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Entre o armário e o preconceito
Só 2% dos brasileiros se declaram homossexuais; estudos mostram que esse grupo
já representa até 12% da população mundial
JULIO WIZIACK
DA REPORTAGEM LOCAL
Sair do armário ainda é uma
fronteira a ser rompida pelos
gays. Até mesmo nos grandes
centros urbanos, onde a homossexualidade perde sua carga negativa mais rapidamente,
homens e mulheres pensam
duas vezes antes de assumir-se
abertamente.
"Por mais que o ambiente seja favorável, os gays ainda sentem o peso de décadas de preconceito", diz a psicóloga
Adriana Nunan, autora de ""Homossexualidade: do Preconceito aos Padrões de Consumo".
Isso ajuda a entender porque
somente 2% dos 1.888 entrevistados pelo Datafolha declararam-se gays. A pesquisa foi realizada em 125 municípios de 25
Estados com homens e mulheres entre 18 e 60 anos e tem
margem de erro de 2%. Estudos
internacionais indicam que, na
média, a população gay varia de
7% a 12% do total.
Ficar no armário é a estratégia de sobrevivência da maioria
dos gays. Quando se descobrem
diferentes, eles costumam isolar-se da família e, muitas vezes, passam a representar um
papel ""heterossexual". É o que
afirma o psicólogo Claudio Picazio. Nesses casos, a independência financeira é um fator
muito importante. Por isso, o
trabalho se torna uma das fronteiras mais intransponíveis. Assumir-se na empresa pode colocar em risco sua própria sobrevivência. ""Na família, por
mais difícil que seja, existe a
crença do amor incondicional
entre pais e filhos", diz Picazio.
Especialista em informática,
Fabrício Viana, 33, passou por
esses conflitos. Ainda morando
com os pais, a mãe perguntou
se ele era gay. ""Tinha uns 18
anos e estava com um amigo
em casa antes de irmos para
uma balada. Respondi na hora
que sim e saí", diz. ""Ela passou
seis meses em depressão. Depois foi a vez do meu pai, mas
ele parece ter lidado melhor
com a notícia."
Aos poucos, ele foi se abrindo
no trabalho, numa seguradora
em São Paulo, e encontrou as
pessoas certas para revelar seu
""segredo". ""Percebi que usar o
humor contra o machismo que
é, na minha opinião, um dos
principais motivos da homofobia, foi uma boa estratégia", diz.
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