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Anos FHC
mudanças
estagnação
O Brasil viveu o mais longo período de normalidade democrática em toda a sua história no governo do presidente Fernando
Henrique Cardoso. Marcados pelo Plano Real, que derrotou a inflação, e pela preocupação central
com a estabilidade econômica, os
oito anos da era FHC encerram
ainda o mais longo mandato democrático de um presidente na
história republicana. Depois de
42 anos, um presidente escolhido
por eleições livres e diretas passará o cargo a um sucessor eleito
nas mesmas condições. Tal fato
ocorreu pela última vez na sucessão de Juscelino Kubistchek por
Jânio Quadros, em 1961.
A estabilidade política, amparada durante quase todo o período
na majoritária coalizão de partidos que apoiava o governo, conviveu com alterações profundas na
economia e a persistência das desigualdades sociais.
Parcelas significativas da propriedade foram desnacionalizadas ou privatizadas. O país abriu-se para as finanças e para o comércio mundiais. A inflação foi
uma das mais baixas da história.
Entre 1990 e 1994, os preços subiram em média 1.100% por ano,
contra menos de 9% anuais sob
FHC. O controle dos gastos públicos, amparado pela Lei de Responsabilidade Fiscal, tornou-se
prioridade nacional. Os gastos sociais aumentaram, mas apenas
para evitar o aumento da pobreza
e da desigualdade. Nos últimos
oito anos, a renda dos 20% mais
ricos continuou 30 vezes maior
que a dos 20% mais pobres.
Os brasileiros consumiram
mais. Essa foi a principal mudança nas condições de vida da população provocada por ações diretas do governo. Mas as políticas
que sustentaram essas grandes linhas de ação também tornaram o
país menos resistente às cinco
grandes crises financeiras mundiais do período e ameaçam corroer o principal legado de FHC.
Houve descontrole do déficit
público e do déficit externo no
primeiro mandato. A dívida pública passou de 30% de toda a
produção econômica do país, em
1995, para cerca de 60% neste ano.
Tais desacertos e crises externas
fizeram com que o país tivesse as
mais altas taxas de juros do mundo e quase dobraram o desemprego. A renda per capita aumentou
menos de 1% ao ano no período.
A conjunção de tais fatores ajudou a consolidar dois fenômenos
sociais dos anos FHC: a ascensão
eleitoral da esquerda e a explosão
da violência.
A ampliação dos gastos sociais,
em parte resultado do cumprimento de determinações da
Constituição de 1988, tantas vezes
alterada pela coalizão governista,
criou um colchão capaz de evitar
o aumento da pobreza e a piora da
distribuição de renda. Alguns indicadores sociais melhoraram em
velocidade recorde. Entre eles o
acesso à saúde básica, por meio
das equipes de saúde da família, e
a medicina preventiva, por meio
de programas de vacinação
-apesar da explosão da dengue.
O número de estudantes na escola
cresceu em velocidade inédita nos
últimos 30 anos, o que porém não
impediu o aumento da diferença
entre o nível de educação de pobres e ricos.
Apesar de alguma melhora relativa do padrão de vida dos brasileiros e do enraizamento da democracia como valor e prática, a
desigualdade permaneceu como
o grande desafio do país.
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