São Paulo, quinta-feira, 20 de dezembro de 2001

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Quem estudou menos de quatros anos pode até ter aprendido a escrever o nome, mas não consegue redigir um bilhete

Editoria de Arte/Folha Imagem

Analfabeto funcional chefia 34,7% das famílias do país

FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA SUCURSAL DO RIO

A renda das pessoas responsáveis pelos domicílios aumentou, mas uma em cada três famílias brasileiras ainda é comandada por um analfabeto funcional: 34,7% dos responsáveis pelos domicílios não conseguem interpretar uma conta de IPTU ou ajudar os filhos nas tarefas escolares. É considerado analfabeto funcional quem estudou menos de quatro anos. Essa pessoa pode até ter aprendido a escrever o nome, mas não consegue redigir um bilhete ou interpretar um texto. Em 1991, 43,5% dos responsáveis pelos domicílios tinham no máximo três anos de estudo. O analfabetismo funcional é um problema que interfere diretamente na obtenção do emprego e no nível de rendimento -e, portanto, na condição de bem-estar da família. Dos responsáveis por domicílios, 16,2% não têm instrução ou só estudaram um ano, e 18,5% têm de um a três anos de estudo. Apenas 21,6% têm 11 anos de estudo (tempo necessário para concluir o ensino médio) ou mais.
De 1991 para 2000, a taxa de analfabetismo entre os responsáveis pelos domicílios teve redução (de 23,8% para 17,2%), mas ainda há 8 milhões de famílias comandadas por analfabetos.
Em todo o país, a escolaridade do responsável pela família melhorou. A média de anos de estudo subiu de 4,8 em 1991 para 5,7 em 2000 -ou seja, o responsável pela família não concluiu, na média, nem mesmo o ensino fundamental. Entre as unidades da federação, o Distrito Federal tem a maior escolaridade do responsável pelo domicílio: 8,2 anos de estudo. Os piores índices estão no Piauí (3,5 anos). Entre os municípios, Niterói (RJ) e Florianópolis (SC) têm médias de 9,7 e 9,6 anos de estudo.
A renda média do responsável pelo domicílio é R$ 769 -um aumento de 41,9% em relação aos R$ 542 de 1991 (em valores atualizados, já que a moeda da época era o cruzeiro). A melhora nos indicadores de rendimento não esconde, porém, que a desigualdade é a marca da distribuição de renda no Brasil. Metade dos responsáveis pelos domicílios -22,3 milhões de pessoas- ganha menos de R$ 350 (rendimento mediano). "O aumento no rendimento do responsável reflete a economia do país. Em 1991, o Brasil estava em crise depois do Plano Collor. O rendimento subiu em 1993 e 1994, com o Plano Real, e voltou a cair nos últimos dois anos", diz Vandeli Guerra, consultora do IBGE. Enquanto o rendimento mediano mostra o valor do meio (metade da população ganha mais, metade ganha menos), o rendimento médio, calculado por média aritmética simples, é influenciado pelos valores mais altos.


A renda média do responsável pelo domicílio é R$ 769. Houve um aumento de 41,9% em relação aos R$ 542 de renda média registrados em 1991


A concentração de renda dos responsáveis pelas famílias caiu: 0,609, pelo índice de Gini (indicador internacional que varia de zero a 1 -quanto mais alto o índice, maior a concentração de renda). Em 1991, o índice era 0,637.
Um em cada quatro domicílios tem como responsável alguém na faixa etária de 30 a 39 anos. Em relação a 1991, caiu o número de responsáveis nas faixas etárias mais jovens. Mas ainda há um grupo especialmente vulnerável: 12.589 domicílios têm como responsáveis crianças de 10 a 14 anos.



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