São Paulo, domingo, 21 de fevereiro de 2010

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Entre o armário e o preconceito

Só 2% dos brasileiros se declaram homossexuais; estudos mostram que esse grupo já representa até 12% da população mundial

JULIO WIZIACK
DA REPORTAGEM LOCAL

Sair do armário ainda é uma fronteira a ser rompida pelos gays. Até mesmo nos grandes centros urbanos, onde a homossexualidade perde sua carga negativa mais rapidamente, homens e mulheres pensam duas vezes antes de assumir-se abertamente.
"Por mais que o ambiente seja favorável, os gays ainda sentem o peso de décadas de preconceito", diz a psicóloga Adriana Nunan, autora de ""Homossexualidade: do Preconceito aos Padrões de Consumo".
Isso ajuda a entender porque somente 2% dos 1.888 entrevistados pelo Datafolha declararam-se gays. A pesquisa foi realizada em 125 municípios de 25 Estados com homens e mulheres entre 18 e 60 anos e tem margem de erro de 2%. Estudos internacionais indicam que, na média, a população gay varia de 7% a 12% do total.
Ficar no armário é a estratégia de sobrevivência da maioria dos gays. Quando se descobrem diferentes, eles costumam isolar-se da família e, muitas vezes, passam a representar um papel ""heterossexual". É o que afirma o psicólogo Claudio Picazio. Nesses casos, a independência financeira é um fator muito importante. Por isso, o trabalho se torna uma das fronteiras mais intransponíveis. Assumir-se na empresa pode colocar em risco sua própria sobrevivência. ""Na família, por mais difícil que seja, existe a crença do amor incondicional entre pais e filhos", diz Picazio.
Especialista em informática, Fabrício Viana, 33, passou por esses conflitos. Ainda morando com os pais, a mãe perguntou se ele era gay. ""Tinha uns 18 anos e estava com um amigo em casa antes de irmos para uma balada. Respondi na hora que sim e saí", diz. ""Ela passou seis meses em depressão. Depois foi a vez do meu pai, mas ele parece ter lidado melhor com a notícia."
Aos poucos, ele foi se abrindo no trabalho, numa seguradora em São Paulo, e encontrou as pessoas certas para revelar seu ""segredo". ""Percebi que usar o humor contra o machismo que é, na minha opinião, um dos principais motivos da homofobia, foi uma boa estratégia", diz.


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