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1994
A conquista da América
Em novo e atraente mercado, torneio volta a ter baixa qualidade técnica e vê final ser decidida só nos pênaltis
ESPECIAL PARA A FOLHA
A Copa dos EUA, em 1994, já
sinalizava a globalização que
iria se acentuar na edição de
2002, sediada na Coreia e no
Japão, e no Mundial de 2010,
marcado para a África do Sul.
Primeiro, rompia-se a alternância entre Europa e América
Latina. E a escolha dos EUA
também foi sintomática, por se
tratar do país do beisebol, do
basquete e do futebol americano. Mas, como primeira economia mundial, representavam
um mercado extremamente
atraente. Era preciso seduzi-lo.
Como o público americano,
acostumado aos largos placares
dos esportes nacionais, poderia
achar o futebol pouco emocionante, a Fifa introduziu algumas mudanças nas regras para
estimular o jogo ofensivo. Não
queria repetir a baixa média de
gols (2,2 por jogo) da Copa de
1990, a menor da história.
Porém a população local, de
pequena cultura futebolística,
não se mostrou sensível a tais
sutilezas. Uma pesquisa de opinião realizada horas antes da
abertura da Copa indicou que
56% dos americanos não pretendiam assistir às partidas.
Mas o fim da Guerra Fria, em
1989, fizera do país a única superpotência mundial. O otimismo nacional era muito grande
e, como nos EUA todo evento é
planejado para ser um espetáculo, o Mundial foi bem organizada, desenrolou-se em estádios imponentes e registrou o
maior público da história.
A qualidade técnica, porém,
não foi das maiores, embora a
média de gols tenha subido para 2,71 tentos por jogo. A esperança depositada no futebol
africano também não se concretizou, apesar da boa campanha da Nigéria, que avançou
para as oitavas de final.
O drama africano não era,
contudo, futebolístico. Em
1994, o maior exemplo da miséria material e moral da África
era Ruanda. Entre abril e junho, a etnia hutu, apoiada pelo
Exército, massacrou um milhão de pessoas de outras etnias, sobretudo da tutsi.
Partes do mundo dito "civilizado" não ia melhor. Em outubro de 1992, a democracia brasileira ainda celebrava a posse
do vice-presidente Itamar
Franco, após o impeachment
de Collor, quando no dia seguinte ocorreu a chacina de
presidiários no Carandiru.
Menos de dez meses depois
aconteceu a chacina de meninos de rua na Candelária. Um
mês mais tarde, a de ianomâmis em Roraima. Mais uns dias
de intervalo, a de trabalhadores
na favela do Vigário Geral.
A Itália, que decidiu com o
Brasil a final da Copa, não estava em clima mais positivo. Desde 1992, a operação Mãos Limpas revelava a corrupção sistêmica que atingia todos os escalões do Estado. Eleito em março de 1994, o primeiro-ministro Berlusconi logo se viu envolvido em escândalos fiscais.
O encontro entre os dois países na final da Copa terminou,
pela primeira vez na história,
em empate sem gols. O Brasil
só conquistou a taça após uma
decisão por pênaltis de baixo
aproveitamento (quatro dos
nove chutes foram perdidos).
A imprensa internacional
disse que o tetra brasileiro
ocorreu com um futebol "contido, triste, chato" e distante de
sua tradição. A razão não foi estritamente futebolística.
(HILÁRIO FRANCO JÚNIOR)
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