São Paulo, domingo, 20 de setembro de 1998

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Família tradicional cede espaço


Não há mais só um tipo de organização da família; o clássico pai com a mãe e os filhos hoje cedeu espaço para formas heterogêneas


JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
da Reportagem Local

A família brasileira da virada do século não é una, mas múltipla. Transformações sociais e culturais que se processaram nas últimas décadas reacomodaram as maneiras como as pessoas costumam se agrupar sob um mesmo teto.
A fórmula tradicional, de pais e filhos morando na mesma casa, embora ainda seja a majoritária, deixou de ser o modelo único. Cada vez mais, como ressalta a diretora do Núcleo de Estudos da População da Unicamp, Maria Coleta de Oliveira, a família é uma instituição multifacetada, que assume organizações diferentes.
Na prática, existem pelo menos mais quatro grupos familiares com peso significativo na sociedade: os casados sem filhos, os solteiros com filhos, os solteiros com filhos que moram com os pais e os separados ou viúvos com filhos.
A pesquisa também procurou destacar, num grupo separado, a opinião e os valores dos filhos solteiros que moram com seus pais, que tanto podem ser solteiros, casados, separados ou viúvos.
Essas variantes não resultam de uma mera combinação matemática, sem maiores consequências para o cotidiano dos envolvidos. Ao contrário, as múltiplas organizações familiares implicam hábitos e uma qualidade de relacionamento diferenciados para as pessoas, como se verá a seguir.
Além desses grupos, existem aqueles que não moram com a família, mas vivem sozinhos ou na companhia de outras pessoas.

Perfis

Na população com 16 anos ou mais, universo estudado pelo Datafolha, 38% são casais que moram com suas crianças ou adolescentes. Esses pais e mães somam cerca de 37,9 milhões de pessoas.
A segunda maior fatia da população pesquisada é formada por brasileiros que ainda moram com ambos os pais (16%), só com a mãe (7%) ou, em menor grau, apenas com o pai (1%). Juntos, chegam a 23,3 milhões de pessoas.
Esse contingente, preponderantemente masculino, tende a aumentar. Os jovens demoram cada vez mais para se emancipar, seja em razão das dificuldades para ingressar no mercado de trabalho e ter sua própria renda, seja porque estão se casando mais tarde.
O terceiro maior grupo é formado por aqueles que moram com pessoas que não são um cônjuge, seus pais nem seus filhos. Representa 11% (10,4 milhões) do total.
A seguir, aparecem os solitários e os casados sem filhos, ambos representando 9% da população pesquisada. Cada grupo desses abrange pouco mais de 9 milhões.
Os separados ou viúvos que vivem com os filhos são cerca de 6,1 milhões (6% da população). É outro grupo em crescimento, fruto do envelhecimento populacional e do aumento das separações.
Também é um segmento com maior presença feminina. Por um lado, as mulheres têm, na média, uma vida mais longa do que os homens e, portanto, têm mais chances de enviuvar. Por outro, depois da separação ou da perda do cônjuge, os homens tendem mais a se casar novamente do que as mulheres. Há duas razões para isso: com mais frequência as mulheres não querem repetir a experiência, e o "mercado matrimonial" é mais favorável ao homem.
A "pirâmide da solidão", teoria da demógrafa Elza Berquó, está estruturada de modo que os homens tendem a se relacionar com mulheres da mesma idade ou mais jovens, enquanto ocorre o oposto com o lado feminino.
A consequência é que, com o passar dos anos, as possibilidades de arrumar um parceiro tendem a aumentar para o lado masculino, mas diminuem para as mulheres.
Finalmente, há os solteiros que moram com os filhos, e os solteiros que vivem com os filhos e os próprios pais. Ambos os estratos representam 2% da população.
São formados quase exclusivamente por mulheres, que, somadas, chegam a cerca de 3,3 milhões. Esses grupos têm a mesma origem: um relacionamento iniciado quando a mulher era muito jovem e que terminou logo, mas resultou em um filho.
A diferença entre as solteiras que moram com os pais das que vivem só com os filhos é a idade (na média, são mais jovens) e a menor possibilidade de ter uma renda suficiente para manter a família.



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