São Paulo, quarta-feira, 18 de junho de 2008

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"Tinha de aprender tudo na marra"

SATOSHI TANJI
ESPECIAL PARA A FOLHA

Nasci na província de Fuku- shima, no Japão, e vim para o Brasil em 1957. Meu pai havia sido funcionário de um centro cultural no Japão, trabalhava com educação. Mas minha família veio para o Brasil para trabalhar na lavoura.
Fui estudar em escola municipal comum, em Adamantina (578 km de São Paulo). Tinha de aprender tudo na marra: o português era precário.
Quando era adolescente, via preconceito até de descendentes em relação aos japoneses.
Os nisseis discriminavam os imigrantes, que andavam juntos porque não falavam bem o português, tinham sotaque.
O colegial era um inferno.
Queria muito voltar para o Japão e rever os meus amigos. Mas, depois que entrei na faculdade de engenharia civil, ficou diferente. Manter a cultura virou orgulho, ganhou outro sentido. Percebi que o Brasil tem muita mistura, e que eu também tinha uma cultura rica.
Não completei o curso de engenharia. Já trabalhava no ramo e acabei parando na metade. Quando houve uma queda no mercado de engenharia civil, em 1982, abri o restaurante.
Montei um estabelecimento do estilo "isakaya", que surgiu das adegas que vendiam saquê e se sofisticaram vendendo comida. Eu me inspirei bastante na casa do meu avô: sem muito luxo e aconchegante.
Durante quatro anos, tive aulas com um mestre de cozinha japonês. Uma parte do treinamento foi no Japão, para onde eu voltei em 1987. Um grande mestre tem de saber fazer tudo.
Os ocidentais acham que comida japonesa é só sushi, sashimi e tempurá. Mas eu não faço sushi califórnia e "hot roll". Os clientes sabem que a minha linha é mais tradicional.


SATOSHI TANJI, 56, dono do restaurante Kabura, nasceu na Província de Fukushima, no Japão


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