há muitos anos. Atualmente, prepara uma palestra sobre uma nova área de interesse: os efeitos do aquecimento global e da poluição na saúde.
A rotina de trabalho não é leve. De segunda a sexta-feira, fica no Dante Pazzanese pela manhã. Às 14h, começa a atender em seu consultório particular, de onde sai à noite. Na hora do almoço, visita os internados. "Acabo comendo no hospital para ganhar tempo", diz.
Não se sente cansado nem pretende parar de trabalhar. "Gosto do que faço", diz. Acha que a disposição e a saúde que mantém são frutos de uma sabedoria de vida. "Não me deixo influenciar por pequenos problemas, trato os pacientes bem e sou bem tratado por eles, porque procuro logo conquistar sua simpatia, mesmo que seja um paciente de mal humor. Além disso, não tenho vícios graves e tenho os bons hábitos de tomar um pouco de vinho diariamente e jogar tênis pelo menos duas vezes por semana." (IARA BIDERMAN)


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