São Paulo, domingo, 17 de agosto de 2008

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APERTANDO O PASSO

38% se dizem inseguros ao andar à noite

Maioria (53%) dos moradores escapa do trânsito e vai ao trabalho a pé, mas sensação de falta de segurança preocupa

CONRADO CORSALETTE
DA REPORTAGEM LOCAL

O editor de livros Paulo Werneck, 30, teve o carro furtado há alguns meses. Não usou o dinheiro do seguro para comprar outro. Afinal, já tinha planos de vendê-lo desde que se mudou, um ano e meio antes, e passou a gastar três minutos cronometrados andando da porta de casa até a porta do trabalho. Werneck integra a parcela em que está a maioria dos moradores da área central: a de pessoas que vão a pé ao trabalho (53%). Também faz parte dos 37% que fazem o percurso em até dez minutos -na região, a duração média, de 24,5 minutos, é quase metade da média da cidade, de 44 minutos.
Para Werneck, a região tem ainda outra vantagem. "O centro tem uma arquitetura mais interessante como conjunto, com prédios antigos e bonitos."
Mas, se os moradores da área central driblam o trânsito, têm de enfrentar problemas como a falta de segurança. Formada em Turismo, Fernanda Versolato, 26, conta que a vida de pedestre que passou a ter depois que deixou Santana, na zona norte, é limitada. "Depois de determinada hora, não volto sozinha para casa. Às vezes saio do escritório por volta das 21h e já fico um pouco ressabiada."
Ela diz que seu entusiasmo com o centro e com a possibilidade de deixar o carro de lado tem prazo de validade. "Tenho clareza de que morar no centro é algo passageiro na minha vida", afirma. "Aqui não é um ambiente muito familiar."
Segundo a Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social, há cerca de 2.000 moradores de rua na região central. O poder público ainda tem outros nós a resolver. O mais evidente é o da área da Nova Luz, ex-cracolândia, de onde usuários de drogas foram removidos, mas continuam a viver no entorno.
República é recordista em queixas sobre tráfico de drogas (16%; a média de SP é de 2%) e em moradores que dizem evitar certos locais depois que escurece (77%; a média de SP é de 58%) e que se sentem muito inseguros ao andar à noite (38%; contra média de 19% em SP).
Moradora da praça Júlio Mesquita, a jornalista Adriana Ferreira, 36, evita sair à noite ao ver da janela usuários com comportamento violento, "nóias", que passaram a procurar lugares para fumar crack no centro. "Vieram para cá, saiu na imprensa, a polícia apertou, eles foram para a rua dos Gusmões e, assim, vão migrando".
Dono de uma imobiliária especializada em imóveis no centro, Oswaldo Lopes Filho diz que a sensação de insegurança na região está mais ligada a problemas sociais do que à falta de policiamento: "Aqui é mais seguro do que qualquer outra região". Ele diz que a demanda por imóveis tem crescido e que os maiores interessados são quem quer fugir do trânsito.
"A questão de conjugar trabalho e residência é ainda muito pequena para ser apontada como tendência, mas já existe em pequeníssima escala", afirma Regina Meyer, urbanista e professora da FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo) da USP, sobre o perfil de quem vai morar no centro.
O administrador Rafael Martins, 30, levou às últimas conseqüências seu desejo de chegar rápido ao trabalho. Mudou-se de Moema, na zona sul, para o edifício Copan, na Consolação, e agora apenas atravessa a rua para chegar ao trabalho.
"Faço quase tudo a pé", diz.
O músico Clemente Nascimento, 45, é habitué do centro desde o final dos anos 80, quando se casou e decidiu morar no trecho da rua Augusta que fica na região. "Eu não tinha carta de motorista na época. Como é meio do caminho, sempre encontrava alguém disposto a me dar uma carona", diz.


Colaboraram JOÃO PEQUENO e MARIANA BARROS


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