São Paulo, domingo, 20 de maio de 2001

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A experiência urbana

PRÓXIMA BIENAL VAI ABORDAR A ICONOGRAFIA DAS GRANDES CIDADES

JULIANA MONACHESI
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Para além das fofocas em torno de que artistas a 25ª Bienal vai trazer a São Paulo ou da veracidade do projeto de instalar um club tecno na nova edição da mostra, alguns nomes cogitados pelo curador Alfons Hug dão o tom do que será vivenciado na próxima Bienal. O artista inglês Michael Landy tem um trabalho que é a menina dos olhos de Hug: uma ação artística em que levou todos os seus pertences a um lugar, colocou-os sobre uma esteira rolante que levava os objetos a uma máquina destruidora.
"Foram 5.000 itens, do passaporte até o carro, ele destruiu tudo, roupas, obra de arte, tudo o que ele tinha, mandou para essa máquina e quebrou tudo", diz Hug. "Ele antecipa a cidade condenada, a cidade em dissolução e também é um trabalho exemplar no sentido do antidesign. O grande inimigo da arte são a arquitetura e o design comerciais, que enchem o mundo e as cidades cada vez mais de objetos, quando a arte deveria purificar. E Landy faz isso, faz o perfeito antidesign na medida em que destrói os objetos."
Visões da experiência urbana nas grandes metrópoles é o que a 25ª Bienal Internacional de São Paulo vai reunir sob o tema "Iconografias Metropolitanas", que, segundo o curador responsável pela seleção dos artistas brasileiros Agnaldo Farias, consiste no "problema da metrópole visto dos mais diversos ângulos, não só iconograficamente, mas também do ponto de vista dos processos, das tensões, dos fluxos, dos elementos que a compõem em todos os seus matizes".


ARTE DO FUTURO TEM DE SER BUSCADA NA ÁSIA, ÁFRICA E AMÉRICA LATINA


METRÓPOLES
Alfons Hug escolheu 11 metrópoles e designou curadores locais para selecionar cinco artistas por cidade. Segundo ele, "a premissa da Bienal é que a modernidade foi um produto da metrópole, que foi o caso de Berlim, Moscou e Paris há cem anos, e a arte do futuro tem de ser buscada cada vez mais nas metrópoles da Ásia, da África e da América Latina, pois é onde transcorrem os grandes dramas urbanos e se experimentam novas formas de convívio humano".
As metrópoles escolhidas e seus curadores locais são Berlim (o próprio Hug), Caracas (Elida Salazar), Londres (Andrea Rose), Moscou (Viktor Misiano), Nova York (Julian Zugazagoitia), Pequim (Hou Hanru), São Paulo (Agnaldo Farias) e Tóquio (Fumio Nanjo). Ainda não estão definidos os curadores de Johannesburgo, Istambul e Sydney.
A 25ª Bienal vai manter as representações nacionais e, para tanto, o curador está em contato também com comissários de 50 países, que têm autonomia na escolha dos artistas, mas com quem Hug tem negociado para que escolham nomes que caibam no conceito da exposição.
Alguns dos representantes nacionais já estão definidos. A Colômbia escolheu Luis Fernando Peláez, a Venezuela indicou Carlos Cruz-Diez, artista cinético que fez muitos trabalhos com arquitetura em espaços públicos. Boris Mikhailov, artista designado pela Rússia, faz retratos da "ruína humana", fotografando bêbados de Moscou.
Entre os selecionados das metrópoles estão os alemães Katharina Grosse, Franz Ackermann, Frank Thiel, por Berlim. De Nova York, vêm Vanessa Beecroft, Mathew Barney, Jeff Koons (pinturas), Jason Rhoades, que faz estruturas de ferro com as quais enche um prédio inteiro e, possivelmente, Sarah Sze. De Londres foram convidados Michael Landy, Sarah Lucas e Chris Ofili. De Tóquio, Mariko Mori. De Caracas, Alexander Apostol está confirmado: são fotos com intervenção digital em que "retira" dos prédios da capital venezuelana as portas e janelas, evidenciando uma cidade em estado de sítio.
Agnaldo Farias também já está contatando alguns artistas e pedindo a eles que encaminhem projetos. Apesar do projeto da Bienal prever a seleção de cinco artistas de São Paulo, a intenção do curador brasileiro é fazer um mapeamento mais abrangente, convidando cerca de 20 artistas não apenas do eixo Rio-São Paulo. "Acho que a idéia é a metrópole no Brasil, então vai ter gente também de Recife, Fortaleza, Porto Alegre, Belo Horizonte, Curitiba", diz.
Sem citar nomes, Farias adianta que suas escolhas recaem sobre "vozes inventivas, nada convencionais. Em geral, trabalhos que não estão em galerias ou que têm uma inserção algo complicada em galerias por não ser muito vendáveis e pesquisas que são realmente outsiders".
Proveniente da arquitetura, o curador tem uma visão alargada do que pode ser entendido como arte das metrópoles, que vai de obras que discutem o envolvimento das pessoas na malha urbana, como o trabalho de Maurício Dias e Walter Riedweg apresentado na Bienal de 1998 ("Os Raimundos, os Severinos e os Franciscos"), até a concretude e o gosto pela matéria e pela colocação dela no espaço que tem o trabalho do Carlos Fajardo.
Apesar do aparente engajamento com a produção mais estabelecida, Farias deixa claro que não tem adesão a um grupo de artistas: "Eu acho que o curador fala do que interessa a ele, mas ele tem de ter uma abertura. Se faz sentido, se é pertinente e se tem vigor, então eu estou interessado em ouvir o que artista tem a dizer".


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