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JOSUÉ
"Minha vida mudou tudo para melhor"
FERNANDA DA ESCÓSSIA
da Sucursal do Rio
Ele era um garoto brasileiro igual
a muitos outros, de família pobre e
fugido da escola pública na terceira série.
Aos 8 anos de idade, começou a
trabalhar como engraxate no aeroporto Santos Dumont (centro do
Rio) para ajudar a mãe, balconista
de lanchonete.
Foi ali que sua vida começou a
mudar, em 1996, quando pediu a
um homem que passava pelo aeroporto dinheiro para um sanduíche
e ofereceu "uma graxinha aí".
O engraxate Vinícius (Campos)
de Oliveira não sabia, mas o homem era o cineasta Walter Salles,
que procurava um ator infantil para viver o órfão Josué em seu novo
filme, um tal "Central do Brasil".
Três garotos haviam sido selecionados e já estavam filmando.
"Ele disse que gostou de mim por
causa dos meus olhos. Aí me chamou para fazer o teste. Achei fácil",
diz Vinícius, 12. Quem viu o filme
se lembra dos olhos escuros e tristes do garoto.
Três anos depois de ter emprestado seus olhos a Josué, Vinícius
sabe que o filme mudou a sua vida
e a de sua família -e diz que "mudou tudo para melhor".
Hoje Vinícius cursa a quinta série numa escola particular, cuja
mensalidade custa R$ 400. Ganhou
também uma bolsa para aprender
inglês. A produtora de Salles paga
todos os gastos do menino com
educação.
O cineasta já se comprometeu a
financiar os estudos de Vinícius
até a universidade.
Filho de pais separados, Vinícius
nasceu e cresceu em Bonsucesso
(subúrbio da zona norte do Rio).
Depois do filme, mudou-se com a
mãe e os três irmãos para um prédio no Grajaú (bairro de classe média na zona norte). O aluguel e o
condomínio são pagos pela produtora.
Os dois irmãos maiores foram
encaminhados a uma escola pública das mais prestigiadas do Rio,
com cursos profissionalizantes. A
mãe deverá voltar a trabalhar, numa farmácia homeopática.
Vinícius ganhou uma professora
particular e assessora em tempo
integral, Anna Paula Meirelles
-que odeia quando a chamam de
babá de luxo. Anna Paula foi contratada para dar aulas ao garoto e
hoje o acompanha em todos os
compromissos.
"Eu o acompanho porque a mãe
dele tem uma filhinha pequena e
odeia avião. Quanto ao fato de ele e
os irmãos terem uma educação diferenciada, acho que isso é uma
consequência natural", afirma.
Torcedor do Flamengo, fã de Romário e dono de um quarto todo
vermelho e preto, Vinícius queria
ser jogador de futebol. Numa pelada nas férias, quebrou os cinco dedos do pé esquerdo.
Agora quer se afirmar como ator.
Apresenta programas no canal Futura, de TV por assinatura, e estreou na novela "Suave Veneno",
da Globo, onde contracena com
Glória Pires.
Planeja participar de um curta-metragem e de um filme produzido por Luiz Carlos Barreto -que
ele chama de "Barretão", "porque
todo mundo chama".
Desde que se juntou à trupe de
"Central", Vinícius conheceu seis
países. Na terça-feira, embarcou
para os EUA -de pé no gesso- e
sonhando rever em Los Angeles
astros que conheceu na festa de entrega do Globo de Ouro -Jack Nicholson, John Travolta, que lhe
deu tchauzinho, e Sharon Stone,
"linda, linda".
Vinícius sonha também com o
Oscar. Ele viu "A Vida É Bela",
concorrente do filme brasileiro, e
gostou. Está convicto, porém, de
que "Central" e Fernanda Montenegro vão vencer.
"Sei que conseguimos muitas vitórias, mas vou torcer muito", diz,
tentando conter o entusiasmo.
Não sem motivo: hoje, o garoto
pobre que nunca tinha ido ao cinema nem saído do Rio, estará assistindo, de smoking, à cerimônia de
entrega do Oscar.
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