São Paulo, terça-feira, 19 de junho de 2007

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Pan - Rio 2007

Eu estava lá

"Poderia ter sido bacana, mas foi horrível" Agberto Guimarães

DA REPORTAGEM LOCAL

A chegada dos 800 m rasos do Pan de Caracas, em 1983, foi das mais emocionantes. Zequinha Barbosa e o venezuelano William Wuyke disputavam a liderança, quando Agberto Guimarães iniciou o ataque.
Em seguida, o brasileiro e Wuyke se chocaram. Faltavam 90 metros para o fim da prova, e o venezuelano levou a pior, ficando estatelado no chão.
A torcida, em polvorosa, vaiava o triunfo de Agberto. "O cara [Wuyke] caiu e ficou aquela indefinição: estou desclassificado ou não? Até que o júri de apelação decidiu que não cometi falta", lembra o atleta.
O resultado foi dos mais apertados, com 3 votos a 2 a favor do brasileiro. A prova só teve premiação dias depois.
"Poderia ter sido um negócio bacana, mas foi horrível. Sabia que não tinha feito nada de errado. Foram dois dias de expectativa. Nem dormi direito à noite", rememora o corredor.
Para o meio-fundista, houve uma falsa polêmica influenciada pelo fato de o acidente ter prejudicado um atleta local.
"Pelos tempos que havia feito em sua carreira até aquele momento, o Wuyke não tinha chance de vencer a mim e ao Zequinha. Mas, na hora, o estádio inteiro me vaiou", diz Agberto, que deixou a arena escoltado pela polícia e sob chuva de objetos atirados pelo público.
"Semanas antes, eu havia sido sexto nos 800 m no Mundial [de Helsinque]. Não obtive essa posição por sorte. Os que subiram ao pódio tinham tempos bons, de 1min43s, 1min44s."
Seu martírio ainda não acabara. Nos 1.500 m, Agberto sede atacar só nos metros finais.
"Na saída, me posicionei perto da grade. Queria correr por fora e, à medida que a prova foi se desenvolvendo, fui passando para a raia um. Um negócio engraçado é que, quando dei o sprint final, a expectativa da torcida era ver qualquer outro atleta vencer", conta.
O estratagema deu resultado, e Agberto ultrapassou os norte-americanos Ross Donoghue e Chuck Aragon para conquistar a vitória nas duas provas de meio-fundo. Foi o primeiro corredor a conseguir esse duplo triunfo na história do Pan.
Mas não escapou de novas vaias. "Dias depois, o Wuyke reconheceu que não tive culpa. Mas não adianta. Ele era o cara que todo mundo lá queria que vencesse. Hoje há até mais contato do que antigamente", diz.
Só se sentiu perdoado em sua última participação nos Jogos. Agberto integrou o revezamento 4 x 400 m, medalha de prata.
"O interessante é que pouca gente me hostilizou quando entreguei o bastão para o Gérson [Andrade Souza] em segundo lugar. Acabou a prova, e vieram me pedir autógrafo."
Hoje, as marcas obtidas em Caracas _1min46s31 nos 800 m e 3min42s91 nos 1.500 m_ não são motivo de orgulho para Agberto. "Pelas circunstâncias, essas vitórias foram as mais marcantes da minha carreira. Mas obtive resultados técnicos bem melhores em outras provas", afirma o ex-corredor.
Em Olimpíadas, o melhor resultado de Agberto Guimarães foi um quarto lugar nos 800 m em Moscou-1980. Sua vitória nos 800 m em Caracas-83 deu início a longa soberania nacional na prova. O Brasil venceu em 1987, 1991, 1995 e 2003.


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