São Paulo, domingo, 16 de setembro de 2001

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DEDO NO GATILHO

Bush diz que país já está em guerra

Presidente dos EUA aponta Bin Laden como maior suspeito e diz que ele será "caçado"

MARCIO AITH
DE WASHINGTON

Um dia depois de receber autorização do Congresso para usar força militar máxima em resposta aos ataques terroristas da última terça-feira, o presidente George W. Bush declarou ontem, em seu pronunciamento semanal de rádio, que os EUA estão "em guerra" e prometeu uma "ampla e sustentada" campanha militar.
Bush passará o fim de semana com seu conselho de segurança nacional, na residência oficial de Camp David, perto de Washington. Na sexta-feira, o Congresso deu sinal verde para a retaliação militar ao aprovar o uso "de toda força necessária e apropriada contra aqueles responsáveis pelos ataques de terça-feira". Cerca de 35 mil reservistas já foram convocados e um destróier da Marinha norte-americana, equipado com lançador de mísseis, deixou ontem a base militar de Yokosuka, no Japão, sem revelar o destino. Cerca de 48 mil militares dos EUA estão estacionados no Japão.
O mais provável alvo da reação militar dos EUA é o Afeganistão, país controlado pela milícia extremista islâmica Taleban, que, segundo o governo americano, deverá ser punida por abrigar e apoiar o saudita Osama bin Laden, suspeito número um dos atentados.
A autorização para Bush usar força militar "máxima" foi aprovada no Senado por 98 votos a 0. Na Câmara, passou por 420 votos contra 1. O voto solitário foi o da deputada Barbara Lee (democrata da Califórnia), congressista que defende o corte de gastos militares e que, em 1999, foi a única a negar ao então presidente, Bill Clinton, autorização para usar força militar na Iugoslávia.
"Alguns de nós precisamos mostrar controle, moderação", justificou Lee ao anunciar seu voto. "Estou convencida de que a ação militar não irá prevenir atos futuros de terrorismo internacional contra os EUA."
Em seu pronunciamento semanal de rádio à nação, o presidente Bush disse ontem que irá caçar os responsáveis pelo sequestro de quatro aviões e pela destruição das torres do World Trade Center e de parte do Pentágono.
"Eles serão expostos e descobrirão o que outros no passado já aprenderam: quem faz guerra contra os EUA escolhe sua própria destruição... Planejamos uma campanha longa e sustentada para proteger nosso país e erradicar o mal do terrorismo", disse.
Antes da reunião de Camp David, Bush conversou brevemente com jornalistas. Pela primeira vez reconheceu que Bin Laden é o suspeito número um dos atentados de terça-feira. Questionado sobre as dificuldades para caçá-lo em esconderijos espalhados pelo terreno montanhoso do Afeganistão, Bush respondeu que "ele [Bin Laden" não conseguirá fugir para sempre" e será "caçado".
A mensagem do presidente Bush ao resto do mundo, incluindo países árabes e islâmicos, é que todos terão de escolher um dos dois lados nessa "guerra". Pelo discurso do secretário de Estado, Colin Powell, aqueles que ficarem contra os EUA ou não declararem apoio aos americanos sofrerão "isolamento".
O foco da diplomacia dos EUA antes da definição completa da estratégia militar é o Paquistão, país vizinho ao Afeganistão que detém a tecnologia da bomba atômica e que apoiou o Taleban durante os últimos anos.
O general Pervez Musharraf, presidente do Paquistão, já prometeu aos EUA "cooperação total" no combate ao terrorismo, mas não deu ainda resposta formal aos pedidos norte-americanos para ações concretas como o fechamento das fronteiras com o Afeganistão e a permissão para o uso do espaço aéreo do país.
Com medo de represálias, afegãos começaram ontem a fugir do país. O Taleban prometeu reagir e conclamou todos os muçulmanos no mundo a uma "guerra santa" contra alvos americanos. Nos EUA, a população demonstra ostensivamente apoio ao governo portando bandeiras e discursando de forma inflamada a favor da guerra. Todos querem guerra. Bush é aplaudido em todas as aparições públicas, e seus índices de popularidade -próximos de 90%- se equiparam aos do pai, o ex-presidente George Bush, durante a Guerra do Golfo, em 1991.


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