São Paulo, quinta-feira, 19 de dezembro de 2002

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Anos FHC

mudanças
estagnação

O Brasil viveu o mais longo período de normalidade democrática em toda a sua história no governo do presidente Fernando Henrique Cardoso. Marcados pelo Plano Real, que derrotou a inflação, e pela preocupação central com a estabilidade econômica, os oito anos da era FHC encerram ainda o mais longo mandato democrático de um presidente na história republicana. Depois de 42 anos, um presidente escolhido por eleições livres e diretas passará o cargo a um sucessor eleito nas mesmas condições. Tal fato ocorreu pela última vez na sucessão de Juscelino Kubistchek por Jânio Quadros, em 1961.
A estabilidade política, amparada durante quase todo o período na majoritária coalizão de partidos que apoiava o governo, conviveu com alterações profundas na economia e a persistência das desigualdades sociais.
Parcelas significativas da propriedade foram desnacionalizadas ou privatizadas. O país abriu-se para as finanças e para o comércio mundiais. A inflação foi uma das mais baixas da história. Entre 1990 e 1994, os preços subiram em média 1.100% por ano, contra menos de 9% anuais sob FHC. O controle dos gastos públicos, amparado pela Lei de Responsabilidade Fiscal, tornou-se prioridade nacional. Os gastos sociais aumentaram, mas apenas para evitar o aumento da pobreza e da desigualdade. Nos últimos oito anos, a renda dos 20% mais ricos continuou 30 vezes maior que a dos 20% mais pobres.
Os brasileiros consumiram mais. Essa foi a principal mudança nas condições de vida da população provocada por ações diretas do governo. Mas as políticas que sustentaram essas grandes linhas de ação também tornaram o país menos resistente às cinco grandes crises financeiras mundiais do período e ameaçam corroer o principal legado de FHC.
Houve descontrole do déficit público e do déficit externo no primeiro mandato. A dívida pública passou de 30% de toda a produção econômica do país, em 1995, para cerca de 60% neste ano. Tais desacertos e crises externas fizeram com que o país tivesse as mais altas taxas de juros do mundo e quase dobraram o desemprego. A renda per capita aumentou menos de 1% ao ano no período.
A conjunção de tais fatores ajudou a consolidar dois fenômenos sociais dos anos FHC: a ascensão eleitoral da esquerda e a explosão da violência.
A ampliação dos gastos sociais, em parte resultado do cumprimento de determinações da Constituição de 1988, tantas vezes alterada pela coalizão governista, criou um colchão capaz de evitar o aumento da pobreza e a piora da distribuição de renda. Alguns indicadores sociais melhoraram em velocidade recorde. Entre eles o acesso à saúde básica, por meio das equipes de saúde da família, e a medicina preventiva, por meio de programas de vacinação -apesar da explosão da dengue. O número de estudantes na escola cresceu em velocidade inédita nos últimos 30 anos, o que porém não impediu o aumento da diferença entre o nível de educação de pobres e ricos.
Apesar de alguma melhora relativa do padrão de vida dos brasileiros e do enraizamento da democracia como valor e prática, a desigualdade permaneceu como o grande desafio do país.


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