São Paulo, sábado, 22 de agosto de 1998

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Estresse contínuo lesa a memória, diz estudo

CLAUDIA ASAZU
da Equipe de Trainees

O estresse contínuo causa atrofia na parte do cérebro responsável pela memória e pelo aprendizado (o hipocampo), segundo estudo realizado no Canadá e nos EUA.
A lesão é causada pelo cortisol, hormônio liberado em momentos de tensão e que prepara a pessoa para enfrentar uma situação em que o corpo será mais exigido, como num vestibular. Um dos efeitos do cortisol é aumentar a atenção do indivíduo.
Mas a liberação prolongada do hormônio degrada os neurônios, causando a diminuição do volume do hipocampo.
O estudo, publicado na edição de abril da revista norte-americana "Nature Neuroscience", indicou que, em cinco anos, pacientes com altos níveis de cortisol no sangue sofreram uma redução de 14% do volume do hipocampo em relação aos indivíduos com níveis normais da substância.
Especialistas não conseguiram ainda determinar qual a dose de cortisol a que a pessoa deve estar exposta e qual o tempo de estresse contínuo pelo qual ela deve passar para que o cérebro seja afetado.
Sabe-se, porém, que o estresse contínuo está ligado à evolução de doenças mentais, de acordo com o psiquiatra Antônio Guerra Vieira, pesquisador do Laboratório de Investigações Médicas do Hospital das Clínicas de São Paulo.
O pesquisador aponta que fatores estressantes podem desencadear doenças como depressão, esquizofrenias e pânico. O recebimento de más notícias e situações desgastantes serviriam como "detonadores" dessas doenças se a pessoa apresentar uma predisposição biológica.
"O mal que o estresse faz depende de pessoa para pessoa. Em algumas, pode desencadear uma doença mental e, em outras, uma úlcera ou uma diarréia", diz.

Sintomas
O estresse não é considerado uma doença pela medicina, mas uma resposta do organismo a situações desgastantes.
A psicóloga Mariangela Gentil Savoia, do Ambulatório de Ansiedades (Amban), do Hospital das Clínicas de São Paulo, define estresse como uma mudança de vida que causa um desconforto e à qual a pessoa precisa se adaptar.
Os sintomas do estresse -ansiedade, tensão, angústia, insônia, hipersensibilidade emotiva- surgem quando não há adaptação a essa mudança.
Além desses sintomas, o indivíduo com estresse pode apresentar taquicardia, náusea, problemas estomacais, tensão muscular e esfriar das mãos.
A psicóloga afirma que as pessoas enfrentam, durante o dia, vários "microestressores", como o trânsito ou filas.
"Até a década de 70, se falava apenas nos grandes estressores. Só a partir de 1976 é que se colocou a importância da somatória desses microestressores", diz Savoia.
Para a psicóloga, uma pessoa pode lidar com esses fatores. "Mas, às vezes, um fator estressante a mais pode desencadear transtornos psiquiátricos", diz.
A psiquiatra Vera Tess, do Amban, fala em dois tipos de estresse. O agudo é causado por algum evento momentâneo, como assalto, estupro ou acidente. O crônico é o desconforto constante e prolongado causado, por exemplo, por desemprego ou relacionamentos afetivos insatisfatórios. Em ambos os casos, ocorre liberação do cortisol.



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