São Paulo, sexta-feira, 21 de setembro de 2001

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PRONUNCIAMENTO

Bush promete destruir terrorismo

Em discurso no Congresso, presidente tenta manter o país mobilizado e ameaça o Taleban

Associated Press
O presidente Bush segura crachá de bombeiros em discurso no Congresso


MARCIO AITH
DE WASHINGTON

Num discurso emocionado ao Congresso norte-americano, o presidente George W. Bush pediu paciência à população e atacou duramente o grupo extremista islâmico Taleban, que controla o Afeganistão e se nega a entregar aos EUA o terrorista saudita Osama bin Laden, principal suspeito de cometer os atentados do último dia 11, que podem ter matado mais de 6.000 pessoas.
Usando palavras que pareciam antecipar um ataque militar contra a liderança do Taleban, Bush acusou o grupo de cometer assassinatos e exigiu não só a entrega de Bin Laden como também a abertura das fronteiras para que os EUA comprovem o fechamento de bases de treinamento terroristas. "Fechem permanentemente os campos de treinamento e entreguem todos os terroristas para as autoridades apropriadas", exigiu Bush. "Essas exigências não estão abertas a negociações ou discussões."
Foi um pronunciamento de 30 minutos, muito aplaudido, que procurou prolongar o apoio político maciço que o presidente acumula desde os atentados contra Nova York e o Pentágono.
O discurso conciliou elementos emocionais e bélicos. "Somos um país despertado pelo perigo e convocado a defender a liberdade."
Bush alertou as Forças Armadas a ficarem de prontidão -"já se aproxima a hora de entrar em ação"- e prometeu acabar com todos os terroristas em escala global, "trazendo (os terroristas) à Justiça ou levando a Justiça aos terroristas".
O discurso foi cercado de medidas extremas de segurança que refletem a vulnerabilidade da população e das autoridades.
Um exemplo foi a decisão de manter o vice-presidente Dick Cheney ausente do Congresso (que preside) para evitar que um novo ato de terrorismo ameaçasse, ao mesmo tempo, a vida dos dois primeiros homens na linha de comando.
No discurso, Bush anunciou a criação do Escritório de Segurança Interna, que será comandado pelo governador da Pensilvânia, o republicano Tom Ridge.
O presidente carregava um crachá que lhe foi dado por um dos bombeiros mortos no desabamento das duas torres do World Trade Center em Nova York. Além disso, levou ao Congresso a mulher de um dos passageiros que teriam reagido aos sequestradores do vôo 93 da United Airlines que caiu no Estado da Pensilvânia.
Bush pressionou novamente os demais países a escolher um dos dois lados na batalha contra o terrorismo internacional: "Ou você está conosco ou está com os terroristas". Segundo ele, a Casa Branca não poupará esforços militares e "influência financeira" para vencer o terrorismo. "Dirigiremos todos os recursos à nossa disposição - todos os meios diplomáticos, todos os instrumentos de inteligência, todos os instrumentos legais, toda influência financeira e todas as armas de guerra necessárias- para desmanchar e derrotar a rede de terror global."
Embora os EUA tenham declarado guerra contra um inimigo ainda invisível, a imprensa americana já confrontava ontem a importância de sua fala ao discurso de Franklin Roosevelt um dia depois do ataque japonês a Pearl Harbor, em 1941, e à do de seu próprio pai antes e durante os bombardeios contra o Iraque na Guerra do Golfo, em 1991. Numa comparação sutil entre o momento de incerteza atual e o que se seguiu ao ataque a Pearl Harbor, Bush disse ontem que "a liberdade e o medo estão em guerra" e os EUA têm o dever de combatê-la.
O presidente esforçou-se para mostrar aos norte-americanos que os EUA ingressaram numa guerra não tradicional e que o inimigo, embora invisível, deve ser combatido como numa guerra.
"Não fomos os únicos atacados, mas também o mundo civilizado", disse. Para Bush, os EUA vencerão os terroristas porque já "vencemos o nazismo, o fascismo e todas as formas de totalitarismo". Para um presidente eleito nas circunstâncias mais polêmicas do último século, o discurso de Bush pode ter sido o mais importante de seu mandato.
Segundo Denise Bostdorff, especialista em retórica presidencial da Universidade Purdue, presidentes dos EUA discursam no Congresso em tempos de guerra para mobilizar os militares e estimular o patriotismo. Em 1941, Roosevelt disse que "avançaria sem parar até a vitória absoluta". Ao anunciar o ingresso dos EUA na 1ª Guerra Mundial, o presidente Woodrow Wilson disse que faria "o mundo mais seguro". George Bush, pai do atual presidente, prometeu há dez anos que entrava em guerra contra o Iraque para conquistar "uma nova ordem mundial e paz".


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