São Paulo, Quinta-feira, 22 de Abril de 1999
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Passividade marca auto-imagem lá e cá

da Sucursal do Rio

Muitas coisas unem brasileiros e portugueses -uma delas, segundo a pesquisa Datafolha, é o fato de que ambos têm de si próprios uma imagem de passividade.
Os brasileiros apontam a alegria e o bom humor como suas maiores virtudes (14%), enquanto os portugueses vêem a si mesmos como amáveis e sociáveis (33%).
Mas, na hora de apontar seus defeitos, os brasileiros (23%) dizem que é "aceitar tudo, concordar com tudo" (23%), e os portugueses afirmam ser a "passividade e o conformismo" (11%).
Portugueses com quem a Folha conversou em Lisboa tendem a relacionar essa auto-imagem de povos passivos com os efeitos causados pelas ditaduras que marcaram os dois países.
O grau de participação política, de organização social e de cobrança de direitos -a chamada cidadania- ainda seria considerado insatisfatório lá e cá.
"Eu não sei se a ditadura tem algo a ver com isso ou se essa imagem é fruto da sociedade de massas muito rapidamente introduzida no Brasil", diz o presidente e sociólogo Fernando Henrique Cardoso: "Essa rapidez cria a idéia de uma sociedade cujas organizações não são suficientes para expressar tudo o que se quer".
Para a historiadora e professora de história da UFF (Universidade Federal Fluminense) Hebe Maria Mattos, o principal aspecto negativo, no caso da auto-imagem dos brasileiros (aceitar tudo), acabaria sendo também a principal qualidade, quando são somadas características afins, como generosidade e bondade (13%), simpatia e cordialidade (10%), passividade e resignação (6%), paciência e tolerância (4%).
Em sua opinião, a idéia de passividade estaria associada aos traços da cordialidade -como se essa aparecesse com sinal trocado na hora de nomear o defeito.
Quando questionados sobre a primeira coisa que lhes vem à cabeça ao pensar em seu próprio país, os brasileiros enumeram um conjunto de referências negativas que, juntas, somam 53%.
As respostas negativas foram: crise (14%), pobreza e miséria (9%), precisa evoluir (6%), país mal administrado (6%), criminalidade e violência (6%), desemprego (5%), coisa ruim e porcaria (3%), tristeza (1%), país subdesenvolvido (1%), nada (1%) e, por fim, impunidade (1%).
A primeira referência positiva -"um país bom, maravilhoso"- foi citada por 6% dos entrevistados. "A visão que o brasileiro tem do país é negativa, ainda que seja sempre associada a fatores socioeconômicos, como a crise e a miséria", diz a historiadora Maria do Carmo Teixeira Rainho, do Rio.
Sua colega Hebe Maria Mattos vê, além de pessimismo, o que chama de "presentismo": a pouca associação do nome do país a características mais permanentes e tradicionalmente ligadas à imagem brasileira, em detrimento de noções conjunturais, como crise e desemprego.
"Essas referências mais permanentes aparecem, no entanto, na imagem que os portugueses têm do Brasil, como a valorização das riquezas naturais, da música, do futebol e do Carnaval", diz.
(MAG e FE)


Colaborou Clóvis Rossi, do Conselho Editorial


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