São Paulo, Quinta-feira, 22 de Abril de 1999
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INFLUÊNCIA
Invasão brasileira começou em 76, com "Gabriela'; neste mês, 75,5% dos portugueses que ligaram a TV trocaram seriados cômicos pelos capítulos finais de "Torre de Babel"
Novelas derrubam humor de Portugal

IVAN FINOTTI
da Reportagem Local

Se todas as novelas da Rede Globo são exibidas em Portugal, não é de estranhar que a novela seja a terceira coisa que vem à cabeça do português quando pensa em Brasil -apenas atrás das praias e do sol.
Nem é de espantar que, exibidas em horário nobre, as novelas frequentemente ocupem a maior audiência do país. No início deste mês, por exemplo, de todos os portugueses que ligaram a TV em suas casas, 75,5% sintonizaram os últimos capítulos de "Torre de Babel".
Se no Brasil as novelas perdem em audiência apenas para o "Fantástico" e o "Jornal Nacional", em Portugal elas disputam a audiência com seriados cômicos e com "Ponto de Encontro", programa que ajuda telespectadores a encontrar familiares desaparecidos.
Foi-se o tempo em que "Escrava Isaura" era sinônimo de novela de exportação. Hoje, com apenas semanas de atraso, o português já assiste "Suave Veneno", "Meu Bem Querer" e "Pecado Capital".
A mudança tem data exata: 1993, quando a Rede Globo parou de vender novelas ao canal estatal RTP e se associou à recém-criada SIC, ajudando-a a se tornar líder absoluta de audiência no país (veja quadro nesta página).
Ao longo de seus 17 anos de parceria com a Rede Globo, a RTP exibiu 43 novelas -uma proporção de 2,5 ao ano. Já a SIC, apenas de 1993 para cá, mostrou 35 produções -quase 6 por ano.
Essa inundação não se limita apenas às novelas -o restante da produção do núcleo de dramaturgia da Globo é disputada a tapa pelos canais portugueses.
A SIC, por exemplo, exibe "Mulher" e "Hilda Furacão". Prepara-se para exibir outras três: "Dona Flor", "Chiquinha Gonzaga" e "Labirinto". Desde o ano passado, há ainda o canal pago GNT, da Globosat, que exibe "Malhação" e outras novelas e séries da Rede Globo.
"As novelas da Globo são as de maior audiência em Portugal. As do SBT e da Bandeirantes não funcionam tão bem. Os atores da Globo já entram na casa das famílias portuguesas, como no Brasil", diz a chefe de aquisições internacionais da TVI, Margarida Pereira.
E entram mesmo. Nada menos que 70% das famílias de renda baixa e intermediária têm grande ou médio interesse pelas novelas brasileiras. O número cai um pouco apenas entre os que tem renda familiar alta: 57%.
Para o professor aposentado Manuel José Lopes da Silva, que dirige a Associação Portuguesa dos Espectadores de TV, esse alto índice ocorre porque as novelas brasileiras correspondem mais às expectativas do público. "Além de mais sofisticadas do ponto de vista técnico, as novelas brasileiras procuram agradar a audiência. De qualquer forma, no fundo, é a mesma cultura", afirma o professor.
Outro fator é que os programas estrangeiros em Portugal não costumam ser dublados, e sim legendados. Assim, a novela brasileira já sai em vantagem.
Impossibilitada de comprar novelas da Rede Globo, Margarida Pereira tem que se contentar com novelas que, segundo ela própria, "não funcionam bem".
Estão no ar pela TVI, por exemplo, "Pérola Negra", do SBT, "Serras Azuis", da Bandeirantes. "Fascinação" (SBT) acaba de ser exibida. "Foi um sucesso. Tivemos 3 pontos de média", afirma.
Segundo Orlando Marques, diretor-geral da divisão de vendas internacionais da Globo, as maiores médias históricas de novelas em Portugal são de "Roque Santeiro", exibida em 93, e de "Rei do Gado" (97), ambas com 23 pontos.
A primeira novela exibida foi "Gabriela", em 1976, pela RTP. Foi líder de audiência por três meses, alcançando 21 pontos de média.


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