São Paulo, domingo, 16 de outubro de 2005

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Casal Rugai foi morto com arma legal furtada no Paraná

ALEXANDRE HISAYASU
DA REPORTAGEM LOCAL

Dez tiros de uma pistola mataram o casal Luiz Carlos Rugai, 40, e sua mulher, Alessandra, 33, em Perdizes, na zona oeste de São Paulo, em março do ano passado. Eles foram vítimas de uma arma comprada legalmente por um fazendeiro com porte e registro da mesma, mas que, após um furto, caiu na clandestinidade.
O filho de Luiz Carlos, o estudante Gil Rugai, está preso desde abril daquele ano sob acusação de participar do duplo assassinato. Ele nega as acusações.
A arma usada no crime, número de série KQA 55283, pertencia ao agropecuarista Manoel Soares Ferreira, 43, que mora em Terra Roxa (interior do Paraná), e foi furtada em 29 de junho de 2001.
Do Paraná, de acordo com a polícia local, ela foi trocada por drogas no Paraguai e seguiu para São Paulo. Três anos depois de ter sido furtada, foi utilizada para assassinar o casal Rugai.
O pecuarista tem o registro e o porte de arma. Na ocasião do furto, ele estacionou em um posto de gasolina de Terra Roxa para abastecer o seu veículo, uma picape F-4000. Um adolescente, de acordo com testemunhas, abriu a porta da picape e fugiu com a arma municiada com dois carregadores e 23 projéteis.
"Moro em uma área de agropecuária, sem policiamento e sem qualquer estrutura de segurança. Após o furto, comprei outra", disse Ferreira, que é contra o fim do comércio de armas e munição.
"Aqui na fronteira [com o Paraguai] vivemos uma guerra. Tem roubo de propriedade rural, tem seqüestro. Os bandidos assaltam com fuzis e metralhadoras", diz.
"A carência de policiais é violentíssima, a população é obrigada a ajudar. Há falta de 40% a 60% de efetivo. Precisamos dar coletes para policial fazer ronda na região rural. Não tem condições de fazer nada. Eu mesmo já tive a casa invadida e a minha família foi feita refém. Por isso sou completamente contrário ao desarmamento. A única segurança que temos somos nós mesmos."

Encontrada por acaso
A pistola utilizada no assassinato do casal Rugai foi encontrada por acaso, em 29 de junho deste ano, no bueiro de um prédio comercial da rua José Maria Lisboa, nos Jardins (zona oeste de São Paulo), pelo zelador Carlos Gonçalves Assis, 37.
Em uma sala do prédio funcionava um escritório de Gil Rugai, o acusado do crime. O zelador, em depoimento, disse ter desconfiado que a arma poderia ter ligação com o assassinato de Luiz Carlos e Alessandra e a entregou à polícia.
A pistola foi levada ao Instituto de Criminalística. A perícia confrontou as dez cápsulas apreendidas no local do assassinato do casal com a pistola encontrada no bueiro. Também a comparou com fragmentos de tiros encontrados na camiseta de Luiz Carlos.
Devido ao tempo em que ficou no bueiro, os peritos não colheram impressões digitais. Quando foi localizada, a pistola também estava quebrada.
O laudo final foi elaborado em seis dias e diz que a arma foi usada no crime. No relatório, os peritos afirmam que "podemos concluir que os picotes existentes nos dez estojos incriminados foram produzidos pelo pino percurtor da pistola marca Taurus, número de série KQA 55283".

Provas
Para o advogado de Gil Rugai, Fernando José da Costa, a arma foi "plantada" pelo verdadeiro assassino para incriminar seu cliente. Já a promotora Mildred Gonzales Gonçalves diz que o encontro da arma em nada muda a situação do acusado, pois há provas suficientes para condená-lo pela autoria dos assassinatos.
Em setembro, o 5º Tribunal do Júri de São Paulo decidiu levar Gil Rugai a júri popular, mas a data do julgamento do estudante ainda não foi marcada, pois a defesa pode recorrer.


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