São Paulo, domingo, 20 de setembro de 1998

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Vizinhas criam sozinhas filhos do mesmo pai

DANIELA FALCÃO
da Sucursal de Brasília

Marinez Alvez de Carvalho, 44, e Alvanir Miranda, 34, têm vários pontos em comum. Vieram da Bahia e são vizinhas no Varjão, assentamento com jeito de favela no Lago Norte (área nobre de Brasília). São empregadas domésticas, mães solteiras e, o que é mais improvável, superamigas, apesar de terem filhos do mesmo homem.
Elas se vêem aos domingos, quando Alvanir vai à casa de Marinez ajudá-la na faxina -para sair um pouco de seu barraco, que vive "cheio" (ela mora com o filho, os pais, a irmã e três sobrinhos).
O namorado comum das duas foi o piauiense João Braz, pai de Marília, 9 (filha de Marinez), e de João Vítor, 4 (filho de Alvanir). Ele não dá pensão a nenhuma delas, porque "tem mudado de emprego várias vezes", já engravidou outras três mulheres e "enfrenta dificuldades financeiras".
O piauiense abandonou Marinez quando sua filha tinha apenas dois meses, mudando-se para a casa da vizinha. "Na época, fiquei com ódio dos dois, mas já passou", diz Marinez. Hoje, até João foi perdoado. Ele vive a 200 metros da casa de Marinez, raramente vê a filha, mas volta e meia aparece "para saber como vão as coisas".
As duas sustentam seus filhos sozinhas e reclamam da desobediência das crianças. "A Marília é teimosa demais, não me respeita, só faz o que quer. Ela só tem medo de duas pessoas: do pai e de dona Maria Luiza, minha patroa", diz.
A menina não quer ir ao catecismo, se recusa a ajudar a arrumar a casa e troca de roupa várias vezes, ignorando os pedidos da mãe para não sujar tanta roupa.
Alvanir também acha difícil educar João Vítor sem o pai. Quando engravidou, não estava mais vivendo com João, mas mesmo assim decidiu ter a criança: "Sempre quis ter um filho. Sabia que o João não ia ajudar, mas fiquei feliz de engravidar. Perdi o emprego na época e cheguei a passar fome. Tive problemas de saúde e passei os últimos dois meses da gravidez no hospital. Mas não me arrependo".
João Vítor e Marília ignoram o parentesco. Quando Alvanir visita a amiga, o menino brinca com Josemar, 3, caçula de Marinez, que tem outra filha de 23 anos (os três de pais diferentes). "Esses meninos juntos são um inferno. Não sei qual dos dois é mais danado", diz Marinez, enquanto lava o chão.
Brincam de polícia-bandido, rolam no chão, por fim brigam. Mas, na hora de ir embora, Josemar chora porque não pode ir junto. "É sempre assim", diz Marinez.



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