|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
1950
Da euforia à tragédia
Brasil abriga o 1º Mundial do pós-Guerra, constrói o Maracanã, mas torna a decisão um trauma nacional
ESPECIAL PARA A FOLHA
O goleiro uruguaio Máspoli
consola o zagueiro e capitão
brasileiro Augusto. A imagem
ao lado simboliza um Mundial
preparado para o Brasil ganhar,
mas que acabou nas mãos do
Uruguai, no traumático 2 a 1
que calou o Maracanã lotado.
Até o jogo decisivo, tudo correu dentro dos planos do Palácio do Catete. Com a Europa
ainda se reerguendo da Segunda Guerra, coube ao Brasil abrigar a quarta edição da Copa e
interromper um jejum de 12
anos sem competição. A Fifa
não tinha alternativa -o país
era o único candidato, e o presidente da entidade, Jules Rimet,
aceitou que o Mundial voltasse
a ser realizado fora da Europa.
Acusações de corrupção envolvendo a Prefeitura do Rio de
Janeiro não impediram que o
maior estádio do mundo fosse
construído especialmente para
o evento. E rivais tradicionais,
como Argentina e França, desistiram de vir ao Brasil, facilitando o caminho para a seleção
de Friaça, Zizinho e Ademir.
Tais elementos e duas goleadas antes da última partida (7 a
1 sobre a Suécia e 6 a 1 sobre a
Espanha) alimentaram o ufanismo popular. Mas os gols de
Schiaffino e Ghiggia transformaram a expectativa de título
em tragédia, com alguns laivos
de racismo contra o goleiro
Barbosa, considerado um dos
maiores culpados pela derrota.
Fora de campo, o início da
década foi marcado pela crescente tensão entre as duas superpotências emergentes do
pós-Guerra, EUA e URSS, refletida na Guerra da Coreia.
Em 1945, os dois países haviam dividido a península coreana ao meio: capitalistas no
sul, socialistas no norte. A partilha foi colocada em xeque em
junho de 1950, quando forças
norte-coreanas, apoiadas por
chineses e soviéticos, invadiram o sul, que foi socorrido pela
ONU, com Washington à frente. O armistício só veio três
anos depois, com a criação de
uma zona desmilitarizada na
fronteira entre as Coreias.
Na África, a participação das
colônias em favor dos Aliados
durante a Segunda Guerra fortaleceu o sentimento independentista no continente.
Entre as francesas, o Senegal
desempenhou importante papel sob a liderança de Leopold
Senghor, brilhante intelectual,
criador do conceito de negritude e deputado na Assembleia
Constituinte francesa.
Nesse período, diversos
agrupamentos políticos surgiram na África Ocidental Francesa. Inicialmente buscavam
relações mais equânimes com a
metrópole, mas já traziam o desejo de independência.
Na África do Sul, o apartheid,
política oficial de segregação
racial, avançava. Em 1949, foram proibidos casamentos interraciais e todo indivíduo deveria portar certificado de
identidade racial. Em 1950, foram definidas zonas territoriais para a moradia de cada
grupo.
(MARCO ANTONIO VILLA)
Texto Anterior: Estado novo toma conta da seleção Próximo Texto: Prefeito do Rio vira o pé-frio da torcida Índice
|