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TRABALHO
Taxa de desemprego passa de 4,3% para 7,7%; informalidade aumenta; PIB cresceu em torno de 2,5% ao ano, percentual não muito distante do registrado durante a chamada "década perdida", nos anos 80
Desemprego cresce; renda per capita sobe menos de 1% ao ano
FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
A deterioração do mercado de trabalho ganhou
força no último ano de governo do presidente
Fernando Henrique Cardoso. O baixo crescimento econômico dos últimos anos é apontado por
economistas e pesquisadores da área como o principal
responsável pelo fenômeno do desemprego crescente.
Os juros altos, a política cambial dos primeiros anos
da era FHC e as privatizações aparecem como alimentadores do processo, na avaliação de especialistas.
DA REPORTAGEM LOCAL
Os anos FHC começaram em
janeiro de 95 com uma taxa de desemprego de 4,3% da PEA -população economicamente ativa, o
universo das pessoas que estão
trabalhando ou procurando emprego- , segundo levantamento
do IBGE (Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatísticas).
Em outubro deste ano, a taxa de
desemprego alcançou, descontadas as variações sazonais, 7,7% da
PEA, o maior nível desde fevereiro de 2000. "A sobrevalorização
do câmbio, que durou até o início
de 99, combinada com uma abertura pouco criteriosa às importações, maltratou grande parte da
nossa indústria e impulsionou o
desemprego", afirma Anselmo
Luís dos Santos, do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do
Trabalho da Unicamp.
O primeiro mandato de FHC foi
marcado pelo Plano Real, que
permitiu que a moeda doméstica
se equiparasse ao dólar e, em alguns momentos, até a superasse.
Isso favoreceu a forte entrada de
produtos estrangeiros no país.
"Alguns setores não tiveram
condições de concorrer com os
importados e o resultado foi o fechamento de empresas e, consequentemente, de postos de trabalho", afirma Fábio Romão, economista da consultoria LCA.
Nos primeiros anos da era FHC,
a taxa de desemprego oscilou próxima dos 5%. No final de 97, atingiria 6%. No início do segundo
mandato de FHC, em janeiro de
99, a taxa de desemprego já era de
7,7%. O maior índice registrado,
desde que o IBGE começou a pesquisa, em 82, foi em novembro de
99, quando chegou a 8%.
As taxas crescentes de desemprego não resultam apenas do fechamento de postos de trabalho.
O problema é que o aumento das
ocupações não tem acompanhado a necessidade de abertura de
vagas para as pessoas que chegam
ao mercado de trabalho.
"Com isso, temos visto o crescimento do emprego informal e
temporário. Os encargos trabalhistas continuam muito elevados
e esse é mais um fator de desestímulo para o surgimento de novas
vagas", diz o diretor do Ibre-FGV
(Instituto Brasileiro de Economia
da Fundação Getúlio Vargas),
Antônio Carlos Porto Gonçalves.
Entre 87 e 90, houve uma recuperação do emprego formal, após
as altas taxas, no mesmo nível das
mais recentes, registradas em 83 e
84. "O governo FHC não conseguiu chegar ao fim com uma recuperação do emprego. Pelo contrário, os últimos dados mostram
o percentual de desocupados
crescendo", diz Gonçalves.
Baixo investimento
A atuação do governo FHC no
que se refere a políticas de emprego foi considerada insuficiente na
avaliação de analistas do setor.
Trabalho apresentado recentemente pelo economista e secretário do Desenvolvimento, Trabalho e Solidariedade da prefeitura
de São Paulo, Marcio Pochmann,
mostra que os gastos do governo
não acompanharam a explosão
do desemprego entre 95 e 2000.
Segundo o estudo -chamado
"Desemprego e políticas de emprego no Brasil: o que precisa
avançar"-, enquanto o desemprego cresceu 155% entre 95 e
2000, segundo pesquisa do IBGE,
o volume de recursos para geração de emprego e assistência aos
desempregados aumentou apenas 64,7%. Para Santos, o governo
investiu pouco e de forma equivocada. "O governo deveria ter se
preocupado mais com a criação
de frentes de trabalho do que apenas em qualificar a mão-de-obra
desempregada. O que temos hoje
são pessoas mais qualificadas que
seguem desocupadas."
Crescimento estagnado
O processo de desaceleração da
economia brasileira persiste desde, pelo menos, o segundo trimestre do ano passado. O primeiro semestre deste ano foi especialmente desanimador. O PIB registrou crescimento de apenas
0,14%. Para o ano, as estimativas
são de que o crescimento da economia fique em torno de 1,5%. "O
governo FHC não conseguiu fazer
o país crescer da forma necessária
para poder propiciar uma melhora em pontos fundamentais como
o mercado de trabalho", diz o
professor da Unicamp.
A era FHC chega ao fim com um
crescimento médio anual do PIB
em torno de 2,5%, percentual não
muito distante do registrado durante a chamada "década perdida", nos anos 80; a renda per capita cresceu cerca de 0,9% ao ano.
Para analistas, o crescimento é pífio para o ritmo em que aumenta
a população brasileira.
"O baixo crescimento manteve
a renda per capita quase estagnada nos últimos anos. E esse último
ano de governo FHC não foi diferente", afirma Romão.
Diferentes metodologias
Pelos dados da Ped (Pesquisa de
Emprego e Desemprego), realizada pela Fundação Seade e o Dieese, o percentual de trabalhadores
desempregados é bem maior que
o registrado pelo IBGE.
Na região metropolitana de São
Paulo, por exemplo, a Ped registrou uma taxa de desemprego de
19% no mês de outubro.
O IBGE mede apenas o desemprego aberto (pessoa que trabalhava, foi demitida ou pediu demissão, procura novo emprego e
não acha). Já o levantamento do
Dieese/Seade mede também o
chamado "desemprego oculto
por desalento", que é quando a
pessoa procurou emprego nos últimos 12 meses, mas desanimou
nos últimos 30 dias, e o desemprego oculto por trabalho precário,
que se refere à pessoa que exerceu
apenas um trabalho eventual nos
últimos 30 dias. Com isso, as taxas
do IBGE, consideradas oficiais,
são menores do que as do Dieese/Seade.
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