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"Sem guerra, crise dura ao menos 6 meses"
DA REPORTAGEM LOCAL
Mau sinal: um dos economistas
mais otimistas dos EUA ficou pessimista. O professor de finanças
da Wharton School da Universidade da Pensilvânia Jeremy Siegel
afirma que há entre 80% e 90% de
chances de que ocorra uma recessão nos EUA.
Essa recessão, segundo Siegel,
deve durar no mínimo seis meses.
Isso se os EUA não se envolverem
numa guerra em retaliação aos
ataques terroristas ao World Trade Center e ao Pentágono.
Essa visão negativa do futuro
contrasta com a imagem pública
que Siegel cultivou nos últimos
anos. Ele é autor do livro "Ações a
Longo Prazo", de 94, uma das bíblias dos investidores no recente
ciclo de alta nas Bolsas de Valores.
Siegel dava palestras nas universidades americanas ao lado de seu
amigo pessoal Robert Shiller, autor do livro "A Exuberância Irracional", que dizia que as ações nos
EUA estavam sobrevalorizadas.
Shiller representava a visão pessimista em relação ao futuro do
mercado, enquanto Siegel estava
do lado otimista. Hoje, Siegel ainda otimista quanto ao longo prazo, mas, admite que a situação vai
piorar, no curto prazo, especialmente para países como o Brasil.
"Infelizmente, quando a economia americana tem problemas,
toda a América do Sul sofre."
Siegel deu a seguinte entrevista
à Folha.
(EC e RG)
Folha - O que vai acontecer com a
economia americana?
Jeremy Siegel - Temos entre 80%
e 90% de chances de uma recessão. Estávamos quase numa , e os
atentados foram um choque na
confiança do consumidor. Isso
vai resultar numa redução dos
gastos com viagens aéreas, entretenimento e turismo. Essas áreas
não voltarão ao equilíbrio nem
com os aumentos de gastos do governo para estimular a economia.
Não se recuperarão, pelo menos
nos próximos seis meses.
Folha - Qual a extensão da crise?
Siegel - Vai durar, provavelmente, mais de seis meses. Só vamos
começar a nos recuperar no segundo trimestre do próximo ano.
Esse é o melhor cenário.
Folha - Qual é o pior cenário?
Siegel - Se tivermos uma guerra,
o preço do petróleo vai subir. Não
acredito que o preço do barril do
petróleo suba se não houver uma
guerra. Não sabemos que tipo de
ação o governo norte-americano
poderia fazer e nem que tipo de
apoio poderia ter do resto do
mundo em sua ação contra os terroristas. Isso, obviamente, está
sendo discutido neste momento.
Se o governo norte-americano
decidir por uma grande ação militar e não tiver o apoio da comunidade internacional, isso terá sérios efeitos sobre a economia.
Folha - O sr. escreveu o livro que
serviu como referência otimista do
mercado financeiro em meados da
década de 90. Como o sr. vê a perspectiva do mercado agora?
Siegel - Vamos ter um mercado
em queda a curto prazo, mas no
longo prazo o resultado será positivo. No longo prazo, a história
nos mostra que é nos períodos como o atual que os investimentos
se valorizaram mais e trouxeram
alguns dos melhores retornos para os donos de ações. Estou pessimista quanto ao curto prazo, mas
confiante no mercado em relação
ao longo prazo.
Folha - Quais serão as consequências desse cenário para países
emergentes, como o Brasil?
Siegel - Olhe para os Estados
Unidos, para a Europa e para o Japão. Não há nenhuma economia
forte no mundo neste momento.
Infelizmente, quando os Estados
Unidos sofrem, toda a América
do Sul sofre. Infelizmente, as perspectivas de curto prazo para os
países sul-americanos são bastante incertas.
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