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Naquele
palco, ele
era tudo
LUIZ CAVERSAN
Diretor da Sucursal do Rio
A lagosta estava congelada.
Essa é sempre a primeira lembrança que vem à minha cabeça
quando o assunto é o show de
Frank Sinatra no hotel Maksoud
Plaza em agosto de 1981.
O show foi acompanhado de um
jantar de gala, o preço do ingresso
era salgadíssimo, mas nele estavam incluídas as bebidas importadas e os pratos luxuosos.
Mas a lagosta estava congelada
quando aterrissou no prato daquele público engalanado.
Era uma lagosta para ser servida
fria mesmo, na própria casca. Mas
ninguém conseguia espetar o bicho por causa da camada de gelo
que persistia em cima dele. Houve
gente que, na tentativa de ir à luta,
viu seu crustáceo pular do prato.
Lembrança boba, ainda mais se
comparada com as surpresas que
se sucederam (pelo menos para
mim) naquela noite.
Enquanto o jantar era avidamente consumido, o cardápio
musical servido de entrada foi papa fina. Comandada pelo maestro
Dom Costa, uma orquestra afinadíssima desfilou temas dos Beatles
com uma qualidade que deixou
críticos de boca aberta.
O prato principal, ao contrário
da lagosta, veio ao ponto. Com 25
anos de idade e ligado mais no então emergente rock paulista do
que naqueles velhos olhos azuis,
eu fui ao Maksoud meio que a
contragosto, como alguém que vai
à exibição de uma ave rara, em extinção, embora não nutra predileção por penosas em geral.
Mas bastou o homem botar o pé
no palco e soltar as primeiras notas para eu entender que, se até
aquele momento não sabia o que
significava Frank Sinatra, é porque tinha muito o que aprender.
Francis Albert Sinatra naquele
palco, apesar do indefectível cabelinho alinhado, era tudo. Ao vivo,
"a voz" massacrou meu ceticismo. Sinatra criou um clima mágico de canções que encerram um
mundo todo particular, sinatriano, e no qual embarcaram com
deleite todos os presentes.
De "Fly Me to the Moon" a "As
Time Goes By", passando pelas
inevitáveis, mas emocionantes
"New York, New York" e "My
Way", foi uma viagem deliciosa
por um mundo repleto de elementos hoje de somenos importância,
como a elegância, a formalidade e
o charme transbordante de um senhor que canta temas românticos.
Naquele dia, diante de Frank Sinatra, eu entendi que existem artistas verdadeiramente especiais.
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