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Vizinhas criam sozinhas filhos do mesmo pai
DANIELA FALCÃO
da Sucursal de Brasília
Marinez Alvez de Carvalho, 44, e
Alvanir Miranda, 34, têm vários
pontos em comum. Vieram da Bahia e são vizinhas no Varjão, assentamento com jeito de favela no
Lago Norte (área nobre de Brasília). São empregadas domésticas,
mães solteiras e, o que é mais improvável, superamigas, apesar de
terem filhos do mesmo homem.
Elas se vêem aos domingos,
quando Alvanir vai à casa de Marinez ajudá-la na faxina -para sair
um pouco de seu barraco, que vive
"cheio" (ela mora com o filho, os
pais, a irmã e três sobrinhos).
O namorado comum das duas
foi o piauiense João Braz, pai de
Marília, 9 (filha de Marinez), e de
João Vítor, 4 (filho de Alvanir). Ele
não dá pensão a nenhuma delas,
porque "tem mudado de emprego várias vezes", já engravidou
outras três mulheres e "enfrenta
dificuldades financeiras".
O piauiense abandonou Marinez
quando sua filha tinha apenas dois
meses, mudando-se para a casa da
vizinha. "Na época, fiquei com
ódio dos dois, mas já passou", diz
Marinez. Hoje, até João foi perdoado. Ele vive a 200 metros da casa de Marinez, raramente vê a filha, mas volta e meia aparece "para saber como vão as coisas".
As duas sustentam seus filhos
sozinhas e reclamam da desobediência das crianças. "A Marília é
teimosa demais, não me respeita,
só faz o que quer. Ela só tem medo
de duas pessoas: do pai e de dona
Maria Luiza, minha patroa", diz.
A menina não quer ir ao catecismo, se recusa a ajudar a arrumar a
casa e troca de roupa várias vezes,
ignorando os pedidos da mãe para
não sujar tanta roupa.
Alvanir também acha difícil educar João Vítor sem o pai. Quando
engravidou, não estava mais vivendo com João, mas mesmo assim decidiu ter a criança: "Sempre quis ter um filho. Sabia que o
João não ia ajudar, mas fiquei feliz
de engravidar. Perdi o emprego na
época e cheguei a passar fome. Tive problemas de saúde e passei os
últimos dois meses da gravidez no
hospital. Mas não me arrependo".
João Vítor e Marília ignoram o
parentesco. Quando Alvanir visita
a amiga, o menino brinca com Josemar, 3, caçula de Marinez, que
tem outra filha de 23 anos (os três
de pais diferentes). "Esses meninos juntos são um inferno. Não sei
qual dos dois é mais danado", diz
Marinez, enquanto lava o chão.
Brincam de polícia-bandido, rolam no chão, por fim brigam. Mas,
na hora de ir embora, Josemar
chora porque não pode ir junto.
"É sempre assim", diz Marinez.
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