São Paulo, Quinta-feira, 22 de Abril de 1999
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IMAGEM

Alegre, bonito por natureza e meio preguiçoso

do enviado especial a Lisboa

Praias, natureza, sol, telenovelas e Carnaval são os elementos que ocorrem de imediato aos portugueses quando pensam no Brasil.
A visão do exuberante paraíso tropical não deixa de estar relacionada com a tradição das narrativas de visitantes europeus desde o descobrimento. Não deixa de estar vinculada, também, ao estereótipo turístico brasileiro difundido no mundo. Mas, em Portugal, há um dado a mais: telenovelas brasileiras fazem sucesso por lá. E, de "Gabriela" (76) às mais recentes, há sempre as paisagens de cartão-postal do Rio e do Nordeste.
"Penso logo no futebol e nas praias", diz o estudante João Pedro Duarte, 17, sobre a primeira imagem que o Brasil desperta. "E também nas mulheres de fio dental", acrescenta. "Nunca visitei, mas vejo na televisão."
O país tropical é o mais mencionado em todas as faixas etárias, de renda e de escolaridade. Somadas as menções às praias e ao sol, ela é mais forte entre as mulheres (37%), os mais jovens (48%), os que têm até o segundo grau (44%) e os de renda intermediária (37%).
Para o presidente Fernando Henrique Cardoso, os portugueses têm em mente um clichê. "É um clichê positivo. O Brasil tem um bom clichê fora do Brasil", diz.
Ao menos entre os portugueses, é verdade: a percepção de um Brasil marcado pela pobreza e desigualdade social (4%) é minoritária, diferentemente do que parece acontecer em outros países, com menos dados positivos a respeito do país, e mais sensíveis à imagem de um lugar violento e miserável.

Descobrimento e bacalhau
Os moradores do Rio, por sua vez, dizem que a primeira idéia que vem à cabeça quando se fala em Portugal é o descobrimento/colonização (13%). A seguir, vem o fato de ser um "bom país" (6%) e, em terceiro lugar, o bacalhau (4%).
As referências que os brasileiros têm de Portugal são mais precárias do que as dos portugueses em relação ao Brasil. Diferentemente dos lisboetas, que responderam "não sei" em só 4% das entrevistas, 19% dos ouvidos no Rio não souberam relacionar nada a Portugal.
Quando a pergunta volta-se para a imagem que os portugueses têm do povo brasileiro, as principais qualidades citadas são a alegria (32%) e a cordialidade (19%). O principal defeito? O principal é a preguiça (12%). A conhecida vocação tropical para os subterfúgios e a informalidade vem a seguir: 11% pensam nos brasileiros como mentirosos e 4% como abusados.
Em termos gerais, os portugueses vêem mais qualidades do que defeitos nos brasileiros. Enquanto 10% não souberam apontar uma virtude, 29% não se lembraram de uma característica negativa.
Apesar do alto grau de desconhecimento revelado, também os brasileiros vêem Portugal de forma positiva, imagem que aparece em citações como "país excelente" (6%) e "desenvolvimento" (3%).
Em relação ao povo português, os moradores do Rio vêem no trabalho sua principal qualidade, com 26% das menções.
No Rio, 32% não souberam apontar um defeito dos portugueses. O mais citado foi a avareza: 19% acham que eles são "pães-duros". A imagem de burrice e ignorância, tão consagrada no anedotário, teve 5% de citações.
Abstratamente, 24% dos cariocas disseram que gostariam de morar em Portugal, índice quase idêntico (25%) ao dos lisboetas que têm desejo de morar no Brasil.
A pesquisa revela ainda que a noção de "países irmãos", que sempre marcou a retórica oficialista dos dois governos, não parece ter maior eco na população. A percepção do outro país como uma segunda pátria foi citada por apenas 1% dos cariocas e não surgiu entre os lisboetas. (MAG)


Colaborou Clóvis Rossi, do Conselho Editorial


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